O Cineclube Cauim, em Ribeirão Preto, ficou completamente lotado na noite de 22 de outubro para mais uma edição do Encontros com a Cidadania, que recebeu o neurocientista Miguel Nicolelis, um dos nomes mais respeitados da ciência mundial. O evento, realizado na Rua Olavo Bilac, 135, reuniu cerca de 350 pessoas e contou com transmissão ao vivo pelo Instagram do Cauim.

Durante a noite, Nicolelis participou de uma sessão de autógrafos do livro “re volucao no país do carnaval” e de um grande debate sobre ciência e cidadania ao lado das vereadoras Duda Hidalgo, Judeti Zíli e Perla Müller, e do professor Gilberto Abreu, com mediação de Odonio dos Anjos. O público também participou ativamente com perguntas e reflexões.
O cientista abordou temas fundamentais do nosso tempo, como o avanço da inteligência artificial, os riscos ambientais e geopolíticos da instalação de data centers de IA no Brasil, e o papel da ciência como instrumento de soberania nacional. Nicolelis comparou a forma como o reconhecimento e o tratamento dado aos cientistas variam entre países, observando que na China, os cientistas são tratados com grande respeito e prestígio, sendo reconhecidos como peças centrais do desenvolvimento.
Ele também relembrou o projeto de interface cérebro-máquina desenvolvido por sua equipe, que permitiu a um homem paraplégico, com o auxílio de um exoesqueleto controlado pelo pensamento, dar o chute inicial da Copa do Mundo de 2014 — um marco histórico da neurociência brasileira.

Além disso, Nicolelis falou sobre seu livro recém-lançado, “re volucao no país do carnaval”, que propõe uma reflexão sobre os rumos do Brasil e da humanidade em meio às crises políticas, tecnológicas e éticas do século XXI. A obra combina ciência, filosofia e análise social, propondo uma “revolução do conhecimento” como caminho para enfrentar a desigualdade e o obscurantismo.
Um dos momentos mais marcantes do evento foi sua reflexão sobre a crise política e ética que o mundo atravessa, ao comentar a ascensão de Donald Trump e a nova onda de fascismo global:
“Vivemos hoje um dos momentos mais dramáticos da história da humanidade: a volta do fascismo dos anos 1930. O que me preocupa é que, em poucos meses ou anos, isso se torne algo banal, e o que está acontecendo nos Estados Unidos — esse retorno gradual do fascismo — acabe se repetindo.
Tenho receio de que estejamos prestes a reviver o que aconteceu na década de 1930, porque a história, infelizmente, costuma se repetir em ciclos.”
Nicolelis também fez duras críticas à condução do governo brasileiro durante a pandemia da COVID-19, denunciando o negacionismo científico e as mortes subnotificadas que ficaram fora das estatísticas oficiais. Em tom emocionado, lamentou as perdas humanas e destacou que o país precisa reconstruir sua confiança na ciência e na solidariedade.

O evento reforçou a relevância do Cineclube Cauim como espaço de diálogo entre ciência, cultura e cidadania, consolidando o Encontros com a Cidadania como uma das mais importantes iniciativas de reflexão pública e resistência intelectual do interior paulista.

