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Ex-ministro Paulo Vannuchi participa de encontro no Cauim 

O jornalista discorreu sobre temas como democracia, cidadania e direitos humanos (Max Gallão Mesquita)

Por Adriana Cristofoli 

Noite agradável e primorosa aconteceu nesta segunda-feira, dia 05 de maio no Cine Clube Cauim em Ribeirão Preto. Ali, em plena segunda-feira estava um público interessado em participar do primeiro, de uma série de encontros, o Encontros com a Cidadania, que o Cauim em parceria com o Jornal Tribuna Ribeirão, irá promover durante o ano.  

O primeiro convidado foi o ex-ministro dos Diretos Humanos, e membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Paulo de Tarso Vannuchi. Um paulistano de São Joaquim da Barra, com fortes ligações com a região, principalmente Ribeirão, e com uma trajetória baseada na luta pela democracia, cidadania e direitos humanos. 

Das suas várias contribuições para o país, vale destacar seu trabalho no livro “Brasil Nunca Mais”, que foi um registro dos horrores que se praticou, com tortura, nos porões da Ditadura Militar.  

Para Vanuchi essa iniciativa de encontros presenciais, retoma uma tradição de quase meio século de atuação cultural no cinema, um dos espaços sagrados para cultura e ao mesmo tempo de combate ao individualismo egoísta das redes sociais, regidos por mecanismos de produção de lucro. “Essa parceria do Jornal Tribuna Ribeirão com o Cauim vem num momento importante, a socialização, estar junto, perceber que as pessoas tem um corpo inteiro e não só um dedo para digitar, é fundamental”, diz.  

O advogado Douglas Eduardo Campos Marques, Paulo Vannuchi e o presidente da OAB de RP, Alexandre Soares da Silveira (Max Gallão Mesquita)

Para ele discussões plurais como essa, se tornam cada vez mais importantes num planeta, onde existem meia dúzia de governantes que apostam no ódio, na violência. “Precisamos nos ajudar, temos divergências, mas vamos resolver com mecanismos democráticos e civilizados”, pondera. 

Vannuchi define Cidadania como uma ideia de que todos pertencemos a uma comunidade e essa comunidade, só é possível se estabelece em um conjunto de regras, de mecanismo de direitos e de deveres, onde todos nós nos submetemos, positivamente e interessados. Já Direitos Humanos é uma tentativa ousada de um passo adiante. “Mesmo quem não cumpre seus deveres tem direitos”. Não pode ser morto, torturado, é um ser humano portador de dignidade inerente, basta ser humano para ter direitos humanos e isso contraria milênios de tradição de olho por olho e dente por dente”, declara. 

O ex-ministro acreditava, ainda na juventude, que a grande meta da sociedade era o socialismo e que direitos humanos era uma luta preliminar. “Hoje acho ao contrário, o mundo pode ser socialista e os direitos humanos vão continuar a ter grandes desafios… homem mulher, igualdade racial, cultura, idade, pessoas com deficiência, diversidade sexual…. isso o sistema socialista não resolve. Nesse sentido a cidadania é o que está ao alcance das mãos e direitos humanos é luta que temos que ter”, enfatiza.  

Também participaram dos debates, as três únicas vereadoras da Câmara Municipal, ambas do Partido dos Trabalhadores, Duda Hidalgo, Judetti Zilli e Perla Muller. Elas enriqueceram o encontro pontuando temas como racismo, empreendedorismo, Reforma Agrária, LGBT fobia, representatividade e educação sobre Direitos Humanos.  

Direitos Humanos para bandidos – Uma das questões importantes explicadas pelo Paulo Vannuchi sobre Direitos Humanos é a confusão que se faz sobre o termo. Para ele a falta de conhecimento sobre o assunto, faz com que as pessoas se equivoquem em seus próprios direitos. Isso se deve principalmente pela falta dessa disciplina nos primeiros anos escolares. “Aliás a educação em Direitos Humanos, deveria ser orientação desde a pré-escola. Quando uma criança brigar com outra, disputando um brinquedo, não basta apartar. A primeira lição deve começar aí, nunca em nossa vida devemos resolver nossas disputas com violência ou pela força bruta “, diz. Paulo ainda lembra, que até juízes decidem questões específicas sobre direitos humanos, sem nunca terem passado por uma disciplina específica, obrigatória, que levasse a conhecer profundamente a declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. 

