Por: Adalberto Luque
Terminou no final da tarde desta terça-feira (9) a primeira etapa da audiência de custódia realizada pela 2ª Vara Criminal de Ribeirão Preto, para deliberar se haverá ou não júri popular no caso da morte da professora Larissa Talle Leôncio Rodrigues, de 37 anos, morta por envenenamento.
O juiz José Roberto Bernardi Liberal ouviu 18 das 24 testemunhas inicialmente previstas para prestar depoimento. Após a audiência de instrução, será definido se os réus, o médico ortopedista Luiz Antônio Garnica, de 38 anos e sua mãe Elizabete Eugênio Arrabaça, de 68 anos, serão levados a júri popular ou não.
Ambos foram acusados pelo promotor Marcus Túlio Nicolino pelo feminicídio qualificado de Larissa, por motivo torpe, meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa da vítima. O inquérito da Polícia Civil concluiu que Garnica teria sido o mentor intelectual e Elizabete a executora do crime.

Além disso, o médico também é acusado por fraude processual, por ter alterado a cena do crime no apartamento onde encontrou sua esposa morta. O Ministério Público (MP) também acusa Garnica de ter fabricado um álibi.
Um fato novo surgiu no início da audiência de custódia. Com a extração de dados móveis dos celulares dos réus, foi possível obter a geolocalização dos envolvidos.
De acordo com o advogado de Garnica, Júlio Mossin, pelos dados extraídos, Elizabete pode ter passado a noite toda na casa onde o filho morava com a professora.
O primeiro dia
No período da manhã foram ouvidos dois integrantes da Guarda Civil Metropolitana (GCM), que estiveram no apartamento assim que foram chamados por Garnica, informando sobre ter encontrado sua mulher caída no chão do banheiro. Também foram ouvidos uma meia irmã de Elizabete, além do pai e do irmão de Larissa.

No período da tarde prestaram depoimento a diarista do casal, um socorrista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), a amiga de Elizabete que teria sido perguntada sobre chumbinho, uma médica do SAMU, uma prima de Larissa, uma amida da professora, um colega de trabalho da vítima, o zelador do prédio onde o casal morava, um gerente de agência bancária, uma aluna da professora, outra amiga de trabalho da vítima, mais uma aluna de Larissa e o síndico do prédio onde o casal morava.
Elizabete, presa em Tremembé (no Vale do Paraíba) e Garnica, preso em Serra Azul (região metropolitana de Ribeirão Preto), acompanharam a audiência de forma remota.
Avaliação
O advogado da família de Larissa, Matheus Fernando, destacou o depoimento emocionado prestado pelo pai de Larissa, acrescentando que não foi procurado por nenhum familiar do genro. Também destacou o depoimento dos socorristas e integrantes da GCM que estavam no apartamento e confirmaram a fraude praticada pelo médico.
Segundo Júlio Mossin, advogado de Garnica, não há provas da participação de seu cliente no feminicídio. Ele cita que a investigação constatou que ele estava na companhia de outra mulher quando tudo aconteceu. Também acrescenta que o celular de Elizabete demonstrou que ela esteve no apartamento e questiona se ela pode ter ficado até pela manhã para, então, deixar o local.

“Primeiro dia de audiência positiva para a defesa, sendo novamente demonstrada a inocência do acusado, tendo em vista que ficou comprovado que Luiz: não alterou a cena do crime perpetrado por sua mãe; não impediu Larissa de ir ao hospital, caso realmente quisesse; tinha a plena intenção de transferir ao pai de Larissa o dinheiro que essa recebera de herança e estava aplicado, razão essa que o motivou a falar com o gerente do banco; não tinha nenhuma intenção financeira; jamais praticou violência física contra Larissa; fez massagem cardíaca na esposa na presença da médica do SAMU, o que demonstrou que não acreditava que a esposa estava morta, sendo, ainda, impossível de se afirmar, tendo em vista a ausência de sinal, que não realizou o RCP, conforme tal depoimento”, avalia Mossin. Ele também acrescentou ter ficado evidente que Larissa começou a passar muito mal após comer um chocolate no domingo, 16 de março, quando estava na companhia de sua sogra Elizabete.
Para Bruno Correa Ribeiro, que defende Elizabete, os depoimentos contradizem o que alega a promotoria. “Não tivemos qualquer novidade ou fato que fosse cabal para comprovar a alegação do Ministério Público, pelo contrário, o teor das oitivas vai no sentido sempre apresentado pelas defesas, sobre a inocência de Elisabete e, inclusive, desmontou a alegação de envenenamento em várias oportunidades. As testemunhas próximas, por exemplo, alegam que após Larissa tomar as sopas e medicação entregue pela Elizabete, ela apresentou melhoras, totalmente contrário do que alega o MP.”

Uma nova data foi marcada para ouvir as testemunhas restantes. Será no dia 10 de outubro, às 10h30, também na sala de audiências da 2ª Vara Criminal de Ribeirão Preto. Ainda serão ouvidas as testemunhas de defesa e os réus, além das alegações da defesa e acusação. Somente então o juiz vai determinar se mãe e filho serão levados a júri popular ou não.
Entenda o caso
Larissa foi encontrada morta em seu apartamento, no Jardim Botânico, zona Sul de Ribeirão Preto, na manhã de 22 de março. Seu marido, o médico ortopedista Luiz Garnica, foi quem encontrou o corpo caído no banheiro.
No primeiro boletim de ocorrência do caso, ele disse ter chegado e encontrado a mulher desfalecida. Depois colocou-a na cama, acionou a Guarda Civil Metropolitana (GCM) e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), mas ela já estava morta e não reagiu aos estímulos.

O exame necroscópico foi inconclusivo em relação à causa da morte, mas exame toxicológico apontou que a professora foi envenenada por “chumbinho”. Depois de ouvir várias testemunhas, o delegado do caso, Fernando Bravo, pediu a prisão preventiva do médico e de sua mãe, Elizabete Eugênio Arrabaça, por considerar ambos suspeitos de envenenar Larissa.
Bravo também pediu a exumação do corpo de Nathalia Garnica, irmã e filha dos suspeitos presos, por desconfiar que ela possa ter morrido envenenada, pois teve enfarte e tinha, a exemplo da cunhada Larissa, boa saúde. Ambas estão na mesma sepultura. A exumação foi feita no Cemitério de Pontal em 23 de maio. A conclusão dos exames apontou que ela também morreu envenenada por chumbinho.
Os advogados de defesa negam a culpa de seus clientes e ambos teriam ingressado com pedidos de habeas corpus, que foram negados. Uma das hipóteses investigadas pela Polícia Civil é que o crime possa ter ocorrido por conta de uma eventual partilha de bens em caso de divórcio da vítima.

