José Eugenio Kaça *
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A pauta da educação básica pública está sempre em evidência nos corredores e nos gabinetes dos doutos senhores que definem a política brasileira da educação básica. E em anos eleitorais são maquiadas, e ganham roupagens novas para enganar a população. Há duas doutrinas pedagógicas que na teoria se confrontam, entretanto, na prática apenas uma consegue transitar livremente na base da organização dos currículos escolares da educação básica pública, colocando os interesses da classe dominante, defensora do seu tradicionalismo cultural, contrapondo-se e criminalizando as manifestações populares, não permitindo que a pedagogia progressista, que é libertadora, libertária e produtora de conteúdos críticos-sociais criem raízes na formação das novas gerações.
Por algum tempo os abnegados defensores de uma educação básica libertadora, conseguiram resistir, não se deixando dominar pelas regras impostas pelo sistema, e tentaram produzir novos caminhos. O capítulo Educação da nossa Carta Magna é fruto desta luta. Acontece, que o texto constitucional sozinho não garante uma educação de qualidade – tem que ser defendido o tempo todo. A luta que se desenvolvia na clandestinidade, unindo teóricos da educação e periferias pobres, desabrochou e mostrou a sua cara a partir da abertura política da ditadura cívico-militar, subsidiando o texto do capítulo educação, que integra a Constituição. Como o patriotismo estava aflorado, o povo acreditou que tudo seria cumprido, pois afinal estava na Constituição cidadã. E o povo acreditando na democracia depuseram as armas, ai os cupins que agem na penumbra, aos poucos começaram a desmontar o sonho de um dia sermos uma Nação desenvolvida.
Passados trinta e sete anos da promulgação da Constituição cidadã, os frutos que estamos colhendo hoje, não são os frutos das sementes originárias, pois aos poucos foram substituídas por sementes trangências, e com isso os o sonhos de uma colheita virtuosa, com os frutos da igualdade e de direitos iguais e da cidadania, se perdeu no tempo. A educação é feita com exemplos, e a meninada está prestando atenção nas atitudes e modos de vida que são ensinados no cotidiano e no ambiente escolar, mas a realidade vivida no mundo dos adultos contrasta totalmente com o que é ensinado, como diz um antigo ditado: “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. E com este diapasão, não dá para se esperar uma sinfonia perfeita.
O abandono da pedagogia libertadora, construiu uma sociedade imediatista, e com valores deturpados. A educação libertadora permite que haja um aprendizado autônomo fincado na ciência e nos valores humanitários, para que a evolução seja visível a cada nova geração, entretanto, a velharia de um pseudo passado glorioso nos persegue historicamente. O Congresso Nacional é o melhor exemplo da delinquência que tomou conta do País, e reflete o pensamento da maioria da população. Um postulante a um cargo parlamentar para ser eleito, não precisa falar em educação, saúde, moradia e saneamento básico, ou diminuição da desigualdade social, basta pregar a violência contra as periferias pobres, pois quanto mais cadáveres, mais votos, e estes votos que muitas vezes são de protesto vão vir da mesma população que pede por justiça, mas que sofre na pele as injustiças.
Um deputado da extrema direita quer jogar a última pá de cal na educação básica. O excelentíssimo apresentou uma proposta para o Plano Nacional de Educação, que mostra o nível de sabujice que essa gente nutre pelo “laranjão” do Norte. O nobre deputado considera as discussões feitas nas escolas, sobre as mudanças climáticas, que estão calçadas na ciência, como uma doutrinação ideológica, que as opiniões divergentes baseadas no achismo e opiniões das redes sociais sejam admitidas no currículo escolar – que diabo de patriota é esse?
Se está proposta prosperar, o caminho dos terraplanistas na educação básica estará aberto, e a imbecilidade vai emburrecer as novas gerações. A violência e a indisciplina dos alunos são consideradas os maiores problemas da educação básica pública, problema que só será resolvido com a participação dos educandos. Eu vejo no ambiente escolar uma empatia e cumplicidade entre os alunos, que não vejo entre professores e dirigentes escolares. Só a educação libertadora vai dar conta de uma nova escola, que não é tão nova, basta colocar em prática.
* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação

