Rosemary Conceição dos Santos*
De acordo com estudiosos, Eduardo Carranza nasceu em Apiay, nas planícies orientais colombianas. Em 1939, criou, junto com outros poetas, o movimento literário conhecido como “Pedra e Céu”, de grande importância renovadora na poesia colombiana. Como diplomata, viveu no Chile e na Espanha, onde se destacou como poeta, catedrático e conferencista. Diretor da Biblioteca Nacional da Colômbia e das Bibliotecas Públicas de Bogotá, Carranza veio a falecer nesta mesma cidade, em 1985. Sobre sua obra foi dito: “A lírica de Carranza caracteriza-se por um deslumbrante dom metafórico, de origem intuitiva, através do qual cristaliza todas as coisas do mundo e do ser, em uma transparente sinfonia. Ninguém como ele possui o segredo das formas aéreas e translúcidas, sem perder algo assim como uma força profunda e poderosa que brota da terra, do amor, dos heróis, da dor, da morte, enfim, de todos os grandes temas humanos.”
Dois poemas do autor?
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INTERIOR
Os olhos que se olham
através dos anjos domésticos
da fumaça da sopa.
Na garrafa cintilante canta
o rouxinol do vinho.
Reluz e tilinta o visível
na fruta, no relógio, na porcelana.
O pão abre sua mão cereal
sobre a toalha. As flores.
Na gravura antiga toca harpa
uma jovem de mil e oitocentos.
O cigarro como que te eleva
a mão. E uma porta se entreabre
sobre a sala silenciosa e límpida:
e mais além um horto se pressente
ou talvez a recordação de um jardim.
No espelho estás já como ausente.
Por um instante se detém tudo
e escutamos, absortos, o invisível
da noite que se abre a nosso sonho.
Com o café chega um país distante.
O tempo nada pode.
Todas estas são coisas imortais.
Professora Universitária

