Maurilio Biagi Filho *
As homenagens póstumas não mudam o que é irreversível, mas oferecem às famílias enlutadas e aos amigos um bálsamo de reconhecimento, acolhimento e pertencimento. São uma forma de eternizar nossos entes queridos na memória coletiva, inserindo-os também na história da cidade.
Por isso, cumprem não apenas um papel afetivo, mas também educativo, multiplicando conhecimento sobre legados importantes.
Neste ano, Ribeirão Preto tem assistido a iniciativas significativas nesse sentido. O viaduto que recebeu o nome dos advogados Brasil e Marcelo Salomão, pai e filho que partiram com apenas uma semana de diferença, tornou-se símbolo de afeto e gratidão da comunidade.
Aliás, por coincidência, esta semana Dr. Brasil faria 84 anos. Posteriormente, o empresário e produtor rural Flávio Prudente Corrêa, que já foi presidente do Sindicato Rural de Ribeirão Preto e cidadão benemérito, foi lembrado com a denominação de uma importante avenida.
Exemplos que, assim como tantos outros ao longo dos anos, ajudam a manter vivos os legados de pessoas que marcaram a história da cidade. É nesse mesmo movimento de reconhecimento que se destacam também os títulos de cidadania e de benemerência concedidos pelo Poder Legislativo.
Ao homenagearem personalidades que contribuem de forma decisiva para o desenvolvimento social, econômico, cultural e institucional de Ribeirão Preto, esses títulos ampliam o sentido de pertencimento e fortalecem a ligação entre indivíduos e comunidade.
Nos últimos dois anos, dentre tantos outros, empresários como Rubens Ometto Silveira, João Carlos Marchesan, Dázio Vasconcelos, Artur Monassi eTanielson Campos; Carlos Gilberto Carlotti Junior, reitor da USP, Ricardo Carvalho Cavalli, presidente da FAEPA, Marcos Guimarães de Andrade Landell,pesquisador do IAC; Eulália dos |Santos, atleta; Verônica Ferriani, cantora; Dulce Neves, jornalista e presidente da Fundação do Livro e Leitura; Renato Mosca de Souza, embaixador do Brasil na Itália são exemplos de figuras de diversos setores que, ao receberem essas honrarias, têm suas trajetórias incorporadas à memória oficial da cidade.
São gestos que celebram vidas em plena atuação, estimulando novas gerações a reconhecer e valorizar quem dedica seu trabalho ao bem comum. Seja no nome de uma rua, de uma escola, de uma praça, de um viaduto ou de um parque, cada lembrança oficial transforma a saudade em memória ativa e a perda em inspiração.
Brinco, às vezes, que eu mesmo vivo uma pequena confusão: meu pai, também chamado Maurilio Biagi, foi homenageado com um parque e uma avenida em Ribeirão Preto. E, como me cedeu o seu nome, muitos pensam que a homenagem é para mim.
Não é o caso; cabe a mim apenas honrar o legado dele todos os dias, e é o que procuro fazer na minha vida. Essa coincidência ilustra bem como as homenagens cumprem outro papel: o de lembrar que ninguém parte de fato quando deixa raízes profundas.
Há três anos essa reflexão ganhou para mim um sentido ainda mais profundo, com a partida de minha esposa, Vera Lúcia de Amorim Biagi — ausência sentida diariamente pela família, pelos amigos e por todos que tiveram o privilégio de conviver com ela. Ao mesmo tempo, é uma presença que se mantém viva, especialmente desde que Ribeirão Preto lhe prestou a bela homenagem de batizar um parque no bairro Ribeirânia com o seu nome.
Esse gesto da cidade nos trouxe conforto e reforçou a certeza de que Vera, que tanto amava e cuidava da natureza, continuará presente na memória de muitos.
Essas iniciativas, no entanto, não devem se restringir ao campo da saudade. Podem, e devem, assumir também um caráter pedagógico. Já pensou se cada placa viesse acompanhada de um QR Code, oferecendo acesso a minibiografias dos homenageados?
É apenas uma ideia, mas com a intenção de compartilhar conhecimento, ampliando o alcance das histórias de vida e suas conexões com a cidade.
Esse esforço de preservação da memória coletiva se expressa de outra forma igualmente valiosa: a recuperação de edifícios históricos. Se as placas e denominações mantêm vivas as lembranças pessoais, os casarões e patrimônios restaurados guardam a história material e cultural de famílias que ajudaram a construir Ribeirão Preto.
Entre eles, a residência de Pedro Biagi, hoje transformada no Museu Casa da Memória Italiana; o casarão de Camilo de Matos, ex-vereador e ex-prefeito de Ribeirão Preto; a casa do engenheiro Jorge Lobato, ex-presidente da Câmara Municipal, transformado hoje no Palacete 1922; e tantos outros que resistem ao tempo. Somam-se a isso iniciativas como a campanha Salve a Catedral, que mobiliza a sociedade para restaurar esse símbolo da cidade.
Aliás, nesses edifícios todos também caberia nas paredes um textinho contando a importância de quem o fez ou do homenageado e o que eles significam para a cidade.
Aos que receberam homenagens e às famílias que carregam suas lembranças, fica a certeza de que esses gestos de reconhecimento são mais do que nomes em logradouros ou pedras preservadas em edifícios. São formas de eternizar histórias, dar continuidade a legados e reafirmar o quanto essas pessoas e espaços foram, e continuam sendo, parte essencial da nossa comunidade. É, acima de tudo, uma afirmação de pertencimento e identidade.
* Empresário

