Tribuna Ribeirão
Geral

A Colômbia e sua Literatura (50): Manuel Mejía Vallejo

Rosemary Conceição dos Santos*

 

De acordo com especialistas Manuel Mejía Vallejo foi um escritor antioquenho (1923 – 1998) representante da vertente andina da narrativa colombiana contemporânea, caracterizada por um mundo de símbolos que se esvaem na memória das montanhas. Cercado por cadeias de montanhas, de onde emergem personagens e situações, Mejía Vallejo concebeu a cidade de Balandú e confessou que escrevia porque entendia melhor os fenômenos ao descrevê-los. Aos treze anos, já escrevia longas cartas para sua mãe em um estilo surpreendente. Estudou pintura e escultura na Escola de Belas Artes de Medellín, mas nunca terminou, descobrindo que sua vocação estava na literatura. Posteriormente, trabalhou como jornalista em vários países das Américas. Como jornalista, escrevia em média 30 páginas por dia, o que demonstra a dedicação e o talento inato deste autor.

Aos 22 anos, já havia escrito seu primeiro romance, intitulado ” La tierra éramos nosotros”, que foi doado ao grupo Panidas por sua mãe, sem o conhecimento de Mejía. A leitura deste romance causou grande impressão no grupo, sendo publicado em 1945. Por muitos anos, Mejía Vallejo foi professor de literatura na filial de Medellín da Universidade Nacional. Foi diretor da Imprensa Departamental de Antioquia e, desde 1978, dirigiu a oficina de escritores da Biblioteca Pública Piloto de Medellín. Recebeu um título honorário da Universidade Nacional em 1985. Em 1989, ganhou o Prêmio Rómulo Gallegos por seu romance ” La casa de las dos palmas”. Em 1993, Medellín o homenageou em seu 70º aniversário. Suas obras apresentam reconstruções dos ambientes que o cercam e daqueles que ele carrega dentro de si. Temas recorrentes incluem a fazenda, a vila e os espaços suburbanos, assim como o espanto com o desenraizamento do homem provinciano, as contradições da cidade que fomentam um cosmos de delírios coletivos e a solidão do ser que caminha pelas ruas.

Entre seus contos mais conhecidos estão: “La muerte de Pedro Canales”, “Riña para cuatro galos”, “Que despierten sus sueños”, “El hombre vegetal”, “La venganza”, “Aquí yace alguien”, “El milagro”, “Los Julianes”, “La guitarra”, “El cielo cerrado”, “Miedo”, “Una canoa baja el Orinoco”, “Palo caído” y “”. De todos estes, “La venganza” tornou-se um clássico do conto colombiano. Seu romance “Aire de tango”, publicado em 1973, é sua obra mais elaborada, inovadora e complexa do ponto de vista da estrutura literária. “Tarde de verano”, publicado em 1980, confirma Balandú como um cenário geográfico e contexto social e humano característico da narrativa de Mejía Vallejo. Balandú é apresentado como um autêntico microcosmo das províncias colombianas, especialmente da cultura antioquenha.

Ainda segundo especialistas, a obra de Mejía Vallejo pressupõe, como legado pessoalmente assimilado e reformulado, muitas características da rica tradição oral do povo antioquenho. “La casa de las dos palmas”, “Tarde de verano” e “Aire de tango” são talvez seus três romances mais completos. A narrativa de Mejía Vallejo pode ser dividida em três fases. A primeira, caracterizada pela ficção tradicional, vai de 1945 a 1957 e inclui obras como “”La tierra éramos nosotros” e “Tiempo de sequía”. A segunda, caracterizada pela inovação técnica, especialmente na estrutura, vai de 1959 a 1964; inclui, entre outras, as obras “Al pie de la ciudad” e “El día señalad”. A terceira fase corresponde à sua produção madura, onde Mejía funde impulsos tradicionais com o moderno; esta fase inclui sua produção de 1967, marcada por ‘Cuentos de zona tórrida’, e continua até o que pode ser considerado o grande ápice do escritor, “La casa de las dos palmas”.

O enredo deste romance se passa na segunda e terceira décadas do século XX, o que o torna complementar a “Tarde de verano”; é como se Mejía Vallejo tivesse se proposto a restaurar em suas obras uma continuidade histórica que só pode ser recuperada por meio da ficção narrativa. Mejía Vallejo também escreveu ensaios, entre os quais se destacam: “Breve elogio de la muerte” (1957), “María más allá del paraíso” (1984) e “Hojas de papel” (1985). Sobre livros de contos, temos: “Tiempo de sequía” (1957), “Cielo cerrado” (1963), “Cuentos de zona tórrida” (1967), “Las noches de la vigília” (1975), “Otras historias de Balandú” (1990), “Sombras contra el muro” (1993) e “La muerte de Pedro Canales” (1993); e os seguintes livros de poemas: “Prácticas para el olvido” (1977), “Décimas, El viento lo dijo” (1981), “Memoria del olvido” (1990) e “Soledumbres” (1990).

Um poema do autor? “Memória do Esquecimento” (1990): “Esse ar de entrega que sempre te acompanha, amor: esse levantar dos lábios para beijar o ar ou uma lembrança; esse caminhar lento como se estivesses nu ou dormindo ao ritmo de um sonho suave; esse dizer eu te amo de boca fechada

Professora Universitária*

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