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IA & Computador Quântico: o casamento do milênio

Conceição Lima *

A Inteligência Artificial, vulgo IA e o Computador Quântico (que podemos chamar de CQ)formam o “casal” mais promissor do reino da Tecnologia e o casamento entre ambos são favas contadas. O reino todinho está à espera disso, aliás, com muita ansiedade. A IA já é bem conhecida na praça e a sua cotação continua cada vez mais alta. O CQ ainda é meio imaturo, mas, pelo jeito, será mesmo o parceiro ideal para a nossa “menina”.

Um tanto quanto instável até o momento, além de “emaranhado”, esse futuro parceiro da IA ainda é meio problemático. Mas, todas as big techs estão empenhadíssimas em colocá-lo nos eixos, para que as bodas se realizem a contento. Aliás, tecnicamente falando, espera-se que o nosso querido CQ venha a ser infinitamente mais poderoso que o seu ancestral, o computador tradicional que conhecemos.

E não é que o caçulinha CQ veio todo remodelado? Dois superpoderes: a SUPERPOSIÇÃO e o EMARANHAMENTO QUÂNTICO. Em vez dos tradicionais bits, o nosso garoto possui quantum bits, ou qubits. Os coitados dos bits só conseguem focar uma situação por vez: 0 (falso) ou 1 (verdadeiro). Os poderosos qubits conseguem estar em 0 e 1 ao mesmo tempo (e nos infinitos valores entre ambos), graças exatamente ao seu poder de superposição. E isso não é pouca coisa! Imagine que você esteja tentando sair de um labirinto: um computador tradicional testaria apenas um caminho por vez. Já um CQ testaria todos os caminhos de uma vez só. Ah! ia me esquecendo do tal emaranhamento quântico: os qubits podem ser conectados de forma que o estado de um afete o outro instantaneamente, qualquer que seja a distância entre eles.

Embora tão poderoso, o CQ é muito sensível e ainda comete muitos erros. Mas a sua “cara metade”, a IA, sempre vai estar lá para ajudá-lo. Por exemplo, ela vai ensinar-lhe o seu segredo maior, a Machine Learning (Aprendizado de Máquina). Daí nascerá uma filho tinha mais que superpoderosa, a Quantum Machine Learning, QML.  Juntos, o trio será capaz de revolucionar a sociedade humana!

A grande pergunta que se faz atualmente é: “Quando acontecerão, de fato, essas bodas”? Uma startup finlandesa (IQM)almeja alcançar esse marco já no próximo ano. Mas o Google duvida e garante que o prazo é de cinco a dez anos. A NVIDIA ficou ainda mais na retranca: pelo menos, 15 anos… É que os desafios técnicos são muitos e a mão de obra qualificada mais escassa ainda. Os bons profissionais da área estão sendo disputados a tapa. A propósito, convém lembrar que o CQ opera é no mundo microscópico dos átomos e moléculas, um ambiente liliputiano, cujas variáveis são complexas demais para os computadores tradicionais.

As Ias já estão prontas para o casamento, mas os CQs ainda não. Alguns já se adiantaram, como o pioneiro Bell-1, desenvolvido pela startup irlandesa Equal1. Trata-se de um “cavalheiro” híbrido (metade tradicional, metade quântico), que pode ser plugado diretamente na tomada. Embora compacto e prático, ele ainda não funciona a contento no mundo real. Também pudera! Seis parcos qubits! Mas não deixa de ser um passo concreto rumo à aplicação prática da tecnologia.

O Google tem um candidato bem mais aquinhoado, 70 qubits,o Sycamore. Porém… precisa de laboratório especializado. Arrojado, focado em velocidade e supremacia quântica, ele consegue realizar em minutos cálculos que os supercomputadores clássicos levariam quase meio século para concluírem. A IBM também está no páreo, com o charmoso Quantum Starling. Mas… (há sempre um porém!) o garotão só estará apto em 2029. E, com seus 200 qubits, ele promete executar bilhões de operações em segundos!

Quando essas bodas acontecerem de fato, o nosso planeta não será mais o mesmo. A IA, é claro, também se tornará quântica e os seus filhotes robôs serão treinados em minutos, em vez de meses como atualmente.  Os problemas insolúveis de agora serão “fichinha”, a linguagem será tão ou mais poderosa que a das pessoas, não haverá senhas a salvo de sua “sanha”. E as redes neurais artificiais se tornarão imbatíveis.

Então, um novo poder surgirá: a Superinteligência Artificial! Novos medicamentos, diagnósticos ultra precisos, tratamentos sob medida, materiais inéditos, “milagres” acontecendo na área da Medicina, da logística, finanças, meio ambiente etc. etc. A dupla IA & CQ não vai mesmo é se dar ao trabalho de servir de brinquedo em nossas casas. Seu verdadeiro valor está em aplicações altamente técnicas, das quais os computadores clássicos simplesmente não conseguem dar conta.

Mas, como em qualquer casamento, os problemas também podem ser enormes. Há riscos prováveis e possíveis. Os atuais sistemas que protegem a Internet serão quebrados com a maior facilidade. Alguns indivíduos mal-intencionados podem cooptar o casal e, então… ai de nós outros! Ainda mais que a segurança e a regulação cibernéticas já estão com séculos de atraso. O futuro não será nada fácil! Depois da festança, nem sempre vem a bonança! Convém que já vamos colocando a nossa “barba de molho”!

* Doutora em Letras, com pós-doutorado em Linguística, escritora, conferencista e palestrante, membro eleito da Academia Ribeirãopretana de Letras e da Academia membro fundador da Academia Feminina Sul-Mineira de Letras

 

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