Por Hugo Luque
Dedicação, um corpo escupido e as melhores poses. Tudo isso estará em jogo neste domingo (7), na primeira edição do Natural Monster Ribeirão Preto, evento que reúne atletas amadores de fisiculturismo natural no teatro da Faculdade Estácio de Ribeirão Preto – Rua Abrahão Issa Halack, 980, na Riberânia. Os vencedores serão considerados campeões dos campeões na modalidade e terão vaga garantida no Natural Olympia 2026, o principal encontro mundial do fisiculturismo natural, em Las Vegas, nos Estados Unidos.
A modalidade natural tem como principal regra a competição sem o uso de substâncias proibidas. É a via do “sem atalhos”: treino, alimentação adequada, sono e preparação técnica — do primeiro dia de dieta ao minuto em que se pisa no palco.
Aos 22 anos, Henrique de Araújo Lustosa vive reta final de preparação para a competição. Será um momento marcante na trajetória do estudante de odontologia, que conheceu o fisiculturismo quando ainda frequentava a academia apenas para manter a forma física.
“No início, apenas treinava por saúde e estética, pois eu era extremamente magro a ponto de prejudicar minha saúde. Com o tempo, percebi que gostava dos desafios, da disciplina e da evolução que o fisiculturismo exige. Isso me levou naturalmente para as competições, onde encontrei um ambiente que me inspira a melhorar sempre. Basicamente virou minha paixão.”
Lustosa prepara o físico para as competições há menos de dois anos e estreou nos palcos no Monster Bauru, em maio. A rotina é “puxada” e exige muita disciplina, sobretudo para dividir o tempo entre estudos, treinos e outras atividades, como a natação. Se engana quem pensa que, para chegar ao corpo desejado, basta apenas erguer os halteres mais pesados.
“É desafiador, especialmente porque concilio o esporte com minha rotina na faculdade. Para quem compete de forma natural, cada detalhe importa: sono, alimentação, constância nos treinos. Organizo meus horários visando minhas três prioridades: estudos, treinos e dieta. Nos dias em que passo a maior parte do tempo na faculdade, eu preparo com antecedência minhas refeições do dia e adapto meus treinos aos horários disponíveis”, detalha o atleta, que não tem proibições no quesito alimentação, mas precisa manter o controle.
“A alimentação varia conforme a fase, se está em ‘bulking’ (ganho de massa muscular com superávit calórico) ou ‘cutting’ (redução do percentual de gordura corporal por meio do déficit calórico). No geral, priorizo alimentos naturais, como carnes magras, ovos, legumes, frutas, arroz, aveia e fontes de gordura boa. Não existe um ‘não pode’ absoluto, mas evitamos excessos: frituras, ultraprocessados e açúcares. Se existe um segredo, é disciplina. Construir um físico realmente competitivo não acontece do dia para a noite. São anos de treino e ajustes finos no corpo”, explica.
Elas também malham
Não são apenas os homens que pegam peso e fazem dieta. As mulheres também são um grande público do fisiculturismo e terão sua categoria no Natural Monster deste fim de semana.

A professora de matemática Isabella Assis Lunardello, de 26 anos, conheceu o esporte há pouco tempo. Ela frequenta a academia há três anos e, no período, descobriu o fisiculturismo por meio das redes sociais. No início, o objetivo não era competir, mas essa possibilidade cativou a atleta.
“Meu alvo sempre foi à luta contra a obesidade, o mundo do fisiculturismo é novo para mim. A disciplina exigida foi o que mais me cativou a entrar para este esporte”, diz Isabella, que vive seu primeiro ano nos palcos.
Assim como no caso de Henrique Lustosa, o dia a dia apresenta obstáculos. Além de esposa e mãe, ela tem a missão de ensinar e formar alunos – uma tarefa cansativa e que toma a maior parte do dia e da energia. O sonho, todavia, é conseguir fazer da prática esportiva sua principal ocupação.
