A produção da indústria no país recuou 0,2% na passagem de junho para julho. Com esse resultado, o setor chega a quatro meses seguidos sem crescimento, o que é explicado pelo ambiente de juro alto. O resultado foi divulgado nesta quarta-feira, 3 de setembro, pela Pesquisa Industrial Mensal, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De abril a julho, a indústria acumula perda de 1,5%, sendo quedas em abril (-0,7%) e maio (-0,6%) e estabilidade em junho (0%). A última vez que o parque industrial brasileiro somou quatro meses sem expansão foi entre novembro de 2022 e fevereiro de 2023. Em relação a julho de 2024, a produção da indústria nacional mostra avanço de 0,2%.
Nos últimos doze meses, o setor apresenta expansão de 1,9%. O resultado de julho deixa o setor 1,7% acima do patamar pré-pandemia de covid-19 (fevereiro de 2020) e 15,3% abaixo do nível recorde já alcançado, de maio de 2011. Em relação ao patamar final de 2024, o setor teve expansão de 0,3%. Na categoria de bens de capital, a produção está 28,5% abaixo do pico, registrado em setembro de 2013, enquanto os bens de consumo duráveis operam 32,3% abaixo do ápice de junho de 2013. Os bens intermediários estão 11,6% aquém do auge, de julho de 2008, e os bens semiduráveis e não duráveis operam em nível 15,5% inferior ao pico de junho de 2013.
O IBGE revisou o resultado da produção industrial em junho ante maio, de uma alta de 0,1% para uma estabilidade (0,0%). Efeito do juro alto – De acordo com o gerente da pesquisa, André Macedo, o cenário predominante negativo desde abril é explicado pela política monetária restritiva, ou seja, os juros altos, ferramenta do Banco Central (BC) para tentar conter a inflação. Atualmente, a taxa básica de juros, a Selic, está em 15% ao ano, o patamar mais alto desde julho de 2006. Na passagem de junho para julho, o IBGE identificou queda em 13 das 25 atividades industriais.
Os destaques negativos foram metalurgia (- 2,3%), outros equipamentos de transporte (-5,3%) e impressão e reprodução de gravações (-11,3%) A lista ainda traz bebidas (-2,2%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-3,7%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-2%), produtos diversos (-3,5%) e produtos de borracha e de material plástico (-1%). Entre as atividades com alta na produção, os principais impactos positivos vieram de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (7,9%), alimentícios (1,1%), indústrias extrativas (0,8%) e produtos químicos (1,8%).
Em relação às grandes categorias, bens de consumo duráveis (-0,5%) e bens de capital (-0,2%) registraram altas na passagem de junho para julho. Bens de capital são máquinas e equipamentos. Por outro lado, bens intermediários, ou seja, que serão transformados em outros produtos, cresceram 0,5% e bens de consumo semi e não duráveis aumentaram 0,1%. De acordo com André Macedo, o resultado de julho teve reflexos também do tarifaço americano, que só começou na primeira semana de agosto. Isso se explica pelo fato de que a ameaça de taxação das exportações brasileiras para os Estados Unidos mexeu com expectativas e decisões futuras de empresários, principalmente os que têm atividades voltadas para o mercado externo. Macedo ressalta que a predominância negativa desde abril é fundamentada pela política de juros.

