Adalberto Luque
A viagem de Isabela Fantacini e seus pais, Mauro e Sônia, começou a ser planejada em dezembro do ano passado. A família tinha um sonho antigo de conhecer o Vaticano e ver, mesmo que de longe, o Papa Francisco.
Mas os planos originais previam apenas a viagem para a Itália, com o objetivo de visitar Cássia e Roccaporena para conhecer a casa e os passos de Santa Rita de Cássia. Ao definir a data, os Fantacini perceberam que daria para fazer a viagem no período da Páscoa, aproveitando então a maior celebração da Igreja Católica.
Participantes de pastorais da Paróquia São João Batista, no bairro Santa Cruz do José Jacques, zona Sul da cidade, Isabela, Mauro e Sônia perceberam que teriam a oportunidade de estar junto ao Papa Francisco, na Praça de São Pedro. Justo na Páscoa.

Desta forma, ampliaram os passeios e os rumos que tomariam na organização da viagem. Contudo, apesar de nem todos terem conhecimento, para poder participar de uma missa tão importante, existem alguns requisitos a serem cumpridos.
“Para estar na Praça de São Pedro no dia da Missa de Páscoa, foi necessário fazer um cadastro em um site específico e aguardar um tempo para obter uma resposta da Prefeitura do Vaticano, em relação à nossa permissão de estar ou não nessa missa. A gente conseguiu essa resposta em meados de fevereiro, início de março. Ficamos muito felizes por essa oportunidade, por podermos estar aqui [no Vaticano] e ter a presença do Papa Francisco. Porém, neste mesmo período, o Papa ficou mais doentinho, foi hospitalizado. E houve nossa preocupação em talvez não o ver na missa. Intensificamos nossas orações para que ele pudesse se recuperar e voltar às suas atividades papais”, explicou Isabela.
Desta forma, o planejamento da família prosseguiu para os dias em que estivessem na Itália. Optaram por alugar um apartamento em Roma, em um site especializado em locação de imóveis, ao invés de ficar em hotel. Teriam menos preocupações com as refeições e com a hospedagem.
A chegada a Roma
Tudo definido, aguardaram ansiosos para realizar um grande sonho. No dia 17 de abril, três dias antes do domingo de Páscoa, a família Fantacini desembarcou no Aeroporto Internacional Leonardo da Vinci, também conhecido como Aeroporto Fiumicino, a 35 quilômetros de Roma.
A primeira grande e agradável surpresa estava na localização do apartamento alugado. “Foi outra emoção que tivemos, ao chegar a Roma. Alugamos o apartamento por um site. Sabíamos que estaríamos próximos ao Vaticano, mas pelo mapa, acreditávamos que seria uma distância muito grande. Na hora que chegamos, avistamos as muralhas do Vaticano. E percebemos que estávamos em frente a uma das muralhas. Em cinco minutos a pé, estávamos dentro da Praça São Pedro, o que foi uma grande emoção para nós, de estarmos tão próximos de um lugar tão especial para a Igreja Católica”, revela Isabela.

Peregrinação à Porta Santa
No mesmo dia em que chegaram à Itália, os Fantacini foram pela primeira vez ao Vaticano – considerado o menor país do mundo – para participar da Peregrinação da Porta Santa. Eles haviam agendado esta atividade, que lhes dava a oportunidade de percorrer vários locais da cidade-estado que é sede mundial da Igreja Católica.
“Foi um momento muito emocionante. Chegamos, fomos até o ponto de apoio, recebemos os encartes dessa peregrinação e, junto com o grupo que estávamos, pudemos peregrinar com a Cruz. Caminhamos toda a Praça de São Pedro, passamos pela Porta Santa, na Igreja de São Pedro, tivemos a oportunidade de rezar pelo Santo Papa, de rezar por nossos amigos e por nossa família. Foi uma experiência indescritível que tivemos logo no nosso primeiro dia no Vaticano.”
A Missa de Páscoa
No dia tão esperado pela família Fantacini, o Domingo de Páscoa, Isabela, Mauro e Sônia acordaram bem cedo. Chegaram ao Vaticano por volta de 7h30, pois sabiam que teriam de cumprir protocolo. A Missa só seria iniciada às 10h30.
“Nesse processo, pegamos uma fila para entrar, passar por detectores de metais. ao entrar na Praça São Pedro, tivemos a oportunidade de nos sentar em um lugar muito bom, bem na frente de onde a missa foi presidida. Durante toda a missa, foi uma emoção para todos, mas ninguém sabia se, realmente, o Papa Francisco iria aparecer ou não. Nenhuma informação nos foi dada, não foi colocado nos telões. Não sabíamos se ele iria ou não aparecer para os fiéis”, lembrou Isabela.
A Bênção Urbi et Orbi
Ao final da missa, todos ficaram na expectativa. As pessoas conversando umas com as outras, imaginavam que seria possível. “Na janela, bem ao centro, onde o Papa apareceu, desde o início havia uma bandeira e a cortina estava aberta. Assim que a missa acabou, a cortina foi fechada e todos ficaram na expectativa. Foi quando abriu-se a cortina vermelha. Saiu uma cruz e em seguida saiu o Papa. Toda a praça ficou emocionada. Meu pai ficou com os olhos marejados. Todos estavam emocionados, aclamando o Papa Francisco. Foi um momento muito emocionante, ímpar, único na vida de qualquer pessoa, que pudemos experienciar, mas principalmente, experienciar em família.”

