“Um povo que não conhece sua história está fadado a repeti-la.” (Edmund Burke).
Esta frase, cunhada no século 18, ainda hoje mostra a sua eficácia. Em todas as eleições municipais, o tema mais discutido é a qualidade da educação básica pública. No entanto, o tempo passa, as eleições se sucedem, e nada muda — ou quase nada.
A novidade surgida na política municipal nas eleições do ano passado foi a figura do encantador de serpentes, conhecido como coach, que mostra o seu sucesso pessoal e financeiro e vende suas ideias para quem quiser ter o mesmo sucesso. Esse argumento encontra campo fértil entre pessoas que lutam para sobreviver, mas desiludidas com a política tradicional, são empurradas ao encontro das ideias do encantador de serpente. Essas ideias levam o trabalhador a aderir ao modismo do empreendedorismo e ao individualismo, fazendo-o enxergar a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) como um empecilho ao seu sucesso, já que, segundo esses encantadores, tudo depende apenas do esforço pessoal.
No ranking dos teóricos da educação básica mundial, os brasileiros figuram no topo. Contudo, a pedagogia dessas mentes privilegiadas não consegue ultrapassar os muros das escolas públicas, salvo raríssimas exceções. Paulo Freire, Anísio Teixeira, Lauro de Oliveira Lima, Darcy Ribeiro e outros plantaram sementes de uma educação libertadora que germinou, mas foi atacada pela segregação social, aniquilando seus frutos antes de amadurecerem.
As experiências exitosas de educadores que colocaram em prática o artigo 15º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), que garante graus progressivos de autonomia pedagógica, administrativa e financeira às escolas públicas, mostram o caminho. Porém, políticas governamentais intencionalmente obscurecem a lei e impedem que gestores escolares apliquem-na. Assim, governantes inescrupulosos conduzem a educação de acordo com seus próprios interesses, como verdadeiros ladravazes.
Um exemplo marcante foi o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, a Escola Parque, idealizada por Anísio Teixeira e inaugurada em 1950 em Salvador. A proposta avançada preparava os alunos para a vida em uma sociedade em constante mudança. O currículo incluía educação financeira e empreendedorismo como práticas de cidadania e modernidade. Cada estudante tinha conta bancária, saldo a administrar e talão de cheques para aprender na prática — verdadeira construção cidadã. Como era um projeto baseado na autonomia e solidariedade humana, foi boicotado pelos donos do poder.
Desde então, a educação pública ficou estagnada, presa a propostas inconsequentes que, quando mudam algo, é apenas para segregar ainda mais os pobres. Para apagar a luz que ainda tenta iluminar a educação, multiplicam sofismas e desmontam, pouco a pouco, a Constituição cidadã.
Enquanto falam em liberdade, querem aprisionar a população pobre no desconhecimento. A militarização das escolas periféricas foi o primeiro passo, com o objetivo de disciplinar e doutrinar novas gerações. O controle dos livros didáticos segue o mesmo rumo: filhos dos pobres não precisam saber sobre trabalho escravo no século 21, alimentos contaminados por agrotóxicos ou destruição da Amazônia. Só podem aprender que “o agro é pop”.
A intenção é clara: privatizar a educação básica pública.
A escola precisa ter significado para os educandos; ser encantadora, ressignificar a vida e “reaprender a sonhar profundamente”.

