Por Adalberto Luque
Kelly Ferreira de Oliveira Silva, de 20 anos, estava grávida de 22 semanas. Natural de Patrocínio (MG), residiu em Portugal e tinha retornado há pouco tempo ao Brasil.
Na tarde de 18 de julho ela seguia em um GM Ágile quando, na altura do km 261 da Rodovia Anhanguera (SP-330), sentido Sul, altura do município de São Simão (região metropolitana de Ribeirão Preto), houve uma colisão traseira.
O Ágile onde estava Kelly foi atingido, por motivos a serem esclarecidos, por um Fiat Ducato. No Ágile, além da gestante, estavam um homem e uma criança. Ambos tiveram ferimentos leves.
O motorista da Ducato sofreu ferimentos moderados. Os três foram encaminhados para um hospital em Santa Rita do Passa Quatro. Já Kelly não teve a mesma sorte. Morreu no local do acidente.

A cena do corpo da jovem gestante coberta, no canteiro central da rodovia, causou comoção aos motoristas e passageiros que passavam pelo local nos dois sentidos.
A Polícia Militar Rodoviária (PMRv) precisou interditar parcialmente o local do acidente, para os trabalhos de resgate, perícia técnica e remoção dos veículos. A interdição durou cerca de três horas, até que a pista fosse parcialmente liberada e causou um grande congestionamento na pista sentido à Capital.
Kelly foi sepultada no dia 20 de julho, no Cemitério Municipal de Patrocínio (MG).
Sinalização
Como em todo o trecho da Anhanguera administrado pelas concessionárias Entrevias e Artesp ViaPaulista, que vai da divisa com o estado de Minas Gerais (às margens do Rio Grande), até Santa Rita do Passa Quatro, a Anhanguera é uma rodovia muito bem-sinalizada.
Além disso, o asfalto na rodovia é de boa qualidade. O trecho, raramente, tem relatos de animais na pista. O total administrado pelas concessionárias, apenas na SP-330, é de 212,5 quilômetros.
A Artesp ViaPaulista é responsável pelo trecho entre os quilômetros 240,5 (em Santa Rita do Passa Quatro), até o km 318,5 (próximo ao Anel Viário Norte, em Ribeirão Preto). Um total de 78 quilômetros de pista.
Já a Entrevias administra um trecho pouco maior, com 134,5 quilômetros, da altura do km 318,5 até o km 453, em Igarapava. Nos dois trechos, a rodovia tem pista dupla, com pelo menos duas faixas de rolamento em cada sentido.
Todo o trecho sob concessão tem canteiro central, acostamento, várias áreas de descanso, monitoramento por câmeras e por veículos das concessionárias e limpeza constante. Além disso, há vários pontos dos Serviços de Atendimento aos Usuários (SAUs), pontos de apoio aos viajantes, onde é possível descansar durante a viagem, usar sanitários e ter acesso a água potável natural e gelada, por exemplo.
Nestes pontos também costumam ficar veículos de apoio, como para socorro mecânico, guincho e ambulância para socorro em casos de acidentes. Eles são deslocados à medida em que as necessidades surgem.

