O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, iniciou a primeira reunião do comitê com o setor produtivo afirmando que o governo trabalha diplomaticamente para reverter as tarifas de 50% anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil.
Alckmin classificou a decisão do governo americano como absolutamente inadequada. “Os Estados Unidos têm déficit na balança comercial com boa parte do mundo, mas têm superávit na balança comercial com o Brasil. Tanto no setor de serviços quanto de bens”, apontou o vice-presidente. Alckmin destacou ainda que o superávit dos americanos tem longa data, se mantendo há 15 anos.
O vice-presidente disse que o governo brasileiro dialogou ainda com representantes do setor industrial americano que podem ser afetados pela elevação das tarifas. “Nós conversamos com os parceiros americanos do setor industrial para eles também se envolverem nesse trabalho, mostrando que isso não só encarece, prejudica a economia brasileira, mas também encarece os produtos americanos. E ainda mais com a questão da exiguidade do tempo”, disse durante a reunião.
Alckmin reforçou ainda que o governo brasileiro está empenhado para resolver a questão das tarifas e disse que a intenção é ouvir as sugestões de todos os setores envolvidos. “É importante a participação de cada um de vocês nas suas áreas específicas para a gente fazer um trabalho aqui bem conjunto”, finalizou.
Decisão política – Porém, o subsecretário de Diplomacia Pública dos EUA, Darren Beattie, afirmou na segunda-feira (14) que o tarifaço foi motivado pelos “ataques” do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Ou seja, a decisão foi política.
Comitê – O nomeado Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais foi oficializado no decreto que regula a Lei de Reciprocidade Econômica (Lei 15.122/25). A reunião desta terça-feira contou com a presença de 18 executivos de diferentes setores. À tarde, o foco foi o agronegócio.
Na semana passada, a Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Fazenda, avaliou que o impacto do aumento das tarifas de importação dos Estados Unidos para o Brasil de 10% para 50% tende a ser pouco significativo no crescimento de 2025, embora alguns setores da indústria de transformação possam ser especialmente prejudicados.
Alckmin afirmou que o governo ainda busca flexibilizar o prazo determinado pelo governo dos Estados Unidos para taxar as exportações brasileiras em 50% a partir de 1º de agosto. “O prazo é exíguo, mas vamos trabalhar para dar o máximo nesse prazo”, disse nesta terça-feira, 15, após reunião com representantes do setor produtivo.
A proposta do empresariado é de pelo menos mais 90 dias de discussão, o que foi reforçado por representantes do setor produtivo, como o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes. Conforme o vice-presidente, os executivos brasileiros farão parte da tentativa de pressão por maior prazo. O período, afirmou, poderá inclusive servir para acordos comerciais positivos.
Reiterando um argumento que tem sido utilizado por empresários e pelo governo, apontou que os Estados Unidos têm superávit na balança comercial. “De janeiro a junho (deste ano), as exportações dos EUA para o Brasil aumentaram 11,48%. As exportações do Brasil para os EUA, 4,37%”, afirmou Alckmin.
A Câmara de Comércio dos Estados Unidos e Câmara Americana de Comércio no Brasil (AmCham Brasil) publicaram nota conjunta contra taxação anunciada por Trump. De acordo com o comunicado, o tarifaço “impactaria produtos essenciais para as cadeias de suprimentos e os consumidores dos EUA, aumentando os custos para as famílias e reduzindo a competitividade das principais indústrias americanas.”
O texto lembra que “mais de 6,5 mil pequenas empresas nos EUA dependem de produtos importados do Brasil, enquanto 3,9 mil empresas americanas investem no país. O Brasil é um dos dez principais mercados para as exportações dos EUA e o destino de quase US$ 60 bilhões em bens e serviços americanos todos os anos.”
As duas câmaras de comércio pedem que os governos dos dois países abram negociações para evitar a implementação das tarifas anunciadas. “Impor tais medidas em resposta a tensões políticas mais amplas corre o risco de causar danos reais a uma das relações econômicas mais importantes dos Estados Unidos e estabelece um precedente preocupante.”
Segundo a Câmara de Comércio dos Estados Unidos e a AmCham Brasil, uma relação comercial estável e produtiva entre as duas maiores economias do Hemisfério beneficia os consumidores e sustenta empregos e a prosperidade mútua.
O ex-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco do Brics, Marcos Troyjo, considera que haverá mais engajamento da alta administração do governo Lula para aproximar as tarifas dos Estados Unidos para mais próximo do nível de 30%, que foi o colocado pela maior economia do mundo tanto para a União Europeia (UE) quanto para o México.
Segundo Troyjo, o cenário atual é uma oportunidade interessante para o Brasil diversificar suas parcerias comerciais, considerando que agora a cada US$ 2 que o Brasil exporta, US$ 1 vai para a Ásia e a cada US$ 100 que o Brasil exporta, US$ 33 vão para a China e US$ 12, aos EUA.
O presidente da Fiesp, Josué Gomes, afirmou que o setor produtivo mantém confiança absoluta na capacidade do Itamaraty e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) de conduzir as negociações com os Estados Unidos para reverter o aumento tarifário. Disse ainda ter confiança de que a relação histórica do Brasil com os EUA não será rompida.
“Nós temos absoluta confiança que os mais de 200 anos de boas relações diplomáticas e comerciais com os Estados Unidos e América, que são os maiores investidores diretos estrangeiros no Brasil, não vai ser romper dessa maneira. Pelo contrário, vamos chegar a um entendimento”, avaliou.
Em coletiva de imprensa após a reunião, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, disse que o governo e o setor empresarial estão “uníssonos e convergentes” em busca de uma solução, de preferência antes da data prevista para a taxação. Os empresários brasileiros também se comprometeram a intensificar o diálogo com o setor privado norte-americano.
“Não podermos ficar na imprevisibilidade. Temos produtos perecíveis envolvidos nessa questão”, ressaltou Alban, que defende a via da negociação com os EUA. “O que entendemos é que o Brasil não se precipitará em medidas de retaliação.”

