Tribuna Ribeirão
Saúde

As causas da enxaqueca

Maria Fernanda Ziegler
Agência Fapesp

Sabe-se que, de alguma forma, a enxaqueca está re­lacionada a dores nos mús­culos da mastigação. Mas a relação com a disfunção tem­poromandibular (DTM) – que ocorre na articulação da mandíbula com o crânio – era feita independentemente da frequência da enxaqueca. Em estudo recém-publicado, pes­quisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMPR) da Universidade de São Paulo (USP) descrevem que quanto mais frequente for a enxaqueca (migrânea crônica) mais severos serão os sintomas de DTM, como dificuldade de mastigação e tensão na articulação tempo­romandibular.

“Nosso estudo mostrou que um paciente que apresente mi­grânea crônica – aquela que ocorre em 15 ou mais dias por mês – tem o triplo de chances de relatar sintomas mais seve­ros de DTM, se comparado a pacientes com migrânea episó­dica”, disse Lidiane Florêncio, autora do estudo que integra o Projeto Temático “Estudo da associação de aspectos clínicos, funcionais e de neuroimagem em mulheres com migrânea”, apoiado pela Fapesp.

Os dados foram publica­dos no “Journal of Manipu­lative and Physiological The­rapeutics”. O estudo avaliou 84 mulheres na faixa dos 30 anos. Vinte e uma apresen­tavam migrânea crônica, 32 migrânea episódica e 32 não tinham migrânea. Foram ob­servadas taxas de prevalência de sinais e sintomas de DTM em 54% das mulheres sem enxaqueca, 80% das mulheres com enxaqueca episódica e em 100% daquelas que apre­sentavam enxaqueca crônica. Para Florêncio, a justificativa da associação entre frequên­cia da enxaqueca e severidade da DTM pode estar nos níveis mais elevados de sensibiliza­ção desses pacientes.

“A repetição de casos de enxaqueca pode amplificar a sensibilização à dor. Nossa hi­pótese é que a enxaqueca atue como um fator que predis­põe à DTM. Por outro lado, a DTM pode ser considera­da um fator de perpetuação potencial para a enxaqueca, pois atua como uma entrada nociceptiva [de recepção de estímulos aversivos] constan­te que contribui para manter a sensibilização central e os processamentos anormais de dor”, disse.

Quem veio primeiro – DTM e enxaqueca são comor­bidades. No entanto, embora haja uma predisposição de quem tem enxaqueca apre­sentar DTM, não necessaria­mente quem tem DTM apre­sentará enxaqueca. “Quando o paciente tem enxaqueca, há maior chance de ele apresentar sinais e sintomas de DTM, já o inverso não é verdadeiro. Há casos de pacientes com DTM severa sem apresentar ne­nhum quadro de enxaqueca”, disse Débora Grossi, orienta­dora do estudo e coordenado­ra do Projeto Temático.

Os pesquisadores esti­mam, no entanto, que, embo­ra a DTM não seja a causa da enxaqueca, ela pode facilitar a frequência e severidade de uma nova crise. “O que sabe­mos é que a migrânea não é causada pela DTM. A enxa­queca é uma doença neuro­lógica com causas multifato­riais. Já a DTM, assim como a cervicalgia e outras doenças musculoesqueléticas, é um conjunto de fatores que piora a sensibilidade de quem tem en­xaqueca. O fato de ter a DTM pode piorar a migrânea, tanto em severidade quanto em fre­quências”, disse Florêncio.

Tanto enxaqueca quanto DTM têm mecanismos pa­tológicos muito parecidos. A enxaqueca é uma condição que afeta 15% da população em ge­ral, sendo que 2,5% delas têm progressão na forma crônica. A DTM tem causas multifato­riais, como o estresse e a sobre­carga muscular. Ela é um con­junto de sinais e sintomas em que o paciente pode ter sinais e sintomas articulares, como dor na articulação, redução dos movimentos da mandíbula e estalidos, podendo apresentar também um quadro muscular, como dor e cansaço muscular, ou irradiação da dor na muscu­latura da face e pescoço.

Diante dos resultados, os pesquisadores defendem que pacientes com enxaqueca de­vem ter os sinais e sintomas da DTM clinicamente exa­minados. “Os dados obtidos mostram que a relação com a DTM, apesar de existir, é menor em quem tem poucas crises de enxaqueca, ou enxa­queca episódica. Só essa in­formação já deveria mudar a forma de avaliar esse paciente. Se quem tem enxaqueca tende a ter DTM mais severa, é pre­ciso então que os profissionais de saúde avaliem nos pacientes com enxaqueca se ele apresen­ta sinais de sintomas de DTM”, disse Grossi.

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