Tribuna Ribeirão
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A cor, o folclore e a mitologia


Edwaldo Arantes *


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Uma noite lenta, silêncio sepulcral, apenas o coaxar dos sapos, o cantar contínuo da cigarra, os zumbidos da noite e o tilintar da taça quando a pouso sobre a mesa, com meu amigo, parceiro e fiel escudeiro, tinto seco português.

Gosto de folhear antigas histórias sobre mitologias gregas, romanas e, principalmente, as imprescindíveis e fundamentais do nosso folclore, Saci e os verdadeiros representantes, ícones do Brasil.

Saci-Pererê, Cuca, Curupira, mula sem cabeça, Iara, Caipora, Boiúna, Cobra Norato, Maria Caninana, Mapinguari, Mãe da Mata e todos os infelizmente ainda desconhecidos, nacionalmente.

Bebendo e passando páginas deparo com as cinco mulheres e deusas mais lindas das quimeras gregas, “Afrodite, Ártemis, Deméter, Hera e Atena”.

Veio-me entre goles e torpor a súbita lembrança do olhar verde que, sob o acanhamento esconde-se como as lagartas em seus casulos, ficando pequeninos, quase imperceptíveis.

Quando a segurança retorna dissipando a timidez, turmalinas se abrem desabrochando como borboletas, deixando casulos.

O verde que emana deles apenas se compara às nossas matas, florestas e toda a flora, inclusive um Ipê plantado na distante infância em frente à Praça Comendador João Alves, nas Minas da minha aurora.

Descendo pela fronte descortina-se o nariz moldado pelo mais sensível ourives, lapidando um diamante, protegendo com carinho a boca de fazer inveja aos traços e pincéis de Michelangelo di Lodovico Buonarroti e Leonardo di Ser Piero da Vinci, em curvas e contornos de linhas geométricas perfeitas, talvez definida, por Euclides de Alexandria, “Pai da Geometria”, que se abrem em um sorriso contido, mistura de charme, fascínio e formosura, seus mistérios e enigmas, tal qual a Esfinge “Decifra-me ou devoro-te”.

Passando pelo queixo esculpido em pedra sabão pelo gênio de Antônio Francisco Lisboa, inspirado pelas montanhas que circundam Vila Rica do Pilar.

Descortina-se um pescoço reservado pela natureza aos Cines Imperiais dançando, se acariciando em deslumbre sobre as águas em lagos plácidos ao entardecer, lembrando noivos e taças em seus brindes, entre mãos e braços entrelaçados.

Sustentando o pescoço a imagem dos ombros fortes, elegantes, que mais parecem muralhas guardando e protegendo duas obras de arte esculpidas como peras amadurecendo no pé a espera de serem colhidas, surgem duas rígidas flechas apontando para o azul do firmamento.

Setas que nos fazem sonhar que um dia, apenas uma vez, sejam dirigidas aos nossos olhares e deslumbramentos ou ao coração, como o Cupido.

Descendo o corpo escultural tal qual um explorador perdido na mata escura, surgem dos mais íntimos e guardados segredos um par de obras gravadas, talhadas e moldadas por um torno operado e manuseado pelas mãos do Divino Criador.

Dois pedestais fortes como troncos de Buritis, reinando sob o sol do sertão mineiro, “onde tem Buriti, tem água”, ao descer encontram dois alicerces apenas vistos nos contos de fadas onde Cinderela, fugindo da meia-noite perde seu sapatinho de cristal, pequeninos sustentáculos a equilibrar tudo.

Não desfila, flutua, deixando no ar o bálsamo que exala da pele macia aveludada, tecido em pura seda “mulberry”, produzida pela china, segredos guardados há séculos, definição perfeita de requinte e sofisticação.

E eu, pobre e obscuro mortal das Gerais, em sonhos os vejo caminhando harmoniosos em feitiços e tudo o que sustentam, em minha direção.

Descubro sob catarse, em um lampejo de luz, que não são seis as Deusas mais lindas da mitologia grega, mas sim, sete, Turmalina, a Deusa dos Olhos Verdes, sob a proteção de Zeus e todos os Deuses do Olimpo.

Existem ainda, as cinco mulheres ungidas as mais belas da história, Penélope, Rainha de Ítaca, Helena de Tróia, Andrômeda, Princesa da Etiópia, Eurídice, a inspiração de Orfeu e Psiquê, que encantou o amor eternamente, nomeio a sexta, Turmalina, a Deusa brasileira dos olhos verdes.

“De repente me lembro do verde. O verde é a cor mais verde que existe. É a cor mais alegre, a cor mais triste. O verde que vestes, o verde que vestistes. No dia em que te vi, no dia que me vistes”. Caetano Emanuel Telles Velloso.



* Agente cultural

 

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