Rosemary Conceição dos Santos*
De acordo com especialistas, Álvaro Mutis (1923-2013) foi um poeta, romancista e jornalista colombiano que completou seus estudos iniciais em Bruxelas, mudando-se para Bogotá anos depois e indo viver no México em 1956, onde concilia a escrita com o trabalho para diversas empresas. As memórias de sua infância na Bélgica marcam um dos principais temas de sua obra: o contraste entre a Europa e a América. No início da década de 1940, Mutis começou a trabalhar no rádio, onde apresentou um programa dedicado à literatura e atuou como locutor de notícias. Iniciando sua carreira literária influenciado por escritores surrealistas, publicou seus primeiros poemas e resenhas na revista Vida e nos suplementos literários dos jornais El Espectador e La Razón . Em 1947, publicou seu primeiro livro de poemas, “La Balanza”, em colaboração com Carlos Patino.
Interagindo com os jovens poetas associados à revista Mito, o autor continuou a publicar coletâneas de poesia como “Los elementos del desastre” (1953) – onde Maqroll, o vigia, personagem que se tornaria recorrente na obra de Mutis, apareceu pela primeira vez – e “Memoria de los hospitales de ultramar” (1959). Por volta de 1960, Mutis começou a migrar da poesia para a prosa, publicando “Diario de Lecumberri” (1960) e “Los trabajos perdidos” (1961). Em 1973, publicou seu romance “La mansión de Araucaíma” e apresentou sua coletânea de poesia “Summa de Maqroll el gaviero”, na Espanha. No ano seguinte, recebeu o Prêmio Nacional de Literatura da Colômbia, marcando o primeiro grande reconhecimento de sua obra. Nos anos subsequentes, continuou a conciliar literatura e jornalismo, lançando “Bitácora del reacciónrio”, sua coluna semanal, e a contribuir para revistas editadas por Octavio Paz. Na televisão, apresentou o programa “Encuentros”, dedicado a entrevistas com escritores.
Seus livros subsequentes são coletâneas de poesia: “Caravansário” (1982), “Os Emissários” (1984), “Crônica e Louvor do Reino” (1985) e “Uma Homenagem e Sete Noturnos” (1987). Em 1983, foi agraciado com o Prêmio Nacional de Poesia da Colômbia e, três anos depois, com o Prêmio Médicis de melhor romance estrangeiro na França por “A Neve do Almirante”. A Universidade do Valle concedeu-lhe um doutorado honoris causa em Literatura em 1988, seguido posteriormente pela Universidade de Antioquia. Durante esses anos, seus romances “Ilona Chega com a Chuva” (1988), “Uma Bela Morte” (1989), “A Última Parada do Navio Cargueiro” (1990) — pelo qual recebeu o Prêmio Javier Villa Urrutia — , “Amirbar” (1990) e “Abdul Bashur, Sonhador de Navios” (1991) foram publicados. Entre outras distinções, recebeu o Prêmio Roger Caillois, concedido pela cidade de Reims pelo conjunto de sua obra, a Ordem das Artes da França e a Águia Asteca do México.
Mais tarde, publicou obras como “Tríptico do Mar e da Terra” e “As Aventuras e Tribulações de Maqroll, o Vigia”, uma compilação de seus diversos trabalhos dedicada a Maqroll. Em 1997, recebeu o Prêmio Príncipe das Astúrias de Literatura e ganhou a sexta edição do Prêmio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana. Em 2001, foi agraciado com o Prêmio Cervantes por sua contribuição à literatura em língua espanhola e, dois anos depois, recebeu a Legião de Honra no grau de oficial, a mais alta distinção concedida pelo governo francês.
Em 22 de setembro de 2013, Álvaro Mutis faleceu no México, onde residia há mais de cinquenta anos.
Um poema do autor? CADA POEMA: “Cada poema um pássaro que foge, do local indicado pela praga. Cada poema um traje da morte, pelas ruas e praças inundadas, na cera mortal dos vencidos. Cada poema é um passo até a morte, uma moeda falsa de resgate, um tiroteio no meio da noite perfurando as pontes sobre o rio, cujas águas adormecidas viajam da cidade velha para os campos onde o dia prepara suas fogueiras. Cada poema um toque rígido daquele que jaz na lousa das clínicas, um ávido gancho que percorre o lodo macio dos túmulos. Cada poema um lento naufrágio do desejo, um rangido dos mastros e cordames que sustentam o peso da vida. Cada poema um estrondo de telas que desabam sobre o rugido congelado das águas o cordame branco da vela. Cada poema invadindo e rasgando a amarga teia do tédio. Todo poema nasce de uma sentinela cega que grita nas profundezas da noite o lema de seu infortúnio. Água do sonho, fonte de cinza, pedra porosa dos matadouros, madeira à sombra das sempre-vivas, metal que dobra pelos condenados, óleo funeral de dois gumes, mortalha diária do poeta, cada poema espalha pelo mundo o cereal azedo da agonia.”
Professora Universitária*