Num primeiro momento, o Papa Francisco desejou a todos os presentes uma Feliz Páscoa e, em seguida, fez o pronunciamento que havia sido preparado para que Francisco falasse aos fiéis no dia em que a Igreja Católica comemora a Ressurreição de Jesus Cristo. Em sua aparição, Jorge Mário Bergoglio, de 88 anos, deu a bênção Urbi et Orbi (em latim, “à cidade e ao mundo”) aos fiéis presentes à Praça São Pedro.
“Em seguida, recebemos a Indulgência Plenária. Foi um momento muito significativo, muito importante. Agora, diante da sua morte, percebemos que recebemos a última Indulgência Plenária do Papa. Foi sua última aparição pública junto aos fiéis, àquelas pessoas que seguem a Jesus Cristo e que se sentem tão bem em relação à presença do Papa e em relação às decisões que tomou durante seu papado. Para nós, foi absolutamente indescritível, emocionante estar lá com tantas pessoas do mundo inteiro, que tinham o mesmo propósito que nós”, acrescentou Isabela.
A cinco metros do Papa
Ao final da bênção, Francisco teria saído do local de sua aparição e todos, ainda anestesiados pelo momento ímpar não sabiam se iam ou não embora – desde que foi hospitalizado há cerca de dois meses, poucas foram as aparições públicas do Papa, inclusive ele não teria participado das solenidades da Sexta-feira da Paixão de Cristo e da Missa da Vigília, no sábado (20).
“Aí apareceu no telão para que esperássemos, pois o Papa iria saudar os fiéis na Praça São Pedro. Aguardamos um pouco e, em cerca de 10 a 15 minutos, ele saiu pela praça de Papamóvel. Vimos o Papa de uma distância de cinco, quatro metros de onde estávamos. Foi muito gratificante termos ficado tão perto do Papa, que fez questão de abençoar muitas crianças em seu trajeto. Tivemos oportunidade de vê-lo duas vezes, porque a volta foi também por onde estávamos.”
A notícia da morte
Na segunda-feira (21), Isabela, Mauro e Sônia Fantacini estavam visitando uma das quatro basílicas papais, de Roma, exatamente a Basílica de Santa Maria Maggiore (Santa Maria Maior), escolhida por Francisco para ser o local de seu sepultamento.

Enquanto visitavam a basílica, os Fantacini receberam a notícia, por volta de 10h30 (horário de Roma), da morte do Papa Francisco. Estavam ao lado do altar.
“Nós adentramos no local pela Porta Santa. Quando estávamos próximos do altar, uma pessoa, não sei se um padre ou um representante da igreja, fez o anúncio para todos os que estavam lá, sobre o falecimento do Papa Francisco. Foi um momento de muita comoção. Víamos as pessoas com os olhos cheios de lágrimas. Algumas freiras estavam chorando. Nós não esperávamos seu falecimento, por conta de sua aparição na véspera. Achávamos que ele estava um pouco melhor e isso nos pegou de surpresa”, emociona-se Isabela.
Depois do impacto da morte de Jorge Mário Bergoglio, o Papa Francisco, Isabela, Mauro e Sônia puderam entender o momento que passaram. Sem saber, estavam entre os últimos fiéis a receberem a Bênção Urbi et Orbi, a receberem a Indulgência Plenária e estar ao lado de Francisco nos seus últimos momentos de vida.