A partir deste mês, a Campanha Civilidade nas Ruas, lançada em 2019 pela Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto (AEAARP), deixa de trabalhar com o blister (cartelas vazias de comprimidos) doado pela população. De 2022 a 2024, 9 toneladas e 125 quilos do material foram destinados para fabricação de portas, batentes, rodapés e outros produtos para decoração e construção civil. Mas várias indústrias no país estão deixando de coletar o blister pós-consumo para reciclagem.
Ainda há mais de uma tonelada do material doado pela população de Ribeirão Preto e região que está em estoque, mas sem destino. A cartela de blister pode levar de 200 a 600 anos para se decompor na natureza.
As doações da campanha da AEAARP têm sido multiplicadas pelas ações dos Lions Clubes Ribeirão Preto Campos Elíseos, Cravinhos e Brodowski, Sincovarp, CDL, ABRAPEC, Comissão de Gestão de Resíduos do Campus da USP Ribeirão Preto, OAB Ribeirão Preto e milhares de pessoas físicas voluntárias. “Chegamos a receber blister por Correios e telefonemas de várias partes do país de pessoas e entidades que conheceram a campanha e querem destinar blister para Ribeirão Preto. Recentemente, fomos abordados por um grupo que queria enviar cerca de duas toneladas/mês de São Paulo-Capital para Ribeirão Preto, mas não temos destino neste momento”, informa o presidente da AEAARP, engenheiro Fernando Junqueira.
As indústrias suspenderam a coleta recentemente porque têm estoques e porque já há materiais substitutivos mais interessantes nos processos de fabricação.
Incentivos fiscais
Outro problema é a falta de incentivo fiscal e regulamentação da logística reversa do blister. “É preciso incrementar as ações governamentais visando a resolver a questão dos lixões irregulares, conscientizar a população sobre os efeitos nocivos do descarte de materiais ao meio ambiente e oferecer melhores condições, especialmente creditícias e tributárias para aumentar a coleta seletiva e para que a indústria absorva resíduos recicláveis e lhes dê adequada destinação”, diz o advogado Gilson J. Rasador, advogado, tributarista, membro do Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE).
A AEAARP está atuando para sensibilizar deputados e senadores para o encaminhamento de projeto que trate da logística reversa do blister.
Campanha educativa continua
O organização da Campanha Civilidade nas Ruas trabalhará a partir de já a sensibilização da população para o descarte correto de todos os demais resíduos recicláveis. “Trata-se de um círculo virtuoso em que todo mundo ganha. Ganham a cidade com menos resíduos jogados em vias públicas e ganha o meio ambiente com menos poluição. A campanha ainda contribui com a inclusão e geração de renda para trabalhadores que separam e vendem recicláveis para indústrias”, explica Junqueira.
A AEAARP apela para que a cidade continue separando e destinando recicláveis para os pontos de coleta e cooperativas locais, como os eletrônicos, o alumínio, metal, garrafas pet, papel branco e vidro, por exemplo, que têm bom valor de mercado e contribuem significativamente para a renda de trabalhadores do setor.
Celulares e alumínio estão entre os materiais mais bem pagos pelas indústrias de reciclagem. O alumínio (latinhas de refrigerantes, aerossol) é comprado por cerca de R$ 11 o quilo; a garrafa pet transparente e de cor verde chega a R$ 4 o quilo; o metal (de alimentos enlatados) sai por R$ 1 o quilo e o papel branco pode ser comprado por cerca de R$ 0,45. Mas as cooperativas de trabalhadores de reciclagem da cidade recebem todo tipo de reciclável.
AEAARP quer capacitar trabalhadores
Diante deste cenário, a AEAARP vai lançar um minicurso gratuito para capacitar trabalhadores para desmontar celulares e separar materiais para as indústrias de reciclagem. Será um curso piloto.
Muitos celulares descartados ainda funcionam e podem ser reaproveitados ou revendidos. O processo de desmontagem envolve a separação da tela, placas eletrônicas, bateria e carcaça, além de remoção de componentes perigosos – as peças têm resíduos químicos e baterias de lítio que podem provocar incêndios. As placas eletrônicas de celulares contêm prata, ouro, estanho, cobre, paládio etc. Por isso, a separação de materiais de valor contidos nos celulares requer capacitação.