Tribuna Ribeirão
Artigos

A Colômbia e sua Literatura (56): Álvaro Cepeda Samudio

Rosemary Conceição dos Santos*

 

De acordo com especialistas, Álvaro Cepeda Samudio (1926 – 1972) foi um escritor e jornalista colombiano que, após concluir o ensino médio, viajou para os Estados Unidos para estudar jornalismo na Universidade Columbia, em Nova York, retornando em 1951 a Barranquilla para trabalhar como correspondente do The Sporting News. Como jornalista, e apaixonado por esportes, cobriu eventos esportivos para o jornal El Nacional; em 1951, tendo uma coluna na página editorial do El Heraldo, intitulada ” La brújula de la cultura” (A Bússola da Cultura); tornando-se diretor do Diario del Caribe. Participando como roteirista e ator, do curta-metragem La langosta azul, bem como de outros curtas e de um cinejornal, organizou o Cineclube de Barranquilla.

Intelectual e artista, Samudio queria estar ciente de tudo e compartilhar tudo. Desde cedo, reconheceu a necessidade de buscar, abraçar e cultivar valores novos e universais, tanto na forma quanto no conteúdo, como evidenciado por suas primeiras obras de ficção. Para Cepeda, em matéria de arte e cultura, o mais importante era o livre fluxo de informação. Nos trabalhos do início de sua carreira jornalística, é possível perceber como ele definia as características do que viria a ser seu jornalismo. Sua primeira coluna, publicada no El Nacional, tinha o título ” En el margen de la ruta” (À Margem da Estrada). Seus dois primeiros textos conhecidos são: ” Una calle” (Uma Rua), narrativa descritiva, e ” El periodismo como función educacional” (O Jornalismo como Função Educativa), ensaio-polêmica-manifesto, publicado no jornal El Nacional de Barranquilla.

Publicando vários contos na revista do grupo, Crónica, seu romance “La casa grande” foi sua obra de ficção mais importante e último livro publicado pelas Ediciones Mito. Sobre este romance assim trata García Márquez: “É um romance baseado no massacre de trabalhadores bananeiros em greve, de fato perpetrado por um comando do exército em 1928. A Casa Grande não retrata nenhum cadáver, e o único soldado que se lembra de ter matado alguém ‘tem o uniforme encharcado não de sangue, mas de merda […]’. Essa maneira de escrever a história, por mais arbitrária que possa parecer aos historiadores, é uma esplêndida lição de transmutação poética. Sem ocultar a realidade, […] ele nos deu sua essência mítica, aquilo que permanece para sempre além da moralidade, da justiça e da memória efêmera dos homens.” Sobre seu conto mais conhecido, ” Todos estábamos a la espera” (Estávamos Todos Esperando, 1954), o crítico Eduardo Pachón Padilla afirmou: “Possui recursos extraídos da imaginação, um estilo conciso, claro e preciso. Todas as questões são examinadas a partir de uma única perspectiva: a do indivíduo imerso no turbilhão da multidão”. Em seu desejo de renovação, Cepeda incorporou técnicas jornalísticas norte-americanas à sua narrativa.

Ainda segundo especialistas, o autor professava uma saudável antipatia pelos moradores afetados e pudicos de Bogotá e uma admiração transbordante pela filosofia popular incorporada nas observações dos taxistas de Barranquilla. Recusava-se a praticar jornalismo erudito ou especializado. Pelo contrário, oferecia suas opiniões sobre tudo com entusiasmo, quase furiosamente, e sem qualquer intenção de compromisso. Para ele, qualquer assunto podia ser importante, não aceitando hierarquias preestabelecidas. Um trecho? O conto “Todos estávamos à espera”: “Íamos chegando um a um e sentávamos nos altos bancos vermelhos ao longo do balcão. Ficávamos ali em silêncio, ouvindo as músicas que alguém cantava nos discos. Em outras noites, havia boxe. Então parávamos de colocar moedas nos toca-discos e assistíamos à luta. Mas elas não duravam muito. Quase nunca chegavam ao último round, porque alguém sempre era violentamente jogado na lona cinza, e um homem de gravata borboleta levantava a mão de quem estivesse de pé, e a luta terminava…Tínhamos esquecido o medo. Não sabíamos quando ela entrou; ela estava nos observando quando levantamos a cabeça para pedir bebidas. Nós a vimos ao mesmo tempo, mas eu fiquei parada olhando para ela. Quando me levantei, todas as moedas que estavam em pé começaram a rolar. Eu disse a ela: “Estava te esperando, Madeleine.” E então: “Agora você virá todas as noites.” Ela continuou me olhando e assentiu com a cabeça. Quando estávamos saindo, ouvi sua voz dizendo: “Você não precisa mais de mim. Me deixe ir agora.” Peguei sua mão e a apertei com força. Ao atravessarmos a rua, vimos Madeleine pela vitrine da loja, que já estava esperando.”.

Professora Universitária*

Postagens relacionadas

Democracia e República em Machado de Assis

Redação 1

“O cemitério de Praga”, de Umberto Eco

Redação 1

Remédio oculto 

Redação 2

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com