Empresa ‘fatia’ canaviais do tradicional bioparque de Sertãozinho entre usinas da região
A Raízen – empresa controlada pelo Grupo Cosan – deve anunciar ainda na manhã desta terça-feira (15), o encerramento das atividades da tradicional Usina Santa Elisa, baseada em Sertãozinho. Fundada há quase 90 anos por Maurílio Biagi (pai), a ‘Santelisa” como era conhecida ficou com a família por cerca de três gerações até ter seu controle acionário definitivamente negociado em 2009, para a Louis Dreyfus Company (LDC). Em 2021 a usina foi adquirida pela Raízen.
A Santelisa estava em recuperação judicial há alguns anos. Usina da Pedra, São Martinho, Balbo, Bazan e grupo Toniello principalmente, devem assumir os canaviais da usina. A Raízen vinha tentando a venda da Santelisa (e, segundo algumas fontes do setor, também de pelo menos outras três plantas pelo Brasil) há pelo menos seis meses.
Sobre a Raízen
Com um time de mais de 40 mil funcionários, a Raízen opera 35 parques de bioenergia, com capacidade instalada para moagem de 105 milhões de toneladas de cana, com cerca de 1,3 milhão de hectares de áreas agrícolas cultivadas com tecnologia de ponta e colheita totalmente mecanizada. Enfrentando dificuldades financeiras, a empresa encerrou a safra (2024/25), com uma dívida líquida de R$ 34 bilhões.
Raízen emitiu nota sobre o fechamento da empresa. A matéria foi atualizada às 09h20.

O empresário Maurílio Biagi também emitiu nota sobre o encerramento das atividades da Santelisa. Veja a íntegra:
Nota de Posicionamento
Recebi com tristeza a notícia da descontinuidade das operações da Usina Santa Elisa, em Sertãozinho, por tempo indeterminado.
Essa usina faz parte da minha história pessoal e da história da nossa região. Foi adquirida por minha família, em 1936, e desde então se tornou um verdadeiro símbolo do desenvolvimento industrial de Sertãozinho. Lá, vivi grandes momentos da minha vida: iniciei minha trajetória profissional atrás do balcão do armazém, passei por todos os setores, da indústria à presidência, e pude liderar sua transformação em uma das maiores empresas do setor sucroenergético no mundo, tanto em inovação quanto em produção.
Em 1998, alcançamos um marco histórico: a Santa Elisa se tornou a usina com maior volume de moagem do mundo à época, com mais de 7 milhões de toneladas. Antes disso, protagonizamos a primeira grande fusão do setor, com a Usina São Geraldo, sempre buscando caminhos de crescimento e sustentabilidade econômica e social.
Mas, acima de tudo, nenhuma conquista teria sido possível sem as pessoas extraordinárias que caminharam ao meu lado. A Santa Elisa foi uma escola de formação profissional e humana para milhares de colaboradores, muitos dos quais ajudaram a construir não só essa empresa, mas outras que nasceram a partir dela.
Há 25 anos deixei de participar da sua gestão e há 20 da sociedade, com o sentimento de missão cumprida. Vivi lá desde o meu nascimento, dediquei grande parte da minha vida a essa companhia e me orgulho do legado que deixamos. Torço para que os impactos dessa decisão sejam os menores possíveis, especialmente para os trabalhadores, fornecedores e para toda a comunidade local.
Mais do que um empreendimento, a Usina Santa Elisa representa um patrimônio imaterial valioso — de memória, de pertencimento, de vínculos afetivos e sociais. A história que ela ajudou a escrever em Sertãozinho é indelével.
Neste momento de pausa, escolho olhar para o futuro com esperança. Acredito na força de reinvenção da nossa região e confio que, com diálogo, sensibilidade e responsabilidade, será possível encontrar novos caminhos e equalizar essa situação. Tenho a convicção que os atuais proprietários tomaram a decisão certa para o momento, com todo o cuidado e respeito pelas partes envolvidas. Aliás, aproveito para destacar que sempre agiram para comigo com muita fidalguia, com total consideração a mim e a todo esse legado.
Fiquei surpreso pelo tanto de mensagens e telefonemas carinhosos que recebi desde cedo de amigos de todas as fases da minha vida e da imprensa. Cada um com uma lembrança, com uma história para ser compartilhada e me pedindo para compartilhar a minha. Por esse motivo decidi me manifestar através deste texto.
A Santa Elisa pode ter encerrado temporariamente suas atividades, mas o que ela construiu jamais será apagado. E é com esse espírito que seguimos em frente, com coragem, resiliência e fé nos novos tempos.
Maurilio Biagi Filho
Empresário

