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Crime recua, mas insegurança persiste

Mesmo com redução nos índices de criminalidade, não é simples se sentir em segurança numa cidade onde ocorrem 26 furtos por dia

Assalto no HERP: homens armados e encapuzados levaram R$ 2 mi em medicamentos de alto custo do HERP (Foto? Polícia Civil/Divulgação)

Adalberto Luque

Em 2025, a RP Mobi, empresa responsável pelo trânsito na cidade, registrou até 30 de junho 140 ocorrências de furtos de fios em semáforo. Isso significa que, somente no primeiro semestre deste ano, pelo menos 140 semáforos ficaram desligados ou inoperantes no amarelo piscante por furto de fios.
Os criminosos levaram 5.168 metros de fios de cobre que, possivelmente, foram parar nas mãos de receptadores e causaram prejuízo de R$ 62.016 aos cofres públicos.
Os casos de furtos de fios semafóricos iniciaram o ano com forte alta. Para se ter uma ideia, durante todo o ano passado, foram 128 ocorrência, superadas em apenas seis meses. O total de fios furtados foi de 3.084 metros durante todo o ano. O prejuízo foi de R$ 37.008.
Ou seja, durante os 12 meses de 2024, o prejuízo com furto de fios semafóricos foi praticamente a metade do que em apenas seis meses de 2025.

Furtos de fios estão entre as principais ocorrências registradas em 2025, além de causarem problemas no trânsito e prejuízos (Foto: Alfredo Risk)

Queda
Mas computando todos os furtos em geral (excluindo-se veículos), o total de casos teve pequena queda. É o que indicam os índices de criminalidade divulgados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), que incluem dados até 31 de maio deste ano.
No comparativo com o mesmo período de anos anteriores, é o menor em três anos, embora a redução no total de furtos não seja tão significativa. Em 2023 foram registrados 3.984 furtos, contra 4.089 em 2024 e 3.959 em 2025. Os números levam em conta o mesmo período em cada um dos três anos.
Em relação ao ano passado, a queda foi de 3,2%. Mas os furtos, que lideram o ranking de casos entre os indicadores de crimes contra o patrimônio, ainda preocupam – e muito. Nos 151 dias deste ano, a média foi de 26 furtos por dia. Mais que um por hora.
E não são apenas fios de semáforo. Furta-se de tudo. Na última semana, por exemplo, um homem entrou na residência de uma idosa no Jardim Irajá, zona Sul, e levou, entre outros objetos, garrafas de bebidas alcoólicas. Foi preso e admitiu que o furto era para conseguir dinheiro e comprar drogas para sustentar seu vício.
Na verdade, esse é o mesmo objetivo dos furtadores de fios de cobre e outros itens. E quando se fala em 26 casos por dia, há de se considerar que são somente os casos reportados em boletins de ocorrência, que alimentam as estatísticas.
Diante do valor nem sempre tão alto do objeto furtado ou da dificuldade em registrar a ocorrência presencialmente, com grandes demoras para ser atendido, ou na falta de familiaridade em informática para registrar a ocorrência online, muitos optam por não dar queixa.
Se a comparação dos furtos for em relação ao mês anterior, todavia, o número de casos cresceu 14,5%. Foram 687 em abril e 787 em maio. E o furto é um crime que, geralmente por não ser percebido, gera sensação de impunidade aos autores e insegurança às vítimas.

Violência nos roubos, escancarada por imagens de câmeras de segurança, ajudam na sensação de insegurança da população (Foto: Polícia Civil/Divulgação)

