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Caçadores de raridades

Mercado de camisas de futebol está em alta | Foto: Hugo Luque

Por Hugo Luque

 

Um hobby, uma paixão e até mesmo uma profissão. Colecionar faz parte da vida de milhões de brasileiros. No futebol, um dos nichos com mais apaixonados é o das camisas de time e, no próximo sábado (6), Ribeirão Preto recebe a segunda edição do Encontro de Colecionadores de Camisas de Futebol da cidade.

O evento será realizado no Empório Brasília, localizado na Rua Florêncio de Abreu, 1.059, no Centro, das 11h às 17h. Organizador da festa do colecionismo, o empresário Brunno Faustino Malzoni espera ainda mais participantes do que na primeira edição. Neste ano, quem doar um alimento não perecível concorrerá a um voucher para gastar na loja RP Camisas de Futebol. A arrecadação terá como destinação a Casa do Vovô.

“Espero que o segundo evento tenha ainda mais participantes, sejam eles expositores ou colecionadores. No primeiro, não tínhamos muita ideia da adesão das pessoas, mas foi um grande sucesso. Houve momentos em que algumas pessoas tiveram de aguardar do lado de fora para entrar no local do encontro, de tantas pessoas que estavam lá. Recebemos pessoas de Sertãozinho, Pontal, Jardinópolis e Franca”, conta.

Brunno Faustino Malzoni vai organizar evento em Ribeirão | Arquivo pessoal

Dono da loja de camisas atuais e de época, Malzoni observa uma acessibilidade cada vez maior no segmento. Embora o interesse, segundo ele, sempre tenha existido, hoje em dia é mais fácil encontrar a camisa dos sonhos e efetuar a compra, sobretudo no caso das “retrô”.

“Eu acho que sempre houve interesse dos colecionadores nessas camisas de época, mas o que ocorre atualmente é a facilidade em se encontrar esse tipo de camisas em brechós especializados, principalmente os online, que você pode ‘garimpar’ suas camisas sem sair de casa. Hoje em dia é muito mais fácil você encontrar uma camisa que seja seu sonho de aquisição justamente pela facilidade de procurar na internet. Antigamente podia levar anos para achar determinada camisa. Para quem é do meio do colecionismo, não percebo um aumento na venda de camisas, o que percebo realmente é o aumento nas opções de lojas especializadas”, opina.

A fala do empresário vai de acordo com o que observa Fredy Tavares, um dos maiores colecionadores de camisas do São Paulo Futebol Clube. Natural da capital paulista, o bancário trouxe sua coleção à partida comemorativa dos 20 anos do terceiro título mundial do Tricolor, realizada no Estádio Santa Cruz/Arena Nicnet, no início de novembro. De acordo com ele, o hobby ficou mais acessível, mas a concorrência também aumentou e o trabalho continua complexo.

“Não é uma tarefa fácil para quem quer começar hoje. Eu voltei a colecionar por volta de 2012, quando realmente quis entrar de novo nesse hobby. Recorri, num primeiro momento, a um site de compras. Numa dessas compras, fui retirar pessoalmente e o vendedor me disse que havia um grupo de colecionadores no Facebook. Uma vez que entrei, conheci vários grupos. Você começa a conhecer as pessoas, elas começam a te conhecer e a se interessar pelo que você gosta, então as coisas aparecem e vão te indicando.”

“É árduo. É um hobby que puxa bastante. Falei de como as camisas chegam, mas faltou dizer que isso me exige ‘garimpar’ todo dia. Procuro diariamente em sites de vendas de coisas usadas, procuro contato de brechó, falo com vendedores de camisas de time. Tem de ficar muito de olho nos canais de venda, porque uma camisa boa, quando aparece, você tem de ser rápido. Não adianta enrolar muito porque alguém vai pegar e você vai ficar chorando”, comenta Tavares, que aproveita qualquer pausa durante o dia para pesquisar.

 

Consumidor e vendedor

Cada colecionador tem seu objetivo. O de Tavares é encontrar e adquirir camisas de época utilizadas por atletas do São Paulo, mas ele evita usar as peças no dia a dia por conta do desgaste. Além do cuidado com o material das peças, o paulistano também precisa manter a “cabeça no lugar” para não ceder à procura de outros fanáticos.

“Para abrir meu Instagram, o @acervo_spfc, não foi fácil, porque um dos meus maiores receios aconteceu e me exigiu uma mentalidade de cabeça no lugar. Quando você mostra sua coleção, as pessoas oferecem dinheiro por ela. Você tem de estar preparado para dizer não, mas às vezes a proposta é complicada”, afirma.

A lista das intocáveis de Tavares passa pelos ídolos mais esperados, como Rogério Ceni, Raí, Darío Pereyra, Zetti e Valdir Peres, mas também conta com uma verdadeira relíquia tricolor: a primeira camisa patrocinada do clube, de 1982, com a inscrição Cofap, utilizada nas finais do Paulistão daquele ano. O bancário alega ser o único detentor das peças – são três modelos.

Existe, ainda, o outro lado: o do empreendedorismo. Enquanto Fredy Tavares evita vender suas peças, Brunno Malzoni faz deste mercado sua fonte de renda. De acordo com projeção realizada pelo Business Research Insights, o mercado global de camisas de futebol deve subir de US$ 6,84 bilhões em 2025 para US$ 11,74 bilhões em 2035, e o empresário de Ribeirão Preto trabalha para ser parte do movimento e realizar sonhos de fanáticos ao redor do país.