“Eu espero, sim, um dia conseguir me dedicar profissionalmente ao esporte. Porém, atualmente isso ainda não é possível. A maioria dos atletas exerce outras funções. É trabalhoso e exige tempo, dedicação e disciplina. Todos os eixos devem estar alinhados: treino, dieta e descanso. Minha rotina é pesada: Concilio várias funções, trabalho fora o dia todo e, quando estou em casa, tenho minhas outras responsabilidades como esposa, mãe e dona de casa. Mas, com organização, consigo encaixar um tempinho para fazer o que preciso.”
Apesar dos empecilhos e das variações do dia, Isabella se nega a recorrer a qualquer tipo de substância artificial. Anabolizantes, é claro, são proibidos na modalidade. Entretanto, suplementos comuns, que não alteram hormônios, estão liberados. Ainda assim, os principais diferenciais estão na rotina e na paciência.
“Sobre os ‘segredos’: não tem. É treino, dieta, constância e tempo. A construção do físico leva anos, não semanas. Cada indivíduo é livre para fazer o que quiser com o próprio corpo. Porém, na minha visão como atleta, colocar a saúde em risco por questão estética é uma péssima decisão. A curto prazo pode até parecer um atalho, mas o impacto na saúde pode ser sério e permanente. Eu prefiro sempre o caminho mais seguro: constância, disciplina e responsabilidade com o meu corpo”, afirma.
Luta contra a ‘bomba’
Dirigente e organizadora do Natural Monster, Elaine Bessi é uma entusiasta da musculação, ainda que não pratique o fisiculturismo, e tem como objetivo levar conhecimento e oportunidades do fisiculturismo natural para o interior paulista. Conhecedora da cultura das academias, ela observa que a “bomba” – como chamam popularmente os anabolizantes – é um problema crescente.
“Sinto que o meu maior desafio é uma cultura de uso de anabolizantes que vem se instaurando nas academias e com praticantes cada vez mais jovens. Organizar um evento tem seus desafios, mas sinto que encontrar atletas que conseguem trilhar seu caminho no fisiculturismo sem ceder ao uso de substâncias nocivas, hoje, é o nosso maior desafio.”

Parte do corpo diretivo do Natural Bodybuilding & Fitness (NBF) Brasil, Elaine comenta que a federação nacional de fisiculturismo natural escolheu Ribeirão Preto como sede do evento deste domingo pela capacidade da cidade em receber um evento deste porte e por conta do número de praticantes na região.
Para participar, é necessário ser filiado à NBF. Como destacado pelos atletas, é fundamental ter muita disciplina e não buscar atalhos. Afinal, há testagem antidoping da mesma forma que ocorre entre atletas olímpicos e jogadores de futebol profissionais.
Quem não for participar, mas quiser assistir, pode adquirir os ingressos, que vão de R$ 79,90 (entrada solidária + 1 litro de leite) a R$ 289,90. A expectativa é de bom público, afinal, no “país do futebol”, também é comum ver academias cheias e outras modalidades em crescimento, apesar de ainda haver preconceitos.
“A musculação é o esporte mais praticado do país e, felizmente, acho que sua popularização tem trazido cada vez mais pessoas para o esporte, nem que seja apenas para acompanhar as competições. Antes, o fisiculturismo não era reconhecido, era um esporte muito nichado. Agora temos grandes expoentes, principalmente para as gerações mais jovens. Quando percebo qualquer tipo de preconceito, normalmente, é por achar que todos os atletas utilizam anabolizantes, são ‘bombados’, e que o resultado só pode vir assim. Mas a verdade não é bem essa”, afirma Elaine, que enxerga o fisiculturismo natural menos como um hobby e mais como uma forma de viver.
“É um esporte em ascensão. Temos percebido, através de muito trabalho, que cada vez mais pessoas têm optado por seguir o natural como uma filosofia de vida, garantindo longevidade no esporte e sendo exemplo para novas gerações. Isso é muito gratificante”, completa.