R$ 2 milhões
Na noite de 27 de junho, cinco homens fortemente armados entraram no Hospital Estadual de Ribeirão Preto (HERP), na Avenida Independência, Jardim João Rossi, zona Sul. Estavam encapuzados e renderam quatro pessoas, exigindo saber onde ficava a câmara fria dos equipamentos de alto custo.
De acordo com o Boletim de Ocorrência (B.O.), levaram 33 tipos diferentes de medicamentos, causando prejuízo de R$ 2 milhões ao hospital. Os remédios foram transportados em uma Fiorino branca. Os assaltantes também levaram o carro de um médico que foi rendido durante a ação.
O carro foi abandonado e recuperado pouco depois. A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo informou que os medicamentos furtados já foram repostos e nenhum paciente foi prejudicado. Um suspeito foi preso, os medicamentos ainda não foram recuperados e as investigações prosseguem.
Roubos
A segunda modalidade de crime contra o patrimônio que registra mais casos é a de roubos em geral (excetuando-se roubos de veículos). E foram justamente os roubos que apresentaram uma das maiores reduções em 2025.
Em comparação com os seis primeiros meses de 2024, o número de roubos teve queda de 28,7% em 2025. Foram 831 e 592 casos, respectivamente. Se a comparação for entre 2023 e 2025, a queda é ainda mais acentuada. Em 2023 foram 1.138 casos de roubo, contra 592 em 2025, queda de 48%.
Diferentemente do furto, o roubo é praticado mediante grave ameaça, com violência e, geralmente, com o uso de arma de fogo ou arma branca. Justamente por essa dinâmica, é o indicador que certamente mais contribui com a sensação de insegurança da população. Em 2025, a média na cidade é de quatro roubos por dia.
Na projeção mês a mês, em 2025, vem caindo gradativamente. Em março foram 123 casos, recuando para 101 em abril e apresentando nova queda em maio, com 93 ocorrências.

Apesar da queda no número de casos, média de quatro veículos furtados por dia em 2025 é preocupante (Foto: GCM/Divulgação)

No canavial
Em 20 de maio, agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) de Ribeirão Preto registraram uma ocorrência muito comum nos últimos tempos. Localizaram uma caminhonete de luxo, furtada na véspera. A equipe do Patrulhamento Rural fazia ronda na área rural e encontrou o veículo.
Estava “descansando”, termo para definir o tempo em que o carro fica escondido em canaviais esperando para que os criminosos não sejam surpreendidos em caso de rastreador ativo. O veículo estava próximo à antiga Usina Santa Lydia.
4 por dia
O furto de veículos também vem registrando queda nos indicadores da SSP. Em 2024 foram furtados 624 veículos nas ruas da cidade, de janeiro a maio. Neste ano o número caiu para 554. Uma redução de 11,2%.
Porém, mesmo com redução, a média é de um veículo furtado a cada seis horas. No comparativo com o mês anterior, o número aumentou 10,5%. Foram levados 105 veículos em abril deste ano, contra 116 em maio. Boa parte dos veículos furtados são usados para abastecer o mercado clandestino de autopeças.
Violência
Na madrugada de 8 de março, um motorista de aplicativo foi vítima de violência enquanto trabalhava. Pegou quatro pessoas no Centro para levar até o Jardim Jandaia. No caminho, acabou sendo rendido. Um dos passageiros exibiu uma arma e anunciou o roubo.
O motorista de aplicativo percebeu que se tratava de um simulacro e entrou em luta corporal com os quatro. Atingido com um golpe de madeira na cabeça, desmaiou e acordou sem o carro, celular, dinheiro e outros documentos. O carro foi localizado horas depois, abandonado, bastante danificado e com um vidro estourado.

Casos como de motorista de aplicativo, roubado e espancado, causam medo generalizado (Foto: Polícia Civil/Divulgação)

Mais baixo
De acordo com as estatísticas da SSP, a cidade registrou 75 roubos de veículo em 2025. Entre os indicadores de crime contra o patrimônio, é o mais baixo. Ainda assim, ocorre um roubo de veículo a cada dois dias.
Se comparado com os cinco primeiros meses de 2023, a queda chega a 58,8%. Foram 182 roubos de carros naquele ano, contra 75 em 2025. Na comparação com abril deste ano, o número de roubos de veículos é digno de muita preocupação, com aumento de 62,5% dos casos. Foram 8 em abril e 13 em maio.
Crimes contra a vida também apresentam índices menores ou estáveis. Estupros caíram dos 87 casos registrados em 2023 para 71 neste ano – embora este número seja maior do que em 2024, quando, de janeiro a maio, foram registrados 60 casos.
Homicídios seguem praticamente estáveis nos cinco primeiros meses, com 15 casos em 2023, 13 em 2024 e 14 em 2025. Apesar da estabilidade, a forma como os assassinatos são cometidos e escancarados para a população, agravam a sensação de insegurança.
Os números divulgados pela SSP podem até ser considerados animadores por haver retrocesso nos índices de criminalidade. Porém não se convertem para o resgate dos tempos de tranquilidade de Ribeirão Preto. Resta torcer para que as quedas sigam ocorrendo e a sensação de segurança volte gradualmente.

