Instituto 2030 *
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Poucos instrumentos de gestão pública são tão determinantes para bons resultados quanto um plano de ação bem estruturado. Mais do que o registro de metas, esse planejamento concreto contribui para a eficácia do trabalho a ser realizado.
É o mapa para organizar ações, orientar decisões e dar coerência a políticas que moldam o presente e o futuro da cidade. Quando se trata da Primeira Infância, o papel norteador do plano se torna ainda mais decisivo. Pesquisas amplamente divulgadas por instituições como o Todos Pela Educação demonstram que os primeiros seis anos de vida constituem uma janela crítica de desenvolvimento.
Nesse período o cérebro está em formação acelerada, quando cada experiência influencia diretamente a trajetória emocional, social e cognitiva da criança.
O problema é que Ribeirão Preto ainda não tem um Plano Municipal para a Primeira Infância (PMPI) que aborde o desenvolvimento integral da criança, integrando diversas áreas de políticas públicas. Já passou o tempo no qual essa agenda precisa ser tratada com absoluta urgência. Embora o município tenha aprovado, em 2020, a Política Municipal pela Primeira Infância, o plano que deveria transformá-la em ações concretas ainda não existe.
Sem isso, as iniciativas permanecem fragmentadas, o orçamento perde eficiência e a cidade deixa de concentrar esforços em metas e indicadores que permitiriam monitoramento contínuo e ajustes necessários.
É justamente isso que diferencia gestões competentes: planejamento consistente, metas claras e acompanhamento sistemático. O cenário se agrava quando observado à luz da educação municipal. Avaliações ruins na educação infantil se refletem em problemas de aprendizagem e de continuidade nos estudos por toda a vida, afetando em cheio as camadas mais pobres da sociedade. Por esse motivo, ainda na gestão Nogueira, o Diagnóstico da Educação Municipal realizado pelo Instituto Ribeirão 2030 (IR2030) apontou a implementação do Plano Municipal para a Primeira Infância como recomendação central para reverter os indicadores críticos de aprendizado.
A pauta seguiu prioritária na transição para a atual gestão: o movimento Ribeirão Pela Educação — articulado pelo IR2030 em parceria com especialistas de outras organizações — destacou o PMPI como uma das seis prioridades para o prefeito Ricardo Silva.
O movimento chegou a formalizar o interesse em colaborar tecnicamente na elaboração do documento, mas, apesar da oferta, o Grupo de Trabalho da prefeitura responsável pela coordenação nunca saiu do papel, impedindo o avanço do plano.
Tais propostas dialogam diretamente com as recomendações técnicas de outros institutos de atuação nacional que cobram a implementação dessa agenda. Quem já está nessa luta há mais tempo reforça a necessidade da integração entre saúde, educação e assistência social, além da criação de sistemas unificados de dados que permitam acompanhar a trajetória das crianças e orientar decisões baseadas em evidências.
Experiências bem-sucedidas em Recife e Fortaleza, capitais nas quais o plano já está em vigor há mais de uma década, assim como São Paulo e Fortaleza, onde o documento é atualizado a cada 10 anos, mostram que resultados sólidos dependem dessa capacidade de integração — um caminho que Ribeirão Preto precisa seguir. Somando esforços, o Instituto Ribeirão 2030 confirma suporte técnico e institucional para a discussão, implementação e acompanhamento contínuo do Plano Municipal da Primeira Infância.
A união entre especialistas, movimentos sociais, organizações independentes e poder público é o caminho para que a cidade avance de forma consistente no tema. O futuro começa pela primeira infância. Planejar bem esse início é garantir que todas as crianças tenham acesso às oportunidades que merecem e que Ribeirão Preto tenha condições reais de construir um amanhã mais justo e sustentável para todos.
* Entidade do terceiro setor de Ribeirão Preto que atua na fiscalização, proposição e qualificação de política públicas locais

