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Infecções respiratórias disparam em Ribeirão Preto

Cidade já contabilizou 51 mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave, além de 696 casos confirmados, acendendo sinal de alerta

Casos sobrecarregam hospitais em Ribeirão Preto e em todo o Brasil (Foto: Alfredo Risk)

Adalberto Luque

No inverno de 2023, o gráfico aposentado Hilson Sobreiro Cavalcante contraiu uma pneumonia e hoje vai ao médico do convênio de tempos em tempos para avaliar seu quadro. Tudo começou com uma febre que ia e vinha. “Passava pelo médico, que dava remédio. A febre baixava e voltava. Fui algumas vezes no médico e nada. Fiz exame de urina, raio-x e nada”, explica Cavalcante.

Depois de algumas consultas, ele retornou e foi atendido por outro médico. Novo raio-x e a novidade: “Tinha sofrido um derrame pleural.” Esse derrame é o acúmulo de líquido na pleura, membrana que reveste os pulmões.

Hilson Sobreiro Cavalcanti sofreu derrame pleural e toma todos os cuidados, sobretudo em tempos de aumento da circulação dos vírus respiratórios (Foto: Arquivo Pessoal)

Foi para o hospital e acabou ficando internado por uma semana. Teve que instalar um dreno para retirar o líquido. Recebeu alta. “Receitaram antibiótico por quase um mês. Mas sentia dores”, lembra o aposentado.

Cavalcante consultou então um pneumologista do convênio e ganhou mais uma internação, por três dias. “Fizeram uma punção e, desta vez, parece ter resolvido. Foram quase dois meses, entre idas e vindas.”

As sequelas, todavia, permanecem. Segundo ele, a pleura endureceu e isso o levou a fazer consultas frequentes no convênio. Toma vacina contra a gripe todos os anos e segue as recomendações de seu pneumologista. “Agora, com o aumento de casos de gripes graves, é preciso muito cuidado”, conclui Cavalcante.

Números preocupam

De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde de Ribeirão Preto, foram registrados 696 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), entre 01 de janeiro a 11 de junho deste ano. Deste total, 295 não foram especificados.

Ribeirão Preto registrou também 51 mortes por SRAG neste período, das quais, 28 não tiveram causa especificada. Das notificadas, 16 mortes ocorreram por conta da influenza, 6 casos foram de covid e 1 de sincicial (tipo de gripe que acomete principalmente as crianças).

Aumenta procura por hospitais em função do crescente número de casos de SRAG (Foto: Alfredo Risk/Arquivo Tribuna Ribeirão)

Por faixa etária, os casos de morte apontam que os idosos são o público mais suscetível às infecções respiratórias graves. Em Ribeirão Preto, 11 dos mortos (quatro homens e sete mulheres) tinham mais de 80 anhos, 6 com idades entre 70 e 79 anos (três homens e três mulheres) e um na faixa etária de 60 a 69 anos. Entre os mortos, 52% eram homens e 42% mulheres.

Até o dia 11 de junho Ribeirão Preto ainda não teve registro de mortes, mas em maio foram seis vítimas das SRAG, todas causadas por influenza. Em abril, foram sete mortes, seis das quais por influenza. Em fevereiro e março houve uma morte em cada mês, ambas por covid. Em janeiro foram oito casos, quatro por influenza e quatro por covid.

Durante todo o ano de 2024, Ribeirão Preto registrou 189 óbitos por SRAG. Deste total, 57 morreram por co9vid e 28 por influenza. Em 2023 foram 232 mortes, 130 por causas não especificadas e 102 especificadas. Naquele ano, 81 pessoas morreram por covid e 16 por influenza.

Covid e influenza

Os números disponibilizados pela Secretaria Municipal de Saúde mostram que Ribeirão Preto está tendo uma inversão de infecções respiratórias que lideram o número de casos registrados e o número de mortes.

Os casos de covid ainda são frequentes e têm registros de óbito. Mas foram superados pelos casos de influenza. Em 2025, entra os casos especificados que não evoluíram para óbito, 43,9% eram de influenza, 26,9% de sincicial, 19,2% de covid e 5,9% de rinovírus.

Em 2025 foram registradas 51 mortes e 696 casos de infecções respiratórias graves (Foto: Alfredo Risk)

Mês a mês, entre os casos mais volumosos, a influenza segue fazendo mais vítimas. Até 11 de junho, 21 casos registrados eram de influenza. Em maio foram 102 casos de influenza. Em abril, 34 de influenza e 35 de sincicial. Em março, 34 de sincicial e 18 de covid. Em fevereiro, 26 casos de covid. E em janeiro, 15 de covid e 12 de influenza.

De acordo com os dados disponibilizados para 2025, 341 pessoas contraíram influenza, enquanto 322 tiveram covid e 147 sincicial. Entre as vítimas das infecções respiratórias, 54% eram mulheres e 46% homens.