Ausência de acolhimento às vítimas
Especialista em segurança pública e coronel aposentado da Polícia Militar, Marco Aurélio Gritti observa que, desde 2023, a SSP impôs como gestão estratégica um plano de ação importante no combate ao crime, formado por várias frentes.
“Destaco: reposição do efetivo, investimento em tecnologia, aperfeiçoamento do policiamento preventivo/inteligente e ataque às organizações criminosas. Dessa forma, contempla-se combate aos crimes habituais (que mais afetam o cidadão), e também aos líderes dessas organizações, sobretudo no núcleo financeiro (que efetivamente atinge as lideranças)”, avalia Gritti.
Ele aponta que isso resultou em reduções históricas de boa parte dos índices criminais, como homicídios, que tiveram queda em todo o Estado. “Ainda há muito a se trabalhar, pois quanto menor o índice mais difícil se torna a atuação preventiva para mantê-lo”, acrescenta o coronel.

Para o coronel Gritti, sensação de impunidade e falta de acolhimento às vítimas são responsáveis pela sensação de insegurança da população (Foto: Alfredo Risk)

Para ele, a sensação de segurança do cidadão não se altera em função da impunidade, em evidência diária. “A percepção das pessoas (com razão) está focada naquilo que acontece ou se toma conhecimento no seu cotidiano, ou seja, nos furtos e roubos de celular, nos golpes, nos benefícios que a nossa lei penal direciona aos criminosos e na ausência de acolhimento às vítimas.”
Gritti explica que, por maior que seja a redução nos índices, a sensação de segurança das pessoas será baseada na atual percepção de que nada se faz para frear a reincidência criminal ou para punir com justiça e rigor ao criminoso.
“Na atual ‘equação matemática’ sobre sensação de segurança a vítima é sempre perdedora e sem defesa na lei, já o criminoso detém um leque de amparo legal (a exemplo das Audiências de Custódia)”, aduz.
O especialista em segurança acredita que este cenário possa mudar quando, efetivamente, a lei penal proteger as pessoas de bem, ressocializar aqueles que assim o desejarem e retirar do convívio social os criminosos, sobretudo os reincidentes.
“As Forças de Segurança vêm realizando um incansável trabalho para proteger as pessoas de bem da violência covarde dos criminosos, mas para isso há que haver lei penal robusta que sirva não só como mecanismo de punição, mas sobretudo de freio pedagógico para evitar com que novos crimes ocorram”, finaliza.

Segundo SSP, policiais civis e militares prenderam ou apreenderam 2.604 infratores nos cinco primeiros meses de 2025 (Foto: Polícia Civil/Divulgação)

Trabalho estratégico
A Secretaria Estadual de Segurança Pública de São Paulo – SSP/SP reforçou que os indicadores criminais de Ribeirão Preto apresentam tendência consistente de queda nos principais crimes contra o patrimônio e isso é resultado do trabalho estratégico e integrado das polícias na cidade e região.
“Os dados mostram que as ações adotadas têm gerado efeitos concretos e sustentáveis no enfrentamento à criminalidade, e que o compromisso das polícias é permanente na proteção da população”, avalia a Secretaria.
A pasta destaca que, nos cinco primeiros meses de 2025, os roubos em geral registraram queda de 28,76%, os roubos de veículos reduziram em 16,67% e os furtos de veículos caíram 11,22%, na comparação com o mesmo período do ano anterior. “Também não houve registro de latrocínio no período, frente a dois casos registrados em 2024.”

De acordo com a SSP, os resultados são reflexo de ações permanentes de patrulhamento preventivo e ostensivo, além da intensificação de operações policiais e do uso de inteligência e tecnologia no combate à criminalidade.
“De janeiro a maio deste ano, as forças policiais de Ribeirão Preto apreenderam 134 armas de fogo (+24,1%), recuperaram 296 veículos furtados ou roubados (+8%) e prenderam ou apreenderam 2.604 infratores (+8,4%). Também foram apreendidas 1,8 toneladas de drogas na cidade”, conclui.

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