De acordo com especialistas, Jota Mario Arbeláez (1940 – …) é um autor colombiano que passou a infância lendo livros comprados pela avó, jogando salsa, bilhar e realizando as tarefas escolares impostas pelo Colégio Republicano de Santa Librada. Filho de alfaiate, foi nas salas de aula desta tradicional instituição californiana que o autor se rebelou contra o sistema incoerente. Suas primeiras obras, compostas entre os 15 e os 18 anos, foram poemas que o condenavam à reencarnação divina como nadaísta, movimento fundado por Gonzalo Arango. Recebendo do movimento a missão de difundir o nadaísmo em Cali, sabotando o maior ícone da literatura regional, o monumento a Jorge Isaacs no centro da cidade, a Colômbia perdia um alfaiate, mas ganhava um poeta.
Autodidata e antiacadêmico, teve sua poesia rejeitada pelos leitores surrealistas — Baudelaire, Rimbaud, Lautreamont e Verlaine — que recusaram seu aprendizado poético, por eles considerado de suprema convicção e persuasão. Com o tempo, Arbeláez tornou-se profeta e líder do movimento nadaísta, o que não o impediu de ocupar cargos importantes nas redes institucionais de poder da Colômbia. Foi assessor de imprensa de campanhas presidenciais, funcionário público na esfera cultural, jornalista, professor universitário, redentor do proibido e insurgente declarado contra os modelos literários tradicionalistas impostos em nível nacional e regional. Ainda segundo especialistas, trinta anos como nadaísta declarado lhe renderam diversos prêmios nacionais e um internacional. As campanhas presidenciais de Belisario Betancur, Álvaro Gómez e Andrés Pastrana — todos candidatos do Partido Conservador Colombiano — incluíram-no como publicitário, oportunidade que lhe permitiu transcender os limites da página em branco e da palavra escrita. Como funcionário público, atuou como Secretário de Cultura do Departamento de Cundinamarca, cargo no qual fundou 114 bandas musicais e uma orquestra sinfônica, apoiando o trabalho criativo de muitos pintores e publicando grande quantidade de livros para a região.
Sua primeira obra foi “El profeta en su casa” (1966), influenciada pelas leituras dos surrealistas. Depois vieram “El libro rojo de rojas” (1970, com Elmo Valencia); “Mi reino por este mundo” (1981), vencedor do Prêmio Nacional de Poesia da Editorial Oveja Negra e da revista Golpe de Dados; “La casa de la memoria” (1985), também premiado pelo Colcultura; “Doze poetas nadaístas dos últimos dias” (1986); “Paños menores” (1988, premiado e reeditado); “O Espírito Erótico” (1990, em parceria com Fernando Guinard); “Seu Corpo” (1999, premiado e com edições bilíngues e em francês); “Nada é para sempre – Antimemórias de un nadaísta” (2002); e “Meu Reino para este Mundo, poemas da vida” (2022/2023). Recebeu ainda o Prêmio Internacional de Poesia Ramón López Velarde (2015). Publicou também obras de outros nadaístas, como Gonzalo Arango e Darío Lemos.
Em suas próprias palavras: “Sonho com uma sociedade tão espetacular, onde ninguém deve nada a ninguém, onde as artes prevalecem sobre os pensamentos de morte e onde o amor reina novamente. (…) Meu nome é J. Mario, isso me basta, é quem eu sou. Não preciso de mais nomes, assim como não preciso de mais olhos nem pernas. Sou o melhor poeta de um país onde não pedi para nascer, mas onde não estou disposto a me deixar matar. Sou um nadaísta, e isso destrói todas as definições. Antes, eu era um menino de favela, um campeão de sinuca, um discípulo de Vargas Vila, um ídolo de lolitas e cafetões”.
Um excerto de “Nada dura para sempre”: “Chegou a hora dos assassinos”, exclamou Rimbaud. “Em meu país, chegou a guerra. Então chegou a hora dos poetas. E o que um poeta pode fazer na guerra além de não ser morto? Além de tomar notas para a futura epopeia? (…) A única coisa que lhe resta é não tomar partido, porque, seja qual for o lado que escolher, estará em desvantagem, já que nenhum dos lados está certo. Principalmente se desconhecer as razões do outro”.
Um poema do autor, “Cartão postal sem devolução”:
“Quando me pediram para apontar no mapa-múndi o lugar na terra onde eu gostaria que minha vida fosse/ será eterno/ Não consegui identificar Providencia/ nem em Camagüey/ nem em Pernambuco/ Coloquei a esfera girando enquanto pensava/ onde você estará.”