Com todos esses requisitos cumpridos, seja em razão das exigências previstas em concessão, seja por zelo das concessionárias, a Anhanguera tem tudo para ser considerada uma das rodovias mais seguras do País. Estruturalmente não deixa de ser.
Mas, a julgar pelo total de acidentes apurado pelas concessionárias, não é demais pensar em redobrar a atenção ao trafegar pela rodovia. Os veículos de apoio das concessionárias acabam de deslocando mais vezes do que se imagina.
Números
No trecho entre Santa Rita do Passa Quatro e o perímetro urbano de Ribeirão Preto, a Artesp ViaPaulista registrou, de janeiro a junho deste ano, 345 acidentes. Foram quatro vítimas fatais e 164 feridos.
Os números, de acordo com a concessionária, não deixam de ser dignos de nota. No mesmo período em 2024, o trecho registrou 373 ocorrências, com oito vítimas fatais e 221 feridos. Se comparado ao mesmo período deste ano, há uma redução de 7,5% nos acidentes e uma queda significativa no número de vítimas fatais (50%) e de feridos (26%).
Mas os acidentes registrados no trecho de 78 km sob concessão da Arteris ViaPaulista não deixam de ser preocupantes. Mesmo porque a rodovia é, como já descrito anteriormente, muito bem conservada.
Trecho urbano
Pedro Henrique Cardoso, de 23 anos, havia acabado de acessar, com sua moto, a rodovia Anhanguera na pista Sul. Poucos metros adiantes, na altura do km 311, zona Lesta de Ribeirão Preto, por motivos a serem esclarecidos, bateu com a moto na lateral de um VW Gol, que seguia no mesmo sentido.
A colisão fez com que Cardoso fosse ao solo. Acabou atropelado por uma carreta que seguia na pista da direita, no mesmo sentido, transportando 60 mil litros de etanol.
Um dos pontos mais nevrálgicos desta concessão é justamente o perímetro urbano de Ribeirão Preto, entre os kms 303 (acesso à avenida Demétrio Charuri, no limite das zonas Sul e Leste da cidade) e 318,5, onde termina a concessão.

Há acidentes quase que diariamente. Boa parte de pequeno impacto no trânsito, sem necessidade de interdição ou remoção dos veículos. Isso se deve ao grande fluxo de veículos que por lá circula, sobretudo nos horários do começo do dia e início da noite, quando as pessoas se deslocam de casa para o trabalho e retornam às suas casas.
Muitos bairros estão às margens da rodovia, em seus dois lados. Áreas como Jardim Interlagos, Parque dos Servidores, Cândido Portinari, Jardim Salgado Filho II e Complexo Ribeirão Verde, por exemplo.
Colisão traseira
Um homem de 46 anos morreu, na madrugada de 20 de agosto, após um acidente que envolveu três carretas. O acidente foi na altura do km 331, pista sentido Sul, em Jardinópolis.
As três carretas seguiam sentido a Ribeirão Preto quando, por motivos a serem esclarecidos, um Mercedes Benz que seguia à frente foi atingido na traseira por um Scania. Com a colisão, o veículo que bateu atrás ficou atravessado, obstruindo as duas faixas de rolamento.
O motorista de um Iveco, que vinha atrás, não conseguiu frear a tempo e bateu na Scania, que estava atravessada. O motorista do Iveco morreu preso às ferragens.
De acordo com a Entrevias, que administra o trecho que vai de Ribeirão Preto até o Rio Grande, na divisa entre os estados de São Paulo e Minas Gerais, a colisão traseira é o principal tipo de ocorrência registrada neste trecho. A maior causa, neste tipo de acidente, é a falta de atenção do condutor.
Entre janeiro e agosto de 2025, a concessionária registrou, neste trecho da Anhanguera, 307 ocorrências, contra 276 ocorridas no mesmo período de 2024. No ano passado houve oito mortes nos acidentes. Neste ano, o número quase dobrou, foram 14. O número de feridos também foi maior, com 134 em 2025, contra 118 em 2024.
A concessionária registrou média mensal de 43,8 acidentes em 2025, no trecho da Anhanguera sob sua concessão. A exemplo do trecho administrado pela outra concessionária da região, os 134,5 kms de pista sob concessão da Entrevias têm sinalização eficiente, pista com malha asfáltica em boas condições e predominantemente com retas e poucas curvas.
Nos 212,5 km de SP-330 administrados pelas duas concessionárias da região de Ribeirão Preto, a média chega a 101 acidentes por mês em 2025. Isso representa um acidente a cada oito horas.
Sem contar vidas perdidas (18 no total) e feridos (298 na área das duas concessionárias), num total de 652 acidentes, além dos gastos com os danos dos veículos, socorro aos envolvidos no acidente, medicamentos e internações hospitalares, advogados, seguro e tudo o que envolve uma colisão, o valor aumenta exponencialmente se, em pelo menos um dos acidentes diários, for preciso interditar a pista, parcial ou integralmente.
Essa interdição causa prejuízos também a quem não está envolvido no sinistro. Seja por atraso para chegar ao trabalho, compromisso ou consulta médica, seja por conta da demora na entrega de produtos e mercadorias. Melhor mesmo é evitar a falha humana, cada qual fazendo sua parte, por um trânsito mais seguro.
Socorro e acompanhamento
Além de prestarem socorro aos envolvidos em acidentes – mesmo no caso em que não há vítimas, mas é preciso ajuda mecânica -, as concessionárias da região de Ribeirão Preto acompanham de perto a evolução nos números de colisão.

