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A Colômbia e sua Literatura (43): Eduardo Escobar

De acordo com especialistas, Eduardo Escobar (1943-2024) foi um escritor, poeta, ensaísta, contista e jornalista colombiano, cofundador do movimento literário Nadaísta em 1958, junto com Gonzalo Arango, Amílcar Osorio, Alberto Escobar Ángel, Humberto Navarro Lince e Darío Lemos. Aos 16 anos, depois de frequentar várias escolas religiosas, abandonou a educação formal para se dedicar à leitura e ao projeto nadaísta. Diretor da primeira revista do Nadaísmo, “La viga en el ojo”, que teve colaboradores internacionais, especialmente mexicanos e venezuelanos, Escobar colaborou com a publicação Nadaísmo 70, tendo seus poemas sido incluídos na maioria das antologias de poesia e prosa jornalística na Colômbia e traduzidos para o inglês e o alemão.

Na década de 1970, Escobar fundou “El Café de los Poetas”, o primeiro estabelecimento em Bogotá a sediar encontros, recitais de poesia, teatro de câmara, concertos de música moderna e sessões de jazz, tornando-se um ponto de encontro atraente para artistas e intelectuais proeminentes. Atuando como crítico de artes plásticas nas páginas editoriais do El Tiempo, abordou especialmente as exposições da renomada galeria Esede, que apresentou na Colômbia mostras de informalistas espanhóis como Antoni Tàpies i Puig, expressionistas abstratos americanos e grandes pintores colombianos como Norman Mejía. Assessor cultural do telejornal Cadena Súper e colunista da emissora Caracol, coapresentou um programa na Rádio Quince, em Medellín, onde resenhava livros de atualidades e criticava com humor eventos políticos de interesse nacional. Também dirigiu Nadaísmo Ventiao para a Colombiana de Televisión, uma série que resenhava as biografias de grandes ícones culturais do século XX, como Carlos Gardel e Charles Chaplin, entre outros.

Ainda segundo estudiosos, disse o autor sobre si mesmo: “Nem só de poesia vive o homem, e menos ainda na Colômbia, traficando livros sobre narcóticos. Para me livrar da pobreza, como tantos outros poetas antigos e modernos ou meros mortais, recorri a mil empregos miseráveis e atividades prosaicas: fui auxiliar de contabilidade num pesadelo, patinador de banco durante todo o mês de junho, mensageiro sem bicicleta numa imobiliária enquanto lia “Teoria do Desarraigamento”, fiz sacos de polietileno, caixas de joias de papelão e veludo, fui almoxarife, li Joyce numa bodega, trabalhei também como antiquário ambulante, como vendedor de bonecas de Natal fora de época, de jornais diários, semanais e mensais na porta de uma clínica de luxo. Artesão de bugigangas de cobre. Fabricante de lanternas de navio. Promotor de rifas clandestinas sem prêmios, devido à pressão. Ajudante de cozinha para arroz com chipichipi. Pastor de aves. Mestre cortador de sabres de sutileza. Barman. Escritor de trivialidades para Revistas triviais. Um crítico de arte mercenário. Cheguei a ser tocador de sinos numa gangue de maconheiros. Foi assim que aprendi a odiar o trabalho, suando óleo”.

Refugiado em sua fazenda, La Trapa, o autor lia e escrevia do amanhecer ao anoitecer. Em dezembro de 2023, recebeu o prêmio CPB (Círculo de Jornalistas de Bogotá) de melhor livro do mês por sua publicação “Escritos en contravía” (Escritos contra o Caminho), sendo indicado para membro da Academia da Língua. Colunista dos jornais colombianos El Tiempo, El Colombiano, Universo Centro e El País, colaborou regularmente com as revistas SoHo, Credencial, Cromos, Universidad de Antioquia e Aleph, recebendo o Prêmio Nacional de Jornalismo Simón Bolívar em 2000 por sua coluna de opinião “Contravía”. Seu pensamento e sua escrita foram moldados pela leitura dos maiores clássicos, como Montaigne, Cervantes, Baudelaire, Camus e outros.

“Fuga Canónica” (2002) é um romance biográfico de significativo valor musical, literário e histórico. É um relato poético da metamorfose e evolução de um artista. Baseia-se em extensa pesquisa e documentação em arquivos e jornais do século XIX para reconstruir Bogotá e sua música, o mundo interior do personagem, suas relações com outros músicos de sua época e a música eclesiástica, popular e patriótica predominante. Examina diversos temas da existência humana e da evolução da música entre os séculos XIX e XX. É uma versão literária completa e uma fonte que lança luz sobre um capítulo esquecido da história da música nacional. Também oferece reflexões interessantes sobre tragédias humanas. Representa um esforço importantíssimo em arqueologia, resgate e reconstrução da memória musical e histórica da Bogotá do século XIX.

“Cabos sueltos, la lectura como pecado capital” (2017) é composto por 18 ensaios sobre reflexões de leitura, escrita e os autores lidos e apreciados ao longo da vida como leitores. É um dos livros de análise e reflexão mais interessantes e envolventes. Três ensaios podem ser especialmente sedutores: sobre García Márquez, acuado pelo “peso pesado da glória”; sobre Fernando Vallejo, surpreendido em sua “cólera doutoral”; e o dedicado a escritores com manifestações edipianas ocultas ou óbvias, como Proust, Borges, Nietzsche, Pessoa, Bruce Chatwin ou Estanislao Zuleta, entre outros. Em 18 de março de 2024, ele morreu após sofrer complicações de câncer.

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