Antonio Carlos A. Gama *
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Ele passou por aqui.
Sinais, signos, insígnias, marcas, assinaturas… A marca do Zorro.
Até os animais antediluvianos deixaram a sua marca nas rochas. As mãos imprimem o seu molde no cimento fresco, em Hollywood. Os pedreiros mais anônimos, ao cimentarem uma calçada, não raro deixam ali duas letras do seu nome. E ainda fresco o cimento, os cachorros que passam deixam o rastro das suas patas.
Marcam-se, com ferro em brasa, os bois e os cavalos. Não se trata sempre de fazer-se conhecer quem é o proprietário. Todos querem deixar o sinal da sua passagem, o seu testemunho de que aqui ou ali estiveram.
O planeta Terra está cheio de cicatrizes e o homem também quis levar o sinal de que ali esteve, na Lua.
No mármore branco das mesas dos cafés e bares, há quem rabisque com um lápis, marcando a sua passagem.
Quando o homem não se marca a si mesmo com tatuagens, vai aos muros brancos, recém pintados, para borrá-los e pichá-los.
Os cientistas circundam de anéis as pernas das aves, ou de outros bichos, para saber para onde vão, para onde emigram.
Há também o desenho dos lábios, de batom, na superfície do espelho, da amada que foi embora, e deixou o seu parceiro adormecido no leito.
Até nos túmulos, os epitáfios dizem que ali jaz…
Só o vento, a chuva, removem, das dunas de areia do deserto, as pegadas daqueles que por ali andaram, ou morreram.
Tudo em vão. Os homens passam irremissivelmente. Mesmos os arquivos zelosamente guardados, acabam desaparecendo, com o fogo que os destrói, ou com as traças que os roem. Os edifícios desmoronam. A impressão digital é removível, através de cirurgias plásticas.
Que marca ficará de nossa triste e infame civilização?
Debaixo de que ruínas irão encontrar os sinais de que aqui estivemos, como nos lugares calcinados de Pompeia?
Os golpistas e vândalos deixaram suas marcas e sujeiras em Brasília.
Queremos permanecer, quando tudo é perecer.
A humanidade é uma vã palavra.
* Promotor de Justiça aposentado, advogado, professor de Direito e escritor