Mapeamento mostra força da Cadeia Produtiva Local Bioenergia e aponta desafios e oportunidades na transição energética
Sertãozinho e 15 municípios do entorno – Barrinha, Brodowski, Cravinhos, Dumont, Guariba, Jaboticabal, Luís Antônio, Matão, Pontal, Ribeirão Preto, Jardinópolis, Pitangueiras, Serrana, Pradópolis e Viradouro – acabam de ganhar um diagnóstico inédito sobre a força da sua indústria de base voltada à bioenergia.
O Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (Ceise Br) apresentou o Mapeamento da Cadeia Produtiva de Equipamentos para Fabricação de Biocombustíveis e Bioenergias, estudo realizado pela consultoria Markestrat com fomento da Cadeia Produtiva Local (CPL) Bioenergia, cuja governança é liderada pela entidade.
O levantamento revela a dimensão econômica, o perfil da mão de obra e o portfólio produtivo de uma região que já se consolida como elo estratégico da transição energética global. A CPL Bioenergia reúne 18,6 mil empresas em 16 municípios, que juntas faturaram R$ 37,1 bilhões em 2024 e empregam mais de 105 mil trabalhadores, com massa salarial de R$ 4,1 bilhões.
Os salários médios são 20,4% superiores aos da média regional e a escolaridade da força de trabalho é 12% mais alta, evidenciando maior qualificação técnica. O segmento Máquinas e Equipamentos lidera em faturamento, com R$ 24,4 bilhões, 27,6 mil empregados e a maior densidade empresarial da cadeia.
É o núcleo que sustenta a operação das usinas, fornecendo tecnologias para todas as etapas da produção de biocombustíveis e bioenergias. Segundo Fernando de Cesare Kolya, coordenador geral do mapeamento, “o estudo revelou um cenário extremamente promissor para a CPL, destacando um conjunto avançado de capacidades de produção que engloba máquinas, equipamentos e serviços de alto nível”, diz.
“Com milhares de empresas e uma força de trabalho altamente qualificada, a CPL está bem posicionada para se consolidar como um polo tecnológico de referência no setor de biocombustíveis”. O relatório conecta os números regionais ao cenário mundial da energia.
Até 2050, 33% da matriz energética global será composta por fontes renováveis (eram 8% em 2010). Apenas em 2024, o mundo investiu US$ 2,1 trilhões na transição energética, mas será preciso ampliar em 168% esse valor para atingir as metas climáticas.
O Brasil desponta nesse contexto: tem elevada participação de renováveis, tradição em biocombustíveis e mercado promissor – que deve mais que dobrar até 2035, chegando a US$ 45,8 bilhões. A CPL Bioenergia é peça-chave nesse movimento, fornecendo equipamentos, tecnologias e serviços que viabilizam desde o etanol de segunda geração até biogás, biometano, HVO e SAF (combustível sustentável de aviação).
Desafios que pedem resposta – O estudo também aponta gargalos que podem limitar o crescimento da cadeia, como acesso restrito a crédito, carga tributária elevada, carência de mão de obra técnica, ausência de políticas públicas específicas para bens de capital da bioenergia, instabilidade cambial e entraves logísticos para exportação.
Para Rosana Amadeu, presidente do Ceise Br, o diagnóstico é estratégico. “Estamos falando de um polo industrial com vocação natural para liderar a bioeconomia brasileira. Temos empresas capazes de fornecer soluções para o mundo, mas precisamos de políticas consistentes, financiamento acessível e qualificação contínua. Esse estudo é o ponto de partida para unir setor privado, governo e instituições de ensino em torno de um plano claro para os próximos anos”.
Governança e articulação – A governança da CPL Bioenergia reúne Ceise Br, Ciesp Regional Sertãozinho, Escola Senai Ettore Zanini, Faesp Regional Ribeirão Preto, Fatec Sertãozinho, IFSP Sertãozinho, Fenasucro & Agrocana, prefeitura de Sertãozinho e Sebrae Regional Ribeirão Preto. Essa rede é considerada estratégica para fomentar inovação, competitividade e práticas ESG no polo industrial.
Perspectiva – Com um parque industrial consolidado, mão de obra qualificada e forte integração com as usinas, a CPL Bioenergia reúne condições únicas para se tornar hub exportador de tecnologia limpa. O desafio agora é transformar potencial em liderança consolidada – e os números apresentados mostram que Sertãozinho e região já têm a base para isso.