“A loja vai fazer dois anos em fevereiro. Eu sempre fui colecionador, desde pequeno, então sempre tive muitas camisas na minha coleção. Em uma ocasião, no final de 2023, eu ia fazer uma viagem com a minha família e, para aumentar o orçamento do passeio, pensei em vender algumas camisas da minha coleção que não usava mais. Entrei em contato com algumas lojas e todas aceitaram comprar um lote de umas 16 camisas que eu tinha sem ao menos negociar o preço. Achei aquilo estranho. Foi quando decidi dar uma pesquisada maior nos valores das camisas que eu estava vendendo e somente uma das que eu coloquei à venda no lote valia quase a metade do valor do lote todo que eu havia pedido.”

Foi quando Malzoni decidiu abrir o comércio virtual. Desde então, foram mais de mil camisas vendidas, quase 9 mil seguidores nas redes sociais e, atualmente, são 450 peças disponíveis na loja, que é administrada somente por ele.

 

Olhar atento

Com o crescimento do colecionismo de camisas de futebol, aumentou também a facilidade de encontrar réplicas não oficiais cada vez mais fiéis às originais – as famosas “tailandesas”. Por isso, o olho de quem compra, vende e guarda itens de valor histórico precisa ser treinado.

“Hoje em dia as réplicas estão cada vez mais próximas das originais, mas em algumas marcas você consegue identificar a autenticidade através de um código que vem nas etiquetas em todas as camisas. Isso nas mais atuais. As mais antigas somente com uma avaliação pessoalmente para você conseguir atestar”, explica Malzoni, que também entende o lado do consumidor, dado o elevado preço das novas camisas originais dos clubes.

Fredy Tavares possui cerca de 400 camisas do São Paulo | Foto: Hugo Luque

“Acho que às vezes é a única maneira que a pessoa tem de comprar uma camisa por um preço mais acessível do que em uma loja. Na minha coleção pessoal não tenho nenhuma e na loja também não vendo réplicas, mas nada contra quem opta por essas camisas.”

No caso de Fredy Tavares, que tem como principal foco as camisas de antigamente, a situação muda. O “expert” tricolor garante que consegue facilmente distinguir os modelos, sobretudo aqueles utilizados em campo.

“Quando você pega uma camisa de jogo, ela tem história, foi preparada para ser usada por um jogador ou foi para o vestiário. São características diferentes das camisas de loja. A olho nu, para quem não conhece, talvez pareça tudo igual, mas um colecionador de longe consegue saber se é de loja, se é original ou se não é”, acrescenta o bancário.

 

A criança interior

Seja para negócios ou prazer, reunir raridades do futebol exige uma paixão que, na maioria das vezes, serve como uma forma de viver a nostalgia. É uma “viagem no tempo” para um período mais simples.

“Comecei quando ainda era muito moleque. Sempre gostei do São Paulo e de ter uma camisa nova do ano. Naquela época, as camisas não mudavam muito. Eu tinha a camisa, trocava o patrocínio e eu queria outra. Parei de colecionar informalmente quando tinha uns 18 anos e retomei muito forte em 2012”, diz Tavares.

Agora adulto e pai, o são-paulino ostenta em torno de 400 peças somente do Tricolor, sendo a mais antiga uma de 1967. Mas a busca continua. O grande sonho do colecionador é adquirir a camisa branca do Brasileiro de 1977, além dos modelos dos mundiais de 1992 e 1993, que não tinham patrocínio por conta de restrições impostas pela Fifa. Tavares, inclusive, se coloca à disposição para negociar com alguém que possua os itens, e toparia fazer loucuras.

“Eu já tive camisa que trouxe da Alemanha, do Brasileirão de 1977, a camisa listrada. Um amigo meu conhecia um colecionador na Alemanha que é botafoguense. Comprei a camisa, ele enviou, parou na alfândega, ficou três meses presa, paguei taxação e agora está comigo. Outra história interessante é que um cara anunciou uma camisa num desses sites de vendas que era incrível, do Rogério Ceni, de 2004. Eu moro em São Paulo e ele morava em Campinas, mas a camisa era tão legal que não adiantava ir buscar depois. Era uma sexta-feira à noite, inventei uma história que já ia para Campinas e saí correndo. Quando cheguei lá, ele contou que muitas pessoas o procuraram, mas eu fiquei com ela. Ele disse que não entendia nada sobre e nem era são-paulino”, ri o bancário.

Pode ser que, em algum momento, o destino coloque frente a frente Tavares e Malzoni para fecharem negócio, afinal o empresário que está à frente do evento do próximo fim de semana evoluiu. Inicialmente vendedor de sua própria coleção, ele é agora uma referência na revenda.

“No começo, eram as camisas da minha coleção pessoal, mas hoje eu compro e revendo. Uma das dificuldades em lojas especializadas em camisas de futebol originais e de época é encontrar camisas de qualidade. Hoje em dia, muitas pessoas me oferecem suas camisas e até coleções inteiras para venda.”

Se a dupla de apaixonados por camisas se encontrará em algum momento, só o tempo dirá. Caso a reunião ocorra, será um verdadeiro “Majestoso” de colecionadores.

“Tenho aproximadamente umas 200 camisas na minha coleção. Como bom corintiano, tenho três que são meus xodós: uma branca de 1995 da Suvinil, dada pelo meu avô, uma listrada de 1990 e uma branca de 1999, autografada pelo elenco. Fora Corinthians, tenho uma do Flamengo de 2009, autografada pelo Zico”, completa Malzoni.

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