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A Colômbia e sua Literatura (47): Gabriel García Márque

De acordo com especialistas, nos anos 1960 e 1970, o trabalho de um grupo de romancistas latino-americanos relativamente jovens, a saber, Julio Cortázar (Argentina), Carlos Fuentes (México), Mario Vargas Llosa (Peru) e Gabriel García Márquez (Colômbia), foi amplamente divulgado na Europa e no resto do mundo, ficando o período conhecido como boom latino-americano, muito prolífico para a literatura colombiana. Sob a influência do modernismo da Europa e da América do Norte e do movimento de vanguarda da América Latina, esses escritores desafiaram as convenções estabelecidas na literatura latino-americana. Seus trabalhos, ainda que experimentais, devido ao clima político da América Latinada década de 1960, eram também muito politizados.

Gabriel García Márquez (1927-2014) foi um jornalista, escritor e roteirista colombiano. Considerado um dos maiores escritores do século XX, destacou-se como um dos representantes do realismo mágico latino-americano. Autor de “Cem anos de solidão” e “O amor nos tempos de cólera”, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1982 pelo conjunto de sua obra. Nascido em Aracataca, no departamento de Madalena, Colômbia, seu pai era telegrafista e sua mãe, dona de casa e muito se esforçaram para lhe dar uma boa educação. Passando a primeira infância com os avós, García Márquez escutava suas histórias, reais ou inventadas, sobre as guerras civis, os costumes familiares e lendas da região. Em família e para os amigos seria conhecido pelo apelido de “Gabo”.

Frequentando a escola pública local, ali teve seu gosto despertado pela poesia e literatura. Em 1940, estudando em Bogotá, não se adaptou ao clima frio da cidade. Em 1947, ingressando na Universidade Nacional, onde tinha a intenção de estudar Direito, não conseguiu se formar, empregando-se como vendedor de enciclopédias e jornalista. Neste mesmo ano, publicou seu primeiro conto no jornal “El Espectador” e, apesar das penúrias financeiras, García Márquez forjava nas redações e discussões literárias seu estilo único. Como colunista do “El Universal”, de Cartagena, ali travou conhecimento com jovens literários que formariam o “Grupo de Barranquilla”. Neste grupo discutia autores como William Faukner, Virginia Wolf, Albert Camus, entre outros, além de frequentar festas e prostíbulos da cidade. Na década de 50, tendo a oportunidade de conhecer a Europa no pós-guerra, viveu em Roma durante quase um ano, ali estudando cinema, sua segunda paixão, após a literatura. Em 1958, passando uma temporada na Europa como correspondente internacional, o autor se estabeleceu-se em Paris e viajou por vários países, inclusive pela Europa Oriental e Moscou.

De volta à Colômbia, García Márquez casou-se com Mercedes Barcha, com quem teve dois filhos. Como repórter da agência Prensa Latina, se estabeleceu em Havana, onde acompanhou a consolidação da Revolução Cubana. Tornando-se amigo de Fidel Castro, recebeu várias críticas por conta das violações dos Direitos Humanos cometidas pelo regime cubano. Em Cuba, fundando e ministrando cursos na Escola Internacional de Cinema e Televisão, em Havana, o autor, devido aos seus posicionamentos políticos, precisou deixar a Colômbia definitivamente, indo viver no México. Em 1967, publicou pela editorial Sul-Americana, de Buenos Aires, Argentina, a sua grande obra literária “Cem Anos de Solidão”. Um livro que veio a ser um sucesso total, abrindo-lhe as portas para uma geração de autores latino-americanos que renovariam o panorama da literatura do continente e do mundo.

Em 1982, recebendo o prêmio Nobel de Literatura, Márquez tomou a decisão de não aceitar nenhum prêmio literário após este, “Poetas e mendigos, músicos e profetas, guerreiros e canalhas, todas as criaturas desta indomável realidade, temos pedido muito pouco da imaginação, porque nosso problema crucial tem sido a falta de meios concretos para tornar nossas vidas mais reais. Este, meus amigos, é o cerne da nossa solidão. E se estas dificuldades, cuja essência compartilhamos, nos atrasa, é compreensível que os talentos racionais desta parte do mundo, exaltados na contemplação de sua própria cultura, se encontrem sem meios apropriados de nos interpretar. É simplesmente natural que eles insistam em nos medir com o mesmo bastão que medem a si mesmos, se esquecendo de que as intempéries da vida não são as mesmas para todos, e que a busca pela nossa própria identidade é tão árdua e sangrenta para nós quanto foi para eles. A interpretação de nossa realidade em cima de padrões que não são os nossos serve apenas para nos tornar ainda mais desconhecidos, ainda menos livres, ainda mais solitários.”.

“Cem anos de solidão” (Cien años de soledad, título original), publicado em 1967, é considerado o romance mais importante de Gabriel García Márquez e uma das mais destacadas obras da literatura latino-americana dos anos 60 ao apresentar uma metáfora da condição humana, da sociedade e da realidade latino-americana, ao mesmo tempo que critica padrões e realiza diversos questionamentos. A história se passa na pacata vila de Macondo, onde viviam cerca de 300 pessoas. Esse espaço fictício representa, a grosso modo, a realidade da América Latina, marcada pela revolução, pelas lutas e por uma solidão histórica inerente ao nosso povo. O escritor nos mostra características peculiares e humanas por meio do perfil psicológico de seus personagens através de 7 gerações. As experiências e ações de seus personagens revelam a solidão presente nos encontros e desencontros da vida, além de temas como a opressão, as forças da natureza, os problemas sociais e políticos, a violência e claro, as lutas pelo poder.

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