De acordo com Ana Gonçalves Caetano, gerente de operações da Arteris ViaPaulista, a concessionária realiza o acompanhamento de todas as ocorrências registradas no trecho sob concessão da ViaPaulista e na Rodovia Anhanguera.
“Constatamos como principal causa dos acidentes o desrespeito às regras de trânsito e o excesso de velocidade, ocasionando principalmente acidentes do tipo colisão traseira. O trecho da via Anhanguera sob nossa gestão está devidamente sinalizado, com infraestrutura em dia, pavimento adequado e sem qualquer problema estrutural. Realizamos também diversas campanhas de conscientização, mas a atitude do motorista ainda é determinante”, diz Ana Caetano.
O especialista em segurança viária da Entrevias, Ariel Garavine, aponta que são realizadas diversas ações educativas ao longo do ano para conscientizar os motoristas, justamente porque a boa condução é o principal reflexo nos números de acidentes.
“Nós temos um estudo que mostra que 98% das ocorrências são causadas por falha humana ou falha mecânica, que automaticamente está ligado a falha humana, já que o veículo depende de uma pessoa para levá-lo para a manutenção. Então os motoristas precisam se conscientizar que o trânsito não aceita desculpa e qualquer descuido pode ser fatal”, conclui Garavine.
Falha humana
De acordo com o Painel CNT de Acidentes Rodoviários de 2024, da Confederação Nacional de Transportes (CNT), 90% dos acidentes de trânsito no Brasil são causados por falha humana. Isso significa que nove em cada dez acidentes de trânsito no Brasil têm como causa o comportamento humano.

O levantamento reforça dados do Observatório Nacional de Segurança Viária, que aponta falhas de conduta como fator determinante na maioria dos sinistros. Entre os comportamentos de risco mais frequentes estão excesso de velocidade, desrespeito à sinalização, uso de celular ao volante, fadiga e não utilização do cinto de segurança.
O segundo fator causador de acidente é a falha mecânica, registrado em 5% dos acidentes. Neste caso, pode estar, direta ou indiretamente ligado à falha humana, uma vez que a manutenção é dever do condutor do veículo para evitar riscos, sobretudo em viagens intermunicipais.
Dados do Onisys, ferramenta de prevenção de acidentes, mostram que as longas jornadas de trabalho de motoristas profissionais ampliam os riscos nas rodovias. Motoristas submetidos a extensas horas ao volante ficam mais suscetíveis à fadiga extrema, que reduz reflexos e atenção, comprometendo a capacidade de reação diante de imprevistos. Esse quadro eleva significativamente a probabilidade de colisões, saídas de pista e tombamentos.
Apesar de problemas de infraestrutura ainda serem relevantes, como apontam os 2.446 registros de buracos, erosões, quedas de barreira e pontes caídas identificados pela Confederação Nacional do Transporte, sobretudo em rodovias federais, os especialistas destacam que a grande maioria dos sinistros decorre do comportamento humano. Assim, os dados de 2024 indicam que a prevenção, associada a práticas seguras de direção e gestão adequada das jornadas, é o principal caminho para reduzir os acidentes nas estradas brasileiras.

