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A Colômbia e sua Literatura (52): Manuel Zapata Olivella

Rosemary Conceição dos Santos*

 

De acordo com especialistas, Manuel Zapata Olivella (1920 -2004) Chegou a Cartagena ainda criança, vindo a se tornar médico, antropólogo e escritor colombiano. Considerado o mais importante representante da literatura afro-colombiana, dirigiu a revista “Letras Nacionales” nas décadas de 1960 e 70. Durante vinte anos, pesquisou informações para seu romance central, “Changó, el gran putas”, alcançando sua força narrativa e ética após passar uma noite nu em uma das celas escuras e sufocantes da fortaleza localizada na Ilha de Goré, uma prisão senegalesa onde africanos capturados eram mantidos antes de serem transportados de navio para o Novo Mundo. Este romance e grandioso épico traz quinhentos anos de história, para o qual Zapata empregou o que chamou de “realismo mítico”. Ele narra os deuses tutelares e a visão de mundo da religião iorubá, incorporando provérbios, trava-línguas, contos de fadas e canções da tradição africana. Traça os feitos de heróis negros nas revoluções americanas. Zapata demonstra que os negros nunca impuseram nada a ninguém; pelo contrário, compartilharam sua dança, sensualidade, culinária e idioma.

De 1943 a 1947, Zapata viajou por toda a América Central e grande parte dos Estados Unidos, exercendo diversas funções. Por um período, foi diretor técnico do Balé de Dança Folclórica de sua irmã, a coreógrafa Delia Zapata Olivella; posteriormente conduziu pesquisas etnomusicológicas em Indiana (EUA), vindo a ministrar palestras sobre música colombiana na Biblioteca das Nações Unidas em Nova York e em diversas universidades canadenses. Trabalhando como jornalista, contribuiu para inúmeras revistas e publicações colombianas e internacionais, fundando e dirigindo a revista Letras Nacionales. Com um narrador de linguagem vívida e estilo direto; contista de violência com temática social, seu conto “El galeón sumergido” foi premiado pela Extensão Cultural de Bolívar em 1962. Zapata Olivella escreveu os dramas “Los pasos del indio” (1960), “Caronte liberación” (1961), ” Hotel de Vagabundos” (Prêmio Espiral, 1954), ” El retorno de Caín” (premiado no Festival de Arte de Cali, 1962), ” Tres veces la libertad ” e “Malonga el liberto “.

Entretanto suas obras mais conhecidas são os seus romances, que revelam a sua profunda sensibilidade e criatividade literária: “Tierra mojada” “Pasión vagabunda”, “La calle 10”, “Detrás del rostro”, “Chambacú, corral de negros”, “En Chimá nace un santo”, adaptado para um filme intitulado Santo en Rebelión, e Changó, el gran Putas. Entre suas coleções de contos, destacam-se: “China 6 am”, “Cuentos de muerte y libertad “, “El cirujano de la selva”  ¿Quién dio el fusil a Oswald? Por declaração do Ministério da Cultura, 2020 foi considerado o Ano de Manuel Zapata Olivella, oportunidade não só para celebrar uma das figuras fundamentais do país, mas também para destacar as contribuições e lutas da cultura negra na Colômbia. Nas palavras de Ciro Alegría, renomado escritor peruano, que Zapata Olivella conheceu em Nova York no início de sua carreira como jornalista, apontou um dos aspectos-chave do escritor de “Santa Cruz de Lorica” no perspicaz prólogo que escreveu para “Tierra mojada”, de 1947, o primeiro romance publicado de Zapata Olivella. Ali, Alegría afirmou: “Em termos de conteúdo e forma, pode ser considerada uma das primeiras expressões romanescas da sensibilidade negra em nossa América. No campo da poesia lírica, já temos Nicolás Guillén, Pedroso e muitos outros. O romance noir está apenas dando seus primeiros passos, e os de Zapata Olivella são os de um viajante marchando por terras inexploradas. Portanto, o caminho não é muito claro e às vezes se perde, mas o viajante quer seguir em frente com o mesmo ímpeto obstinado até hoje“.

Zapata Olivella alcançou isso desde o início por dois motivos. Por um lado, graças ao seu vasto conhecimento das comunidades africanas e de sua situação na América e na Colômbia ao longo dos séculos; por outro, graças à sua profunda consciência da literatura de seu tempo. Ele compreendeu, antes de muitos outros, que a universalidade residia na heterogeneidade e não no reconhecimento de si mesmo por meio de perspectivas externas, canônicas ou preestabelecidas. Essa ideia norteou toda a sua obra; ela se manifestou de forma clara e incisiva, sem a menor hesitação: questionou a identidade negra, a forma como era assumida e, sobretudo, como a luta desses povos era suprimida ou obscurecida por diferentes poderes regionais e nacionais, direta ou indiretamente, por meio da retórica ou mesmo das armas. E essa voz se tornou ainda mais poderosa porque a obra narrativa de Zapata Olivella alcança um equilíbrio perfeito entre literatura e crítica histórico-social. Esse equilíbrio entre ficção e história, entre narrativa e crítica, entre o universal e o local, foi uma das contribuições mais importantes de Zapata Olivella para a literatura colombiana em geral e para a literatura afro-colombiana em particular. Sua voz e seu trabalho em trazer à luz outras literaturas regionais foram fundamentais para permitir que nossa narrativa alcançasse mais longe e explorasse novos caminhos. O autor faleceu em Bogotá em 19 de novembro de 2004.

 

Professora Universitária*

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