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As vozes femininas de Odete, Rita, Ana e Laurene

Foto: Arquivo

A Biblioteca Mário de Andrade, no Centro de São Paulo, apresenta até 14 de julho “Cala a Boca Já Morreu!”, uma inter­venção artística onde 101 frases na voz de mulheres ecoam por caixas de som. O trabalho da artista Ana Teixeira teve início em 2019, a partir da pergunta “O que você não quer mais calar”? Quem tiver a oportunidade, deve conhecer. Ana nasceu em Caçapava (SP), em 1957. Formada pela ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP é mestra em Poéticas Visuais pela mesma Universidade.

Nesta semana a repórter Laurene Santos tentou entrevistar o presidente da república, porém foi agredida quando ele a mandou “calar a boca” e classificou seu trabalho de “porco”. Nascida em Taubaté (SP), a jovem de 27 anos é formada em jornalismo, possui MBA em gerência empresarial, com foco em recursos humanos e talvez jamais tenha enfrentado uma situação tão constrangedora.

Tentar calar as vozes femininas não é novidade, a resis­tência delas também, tanto que uma frase no último discurso de Marielle Franco continua viva “Não serei interrompida”. Atualmente a mulher tem autoconfiança, faz suas próprias es­colhas e luta pelo empoderamento e protagonismo, superando as muitas gerações que tentaram destacar apenas os homens e subjugá-las ao papel de coadjuvantes. Tive a honra de conhecer várias mulheres especiais, duas delas graças à literatura, Odete Silva Dias e Rita Marciana Mourão.

Odete nasceu em 1937, em Jeriquara, interior paulista, na fazenda Japão. Gradou-se em Filosofia e Enfermagem, onde é especialista. Buscou resgatar a história de sua família, transfor­mando-a em livro. Seguiu o projeto e agora lança seu terceiro livro, “Identidade: o tempo como senhor da história II – Os Emigrados”. A autora visitou vários países em busca de conhe­cimento e respostas aos seus “porquês”. Também revisita a his­tória/memória da humanidade a partir da trajetória do povo negro. Percorre os pensamentos animista, mitológico, religioso e científico. Embora insista em afirmar que não é uma historia­dora, nos brinda com uma linda e esclarecedora aula.

Rita Mourão nasceu 1934, em uma fazenda de Piumhi, interior mineiro. Professora, escritora premiada, foi homena­geada na Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto em 2016. Define a poesia como seu grito de liberdade diante do que quer e se permite viver. Seu sexto livro, “Maria, Marias”, mergulha no universo feminino, apresenta diversas mulheres, em especial as sertanejas. Também expõem as várias Marias que carrega dentro de si.

A Constituição Federal, em seu artigo 220 consagrou: “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição… “Assim, seja através do jornalismo, da literatura ou das diversas áreas culturais, as mulheres seguem exercendo seus sagrados e constitucio­nais direitos de existir, pensar e falar. Também existe outro direito, expresso em uma das frases da exposição “Eu quero ser protagonista da minha história”.

Provavelmente Ana e Lauren não se conheçam, mas suas trajetórias se encontram em desafios diários. Os destinos de Odete e Maria já se cruzaram em saraus, feiras e reuniões na Casa do Poeta e do Escritor ou na União dos Escritores Inde­pendentes. Agora o reencontro é virtual nas mãos de privile­giados leitores. Suas vidas são testemunho do poder feminino, da capacidade de resistir, lutar e ir além. Mulheres fortes, admiradas e exemplos, na vida pessoal e na produção literária.

Ao conhecer essas histórias, aumentamos a consciência de que nada pode calar as vozes femininas de Odete, Rita, Ana, Laurene e tantas Marias espalhadas por nosso Brasil.

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