Tribuna Ribeirão
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A incompatibilidade entre os escritores

Antonio Carlos A. Gama *

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Parece que a regra geral é a existência de uma incompatibilidade entre os escritores, o mesmo acontecendo entre os artistas plásticos. 

Não apenas a incompatibilidade, mas até, às vezes, a hostilidade.

Pode ser que isso resulte da rivalidade e da disputa de prestígio. Naturalmente, há os discípulos, que na aparência se dedicam afetuosamente aos que consideram os seus mestres. No fundo, porém, esses discípulos somente os invejam e, quando conseguem livrar-se deles, tratam de menoscabá-los.

O caso do conflito de gerações é mais particular: uma geração que vem procura sepultar a outra que a antecedeu, julgando todos aqueles que a representam como cavalgaduras. Acho mesmo que no céu, ou no inferno, para aonde vão todos, eles continuam a apedrejar-se uns aos outros, e é necessário separá-los em setores ou departamentos diferentes.

Quando se trata de escolas, ou de movimentos literários que se sucedem, umas e outros se repelem entre si.

Lima Barreto, cujo estilo tem alguma coisa do estilo de Machado de Assis, detestava-o. E levava uma vida de alcoólatra e de boêmio completamente oposta à da burguesia e da burocracia do autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas.

A Revolução Modernista odiava Coelho Neto. Mais tarde viria a geração de 40, com os seus ensaístas, sociólogos e críticos, que Oswald de Andrade chamava de os “chato-boys”. Monteiro Lobato, um precursor do modernismo entre nós, era desancado pelos escritores e poetas saídos da Semana de Arte Moderna. 

A regra, pois, é a incompatibilidade ou a hostilidade.

Os novos críticos eram ou são combatidos por outros, que se aferraram a métodos ortodoxos. Atualmente, estão aí os semióticos e outros, como os estruturalistas, os partidários de Barthes. Entre os nossos críticos não há nenhum que não seja contrário aos demais.

E pairam os acadêmicos, tomando chá nas academias e vestindo fardões dourados.

Tenho para mim que, se a obra é boa, permanecerá. O mais é a biografia que se fará de uns e de outros, ou as notas de rodapé reservadas aos que não chegaram a uma obra autêntica.

Aqui, como lá. Em Portugal, na França, na Itália, na Inglaterra, é a mesma coisa.

O Prêmio Nobel tem-se caracterizado por estranhamentos. De vez em quando procura empinar um escritor como um papagaio de papel, e refuga sistematicamente outros.

Aqui no Brasil, os prêmios dependem do marketing das grandes editoras.

Poetas municipais, estaduais e federais… E nas aldeias, eles plantam batatas.

É preciso fazer carreira, e botar a cara nas fotografias, empurrando-se uns aos outros. A cotovelada, o beliscão e o pontapé são recomendáveis.

Nas feiras e nos festivais do livro, desfilam os figurões para vender a sua melancia.

A vida é uma vaidade comprida e uma vanidade breve.

* Promotor de Justiça, aposentado, advogado, professor de Direito e escritor

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