A chamada “taxa das blusinhas” vem redesenhando os hábitos de consumo digital no Brasil. A taxação sobre importações de até US$ 50 fez o número de consumidores que desistiram de comprar em sites internacionais saltar de 13% para 38% entre maio de 2024 e outubro de 2025, segundo pesquisa Retratos do Brasil, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com a Nexus Pesquisa.
O levantamento mostra também que o percentual de pessoas que passaram a buscar o mesmo produto com entrega nacional subiu de 22% para 32%, sinalizando que a restrição alfandegária vem deslocando parte da demanda para o varejo interno. Ao mesmo tempo, 45% dos entrevistados desistiram da compra ao ver o custo do frete internacional, e 32% por causa da demora na entrega — um sinal claro de que conveniência e custo ainda pesam mais que origem do produto.
Para a indústria brasileira, o impacto é visto como positivo: a tributação cria um ambiente de competição mais equilibrado com os importados, que chegam ao país muitas vezes sem pagar impostos de origem. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) defende que a medida contribui para proteger empregos e estimular a produção local. Mas o efeito colateral é evidente — o aumento do custo de acesso para o consumidor e a redução da diversidade de opções em um mercado já pressionado pela inflação e pela carga tributária.
A OCDE alerta que políticas protecionistas excessivas, embora possam fortalecer a indústria no curto prazo, limitam a inovação e a competitividade no longo. No Brasil, o desafio é duplo: sustentar a indústria sem penalizar o consumidor, equilibrando arrecadação e liberdade de escolha.
Os dados revelam ainda que a desistência cresce entre os consumidores com maior renda e escolaridade, justamente os mais habituados ao e-commerce internacional. O impacto, portanto, não é apenas econômico — é cultural. O país que sempre se acostumou a importar sonhos agora redescobre os limites do próprio mercado.
Se a taxação vai, de fato, fortalecer a indústria nacional, ainda é cedo para afirmar. Por ora, o que se vê é um consumidor menos global e um mercado interno que, para se beneficiar dessa mudança, precisará oferecer mais do que preços ajustados: precisará oferecer qualidade, confiança e inovação. Porque proteger a indústria não basta — é preciso fazê-la valer a pena.

