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Conveniência ou dependência?

Brasil possui 183 milhões de usuários de internet, equivalentes a 86% da população, e 217 milhões de conexões móveis ativas | Reprodução

A vida digital brasileira se consolidou de vez nas telas pequenas. De acordo com o relatório global The State of Customer Communications 2025, produzido pela Sinch, o Brasil lidera o comércio móvel no mundo: 56,8% dos brasileiros preferem comprar pelo smartphone, contra 37,8% da média global. A pesquisa, que ouviu consumidores em 12 países, mostra que o país está à frente não apenas em volume de compras digitais, mas também em confiança em tecnologias de automação, como chatbots e inteligência artificial.

Segundo o levantamento, 84,4% dos brasileiros são atraídos por promoções com frete grátis — quase 30 pontos acima da média mundial — e 45,1% consideram muito úteis as recomendações personalizadas feitas por assistentes virtuais de IA (contra 25,6% globalmente). O celular, portanto, se firmou como principal ponte entre consumidores e marcas.

O contexto é ainda mais expressivo quando se observa o ambiente digital do país. O relatório Digital 2025 – DataReportal mostra que o Brasil possui 183 milhões de usuários de internet, equivalentes a 86% da população, e 217 milhões de conexões móveis ativas, número que supera a quantidade de habitantes. Já o Payments CMI Report indica que 72% das transações de e-commerce em 2024 foram realizadas por dispositivos móveis, consolidando o país como um dos líderes globais do mobile commerce.

Os números, no entanto, revelam mais do que eficiência tecnológica — apontam uma mudança cultural profunda. O brasileiro tornou-se um consumidor digital confiante, ágil e conectado, mas também cada vez mais dependente da tela. A compra deixou de ser um ato de escolha e se transformou em um gesto automático, impulsionado por notificações, algoritmos e estímulos contínuos.

A personalização das ofertas e o imediatismo da entrega criam conforto e praticidade, mas também reduzem o espaço da reflexão. A fronteira entre necessidade e impulso se tornou tênue. Ao mesmo tempo, os dados pessoais, coletados e processados em tempo real, alimentam sistemas que aprendem, antecipam desejos e direcionam decisões — em um ciclo que reforça a sensação de controle, mas que, na prática, limita a autonomia do consumidor.

A liderança brasileira em consumo digital é motivo de reconhecimento, mas deve vir acompanhada de responsabilidade tecnológica e educação digital. A inovação é bem-vinda quando promove acesso, segurança e transparência; torna-se perigosa quando substitui o pensamento crítico pela conveniência.

Mais do que celebrar a facilidade do toque que compra, é preciso refletir sobre o preço invisível da dependência. Porque, na era da personalização total, talvez o verdadeiro produto não seja o que compramos — mas nós mesmos.

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