Taís Roxo da Fonseca *
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Reza a lenda que na era medieval, durante o século IX, tivemos uma papisa chamada Joana, que teve a história confirmada por três escritores, Jean de Malley, Stephen de Bourboun e Martin da Polônia. Os três escritores narram a história da papisa Joana de maneira muito semelhante com pouquíssimas singularidades, dizem que Joana nasceu em Mainz na Alemanha e ainda em tenra idade fugiu com o namorado para Athenas onde alterou a sua identidade para John e passou a vestir-se com vestuário próprio de homens para poder conquistar a almejada vaga no Liceu, escola de filosofia fundada por Aristóteles que proibia a matrícula de mulheres.
O Liceu de Aristóteles ensinava uma ampla gama de disciplinas, incluindo filosofia, física, política e ética. Assim, quando a Joana-João terminou seus estudos, logo seguiu para Roma afim de ministrar aulas de gramática e lógica para nobreza papal, famílias nobres aliadas ao papado, que ao perceberem sua impecável formação ética aristotélica a aproximaram da igreja e dali em diante a Joana-John tornou-se uma cardial e depois foi eleita a “papa”, porque acreditavam ser John, o papa. Segundo os autores, o papa John sucedeu Leão IV que morreu em 855.
Mas o papado de Joana-John durou somente 2 anos porque ela engravidou e deu a luz em público durante uma procissão. A Declaração Universal dos Direitos Humanos concebida e assinada por 193 países, garante em seu artigo 2 o direito à igualdade para todas e todos independentemente de gênero feminino ou masculino e mesmo assim a igreja católica não reconhece às mulheres o direito a ordenação, ao cargo de cardial e consequentemente de decisões como o voto.
Com a passagem do Papa Francisco houve um reconhecimento, ainda que pequeno, desse tratamento desigual por parte da igreja para com as mulheres, mas ainda assim manteve a proibição ao sacerdócio, do voto e do poder de decisão feminino, dando continuidade aos ensinamentos mesmo que velados, da inferioridade feminina perante o masculino, que desde a infância ensina no catecismo ser a mulher nascida da costela do adão. Pela teoria do filósofo John Locke, a mente humana é uma folha em branco desde o nascimento, pronta para assimilar o mundo, a ética, a lógica e o amor.
Uma das últimas estatísticas realizadas sobre a violência contra as mulheres, publicada em março de 2025 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontou que nos últimos 12 meses mais de 21 milhões de brasileiras sofreram violência. Vale ressaltar o caso do médico e de sua genitora, presos na última semana em Ribeirão Preto, acusados de envenenar com chumbinho a professora Larissa, que de conformidade com as investigações, o crime teria ocorrido porque a vítima descobriu uma traição e pediu o divórcio.
A edição da Lei Maria da Penha inegavelmente representou um enorme avanço ao Sistema Jurídico Brasileiro, mas não foi o bastante para diminuir a violência perpetrada por uma sociedade doente, necessitando urgente de medidas abrangentes advindas dos órgãos formadores de opiniões, como a igreja por exemplo, e só assim veremos uma Joana Papisa a proclamar a liberdade e a igualdade das mulheres.
* Advogada