Jovens na política – Paulo também lembrou a importância dos jovens interessados em política. Segundo ele, toda vez que um sistema ditatorial se impõe, os jovens saem na frente para enfrentar e resistir. “Foi assim no Brasil do regime militar e das Diretas Já. Mas a frágil democracia que temos, recentemente agredida, ao ponto de ser atacada no dia 08 de janeiro de 2023, com altos generais envolvidos na trama, essa democracia frágil não tem oferecido espaços atraentes de participação dos mais jovens, com agendas empolgantes, que dialoguem diretamente com eles”, reflete. Paulo ainda diz que com raríssimas exceções, os processos eleitorais e as estruturas dos partidos políticos, não estimulam a renovação e perpetuam lideranças cansadas e acomodadas. “Mas milhões seguem fazendo política em outros espaços como em atividades culturais de todo tipo, torcidas organizadas e até em diferentes igrejas”, complementa. “Se a juventude não irromper e tomar as rédeas, a vida democrática seguirá perdendo o vigor”, lamenta. 

Público atento e participativo (Max Gallão Mesquita)

Carta ao Lula – Revolução no ensino militar 

Paulo Vannuchi foi assessor direto do presidente Lula durante décadas e ministro por cinco anos. “Um privilégio de minha vida, essa convivência, com tudo o que me trouxe de aprendizado”, diz. O ex-ministro define o presidente Lula como um negociador por excelência e que adora o chamado caminho do meio. “Na difícil conjuntura política de 2025, ainda pautada pela reconstrução de tudo o que o golpe do impeachment e o governo Bolsonaro trouxeram de retrocesso, com a atual força inédita da direita no Legislativo, não é provável garantir avanços nesse campo, que não conseguimos em momentos melhores, como a punição de torturadores e realizando a justiça de transição desejável”, afirma. 

Mas segundo Vannuchi, é possível avançar em alguns pontos vitais, que por sua vez, irão preparar avanços posteriores. “O mais indispensável e inadiável – e vou propor que o Lula faça isso até o final de 2026, mesmo que reeleito, probabilidade maior na minha avaliação, – é pactuar com os comandos militares atuais (que tiveram importante papel negando maioria no alto comando para que o golpe que Bolsonaro tramou) uma profunda revolução no ensino militar”, revela. 

Ele explica que não seria nada de doutrinação esquerdista dos tenentes do Exército, Marinha e Aeronáutica. Mas que as academias militares ensinem direito constitucional, respeito aos direitos humanos, condenação veemente de qualquer prática de tortura, condições sociais de pobreza e desigualdade em que vive a grande maioria dos brasileiros. 

“Mais que hora de abolir completamente a Doutrina de Segurança Nacional, que desde 1945, é pensamento oficial na formação militar: prioridade absoluta em combater o comunismo, ver como comunista qualquer artista que cante a liberdade, qualquer sindicalista que faça greve e qualquer sacerdote que denuncie a pobreza”, diz. Se o Brasil não der esse passo, Agulhas Negras seguirão produzindo novos Bolsonaros, novos Helenos, novos Bragas Netos e novos Villas-Boas”, finaliza. 

 

Organizadores enaltecem primeiro encontro 

Fernando Kaxassa: “Foi sensacional, foi mais do que esperava. Gostaria que esses encontros fossem diários” (Max Gallão Mesquita)

Para Fernando Kaxassa, fundador e presidente do Cauim e um dos idealizadores do Encontro, o evento superou as expectativas. “Foi sensacional, foi mais do que esperava… além do Paulo ser brilhante, o público foi muito significativo”, diz. 

Odônio dos Anjos Filho, também organizador do evento, salientou que espaços de escuta precisam ser incentivados. “Nas redes sociais, todo mundo fala, precisamos aprender ouvir, mas uma escuta de qualidade”, observa. 

Parceiro no evento, Eduardo Ferrari, diretor do Tribuna Ribeirão, acrescentou que o Encontro “resgata de uma maneira ainda mais forte, essa parceria com o Cauim, para contribuir com discussões necessárias, plurais e democráticas na nossa sociedade”. 

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