(*) “Penso, logo existo. Mas nem tanto assim.”
A filosofia cartesiana tem sua base na frase em latim que significa “penso, logo existo”. Exprime a certeza de que o ato de pensar é a afirmação da existência de um ser. É a afirmação do ato dedutivo, próprio do raciocínio. Pode-se dizer que é o “retrato filosófico” do início da Revolução Industrial, com a valorização da engenharia, da física, da matemática, das ciências administrativas e dos processos ordenados.
Sabemos hoje que o pensamento humano utiliza processos eletroquímicos que envolvem diversas áreas da massa encefálica e outras periféricas a ela, como algumas glândulas. O ato de pensar envolve muito mais que só raciocínio, memória e inteligência. Para existir, não é necessário apenas pensar. Tem que se ter consciência disso. E ter consciência significa que o indivíduo existe e prospera nesse planeta porque faz parte de um coletivo global, a espécie humana. Com suas regras morais e éticas, mais ou menos rígidas, dependendo da região onde vive o indivíduo. Sem as interações e relacionamentos no seio de seus grupos familiar, comunitário, social e político, não existem condições para esse ser sobreviver. A sobrevivência do indivíduo depende da existência e da funcionalidade do coletivo.
O conceito de Inteligência Artificial Geral é a mimetização dos processos de raciocínio dos seres humanos, trabalhando logicamente com dados memorizados em um ambiente eletrônico. Teoricamente, muitas das tarefas realizadas pelos humanos seriam realizadas com mais apuro e rapidez por máquinas controladas por uma inteligência eletrônica. A robótica é isso. Conecta processos mecânicos repetitivos e complexos sob um comando centralizado, evitando distrações e limitações físicas típicas dos humanos. Robôs e IAs não vão ao banheiro, não ficam de bate-papo nas redes sociais no horário de expediente e fazem 24/7 sem horas extras.
Existem estimativas de que empresas de áreas diferentes, como manufatura, atendimento ao cliente, logística e atendimento consultivo, de advogados a médicos, poderão economizar em salários, em termos globais, por volta de 24 trilhões de dólares até 2040. É um pouco mais que a metade do que era pago em salários por volta de 2022. Esse processo é chamado de “jobless growth” ou crescimento econômico sem geração de empregos. Se você acredita que a Nova Economia vai gerar empregos diferentes que substituirão todos esses empregos perdidos, bom, dê uma olhada nos Estados Unidos de Trump e veja o espelho do que acontecerá no futuro em outras economias nacionais. Até Papai Noel está com emprego ameaçado. Sua logística, com o perdão do trocadilho, não tem mais lógica num mundo onde os drones são muito mais velozes e eficientes que os trenós puxados por renas… Jeff Bezos, dono da Amazon, já está deixando sua barba branca crescer, com certeza.
Porém, nesse mundo “atropelado” que estamos vivendo de três anos para cá, o mundo da Inteligência Artificial não para de evoluir. Um novo conceito de Inteligência Artificial começa a ser testada como a nova “ferramenta” que vai nos levar em direção ao mundo celestial dos meta-universos e do “dolce far niente” do ócio contemplativo, típico dos herdeiros bilionários. Trata-se da Inteligência Artificial Agêntica (do verbo agir). Ela será capaz de tomar decisões autônomas, baseadas em suas próprias experiências, com mínima ou nenhuma interferência humana.
Utilizando as ferramentas da IA Geral, ela terá perspicácia para compreender as complexidades de qualquer cenário proposto para a sua resolução, será capaz de interpretar os resultados e adquirir experiências próprias com suas proposições e resultados. Guardando as devidas proporções, mais ou menos como disponibilizar um supercomputador para Einstein usar, se vivo estivesse. A distorção cibernética com a chegada de novas IAs é a base da preocupação de “futuristas” como Yuval Harari. A ferramenta está se tornando um agente autônomo.
E olhe que nem começamos a falar sobre os computadores quânticos. Sim, eles já existem e a previsão é que comecem a operar com viabilidade econômica por volta de 2033. Como diria o filósofo contemporâneo Mussum, a chapis vai esquentar para o nosso ladis. Até.

