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Taís Roxo da Fonseca *
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Mesmo quando cuidamos de temas duros precisamos nos ater as escolhas de palavras mais palatáveis e mais ainda, quando escolhemos o tema a ser abordado, que seja de interesse comum, porque o leitor, para se ater a um texto deve se sentir atraído por ele de alguma forma e esse texto deve atingir a sua dignidade com muito respeito às diversidades de pensamentos. E foi assim que pensei em falar sobre dignidade, tema afeto a todas e todos os seres humanos, aos animais, ao meio ambiente e ao País, todo país deve lutar para obter e manter sua dignidade social.

Dia 23 de maio de 2025, mais precisamente na última sexta feira, perdemos o ilustre brasileiro, Sebastião Salgado, que se destacou em sua profissão de fotógrafo, porque tinha a responsabilidade de  fotografar seu alvo somente quando captava a dignidade alheia, mesmo diante de inúmeras diferenças e adversidades de civilizações por onde percorreu, afim de documentara gênesis de um povo, não disparava o clique da sua câmera fotográfica, sem antes receber a permissão.

Durante uma entrevista, quando o repórter lhe perguntou como fazia para compreender o exato momento de apertar o botão da câmera e assim captar a imagem definitiva, ele descreveu uma expedição fotográfica que realizou em Galápagos e lá encontrou uma imensa tartaruga gigante de 300 quilos e hum metro de altura, disse que passou umas três horas tentando fotografar a tartaruga, mas ela não parava, mesmo andando devagar não olhava para o fotografo, passava rente ao seu lado e não interagia de nenhuma forma até que o Sebastião Salgado cansou e ajoelhou-se ao chão , nesse instante a tartaruga parou e veio em sua direção, com o olhar intenso e focado no seu, permitindo finalmente ser fotografada por várias horas, quando ele realmente conseguiu captar a dignidade de uma senhora tartaruga, repleta de rugas de mais de 280 anos de vida, esbanjando dignidade.

Para completar a explicação sobre o respeito à dignidade dos seres, disse que provavelmente a mesma tartaruga que fotografou naquele dia, deve ter sido, quando ainda era uma adolescente, por volta do ano de 1830, também objeto de pesquisa realizada por Charles Darwin, quando esteve em Galápagos e escreveu A Origem das Espécies.  A dignidade é uma linha tênue e invisível  que merece ser respeitada. 

O Brasil é um país que há muito perdeu sua dignidade, a desigualdade que aqui impera, onde há uma concentração de renda nas mãos de poucos que não aceitam agachar, como fez o fotografo, e encarar que o pobre também sonha e não consegue viver mantido em jornadas exaustivas de trabalho, verdadeiramente desumanas, que representam na verdade a manutenção do escravagismo numa roupagem contemporânea, onde são obrigados a viver mais tempo no trabalho que com a própria família e o salário que recebe no fim do mês, deixa inteiramente nos supermercados.

Agachar como fez o fotografo Sebastião Salgado para sentir a dignidade da tartaruga e assim poder enxergar o seu olhar e as suas rugas é um exercício muito importante para quem deseja compreender a humilhação do trabalhador brasileiro que padece sem direitos. O trabalhador precisa cantar no fim de sua jornada como disse Federico Garcia Lorca: Cantar que vá a alma das coisas e a alma dos ventos e que descanse por fim na alegria do coração eterno.

* Advogada  

 

 

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