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A Medicina e a Filosofia

Reservamos os últimos dias de outubro para refletir sobre a importância da Medicina e a sua proximidade com a Filosofia que tem como ponto de partida ou da chegada a existência do ser como marco da existência humana. Durante a Idade Média a Europa mergulhou num processo de ignorância e de descons­tituição. Ou de nova constituição, com certeza. Ao contrário, os árabes e os judeus voltaram-se para a Medicina e para a Filosofia.

Os cristãos europeus não tinham acesso aos filósofos gregos, ao contrário dos árabes e dos judeus. Basta ver que Justiniano, 219 depois de Cristo, extraordinário imperador do Império Romano do Oriente, decretou o fechamento da escola criada por Platão provavelmente em 383 antes de Cristo. O Brasil não tem nenhuma universidade com mais de duzentos anos. Os primeiros grandes filósofos de então eram médicos notáveis.

Avicena, islamita, devotou sua vida ao estudo de Aristóteles e da Medicina. Criou a primeira escola de Medicina que, como se vê, Medicina tem como raiz o seu nome: Ibne Sine. Nasceu em Buscará em 980 e faleceu em Ramadan em 1.037. Sua orienta­ção exerceu grande influência na Europa. Chegaram até nós 150 obras de filosofia e 40 livros de Medicina.

Antes da existência da Espanha e de Portugal, em 711, os árabes marroquinos, liderados por Tarique, invadiram a Penínsu­la Ibérica, derrotando os romanos. Os árabes permaneceram na Península Ibérica até 1492, quando então os espanhóis não só os derrotaram como também descobriram a América.

Ainda sob o domínio árabe, na cidade espanhola de Mendonça, nasceu em 1.126 o filósofo e médico Averrois, Abu al-Walid ibn Ahmad ibn Muhammad ibn Rushid, que veio a falecer em Marra­quexe em 1.198. Notabilizou-se pelos estudos realizados na obra de Aristóteles, recebendo até hoje o título de “O Comentador”.

Na mesma época, em 1.138, também nasceu em Córdoba o judeu Maimônides Moxé Filho, conhecido como Rambam. Ele e sua família exilaram-se na África, onde se tornou o mais conhe­cido médico do Cairo. “O Guia do Perplexo” é o seu livro mais conhecido, foi escrito em língua arábica com alfabeto judaico. É considerado o segundo Moisés. Trabalhou como médico prestan­do serviços para as principais autoridades do Egito. É escusado dizer que Maimônides também era aristotélico.

Dentro desse contexto nasceu São Tomás de Aquino na Itália em 1.225, vindo a falecer em 1.274. Foi orientado por Santo Alberto Magno que chamou sua atenção para os escritos arábi­cos. Proferindo aulas em Paris, São Tomás foi acusado por seus detratores como “averroista”. Deixou para a posteridade a “Suma Teológica” que abriu a porta para o aristotelismo introduzir-se no cristianismo europeu.

Logo após nasceu na Alemanha Gutenberg que revelou a existência do livro. Ele e toda a geração anterior alfabetizaram a Europa e o resto do mundo. Não mais existe progresso humano sem o desenvolvimento do conhecimento médico e filosófico.

A civilização rapidamente avança diariamente no sentido de abrir espaços para o aperfeiçoamento dos meios de informação. Mas impossível deixar de anotar que até mesmo os mais extra­ordinários computadores valem-se até hoje dos cinco conectivos revelados por Aristóteles: o sinal de negação; o conjuntivo “e”; o disjuntivo “ou”; o condicional “se”; e o bicondicional “se e somen­te se”. Trata-se, como se vê, neste pequeno espaço, da língua usada até hoje tanto pela Medicina como da Filosofia.

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