Baixa procura

De acordo com o Ministério da Saúde, o principal motivo para o aumento no número de casos das SRAGs é a baixa cobertura vacinal contra a influenza, aliado ao aumento da circulação do vírus, sobretudo no inverno.

Os grupos de risco se concentram em crianças pequenas, idosos, gestantes e pessoas com comorbidades. Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, apesar de terem sido intensificadas as campanhas de vacinação, é fundamental que os grupos vulneráveis aumentem a cobertura vacinal.

A população, sobretudo o grupo prioritário, mais uma vez, não compareceu para a vacinação contra a gripe. O grupo prioritário, definido pelo Ministério da Saúde para a vacinação em 2025, inclui: crianças de seis meses a menores de seis anos; idosos com mais de 60 anos; gestantes; puérperas (mulheres até 45 dias após o parto); povos indígenas e quilombolas; trabalhadores da saúde; professores; pessoas com comorbidades; pessoas com deficiência permanente; forças de segurança e salvamento; forças armadas; caminhoneiros e trabalhadores no transporte coletivo rodoviário; trabalhadores portuários.

“Parte da população acredita, equivocadamente, que a vacina da gripe pode causar a doença e outros imaginam que imunização é definitiva”, revela Luzia Márcia, diretora do Devisa (Foto: Alfredo Risk)

Em 2024 a cobertura dos grupos prioritários em Ribeirão Preto foi de 26,2%, muito abaixo da meta, que é imunizar 90% destas pessoas. Em 2025, mesmo com a vacinação aberta para toda a população, ainda não houve divulgação oficial da cobertura percentual por grupo ou faixa etária.

Em Ribeirão Preto, até 23 de maio, foram aplicadas 48.322 doses. Em todo o estado, até 15 de maio, apenas 24,41% da população prioritária foi vacinada, de acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. O resultado é o aumento de pacientes nos hospitais públicos e privados e unidades de saúde.

Baixa cobertura vacinal

“O reflexo dos números da SRAG é decorrente, principalmente, da baixa cobertura vacinal contra a Influenza. Parte da população acredita, equivocadamente, que a vacina da gripe pode causar a doença. Outros imaginam que a imunização é definitiva, quando na verdade ela deve ser feita anualmente, devido às mutações dos vírus circulantes.

Além disso, persistem reflexos do movimento antivacina intensificado durante a pandemia da Covid-19, o que ainda compromete a adesão às campanhas de imunização”, explica Luzia Márcia Romanholi Passos, diretora do Devisa, Departamento de Vigilância em Saúde.

Godinho transferiu, temporariamente, seu gabinete para uma das UPAs da cidade (Foto: Alfredo Risk)

Para enfrentar o aumento da demanda, o secretário municipal da Saúde, Mauricio Godinho, transferiu temporariamente seu gabinete para uma das UPAs da cidade. O objetivo é acompanhar de perto os atendimentos e coordenar, junto às equipes, medidas para reorganizar e otimizar os fluxos de atendimento durante este período de sazonalidade das síndromes respiratórias.

A orientação da pasta é que crianças com sintomas leves sejam levadas diretamente às Unidades Básicas de Saúde (UBSs), sem necessidade de agendamento prévio. As equipes farão a avaliação no local e, somente em casos que exigirem maior complexidade, será feito o encaminhamento para as UPAs.

A secretaria reforça ainda que a vacinação contra a gripe segue disponível em todas as salas de vacina do município e continua sendo a principal medida de proteção para evitar formas graves da doença e reduzir a sobrecarga nos serviços de saúde.

Alerta Nacional

O Brasil enfrenta um novo pico de infecções respiratórias. Os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) voltaram a crescer de forma expressiva, registrando o maior número de internações desde 2023. A alta preocupa autoridades de saúde em todo o país, com destaque para o estado de São Paulo, que já contabiliza milhares de hospitalizações em decorrência de vírus sazonais.

Baixa cobertura vacinal tem contribuído para aumento no número de casos no País (Foto: Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo/Divulgação)

Segundo o mais recente boletim InfoGripe, da Fiocruz, os registros de SRAG praticamente dobraram nas últimas quatro semanas. A maioria das internações é causada por influenza A e vírus sincicial respiratório (VSR), agentes virais conhecidos por afetarem principalmente crianças pequenas e idosos — os dois grupos mais vulneráveis da população.

De acordo com o Boletim InfoGripe, com dados oficiais do Ministério da Saúde e Fiocruz, até maio de 2025, foram notificados 75.257 casos de SRAG em todo o território nacional. Os exames deram positivo para vírus respiratórios em 36.622 casos. Outros 6.363 ainda aguardavam resultado.

O Ministério da saúde reforça a necessidade de se vacinar contra a gripe e covid, ambas vacinas disponíveis gratuitamente na rede pública. Além disso, recomenda uso de máscaras em ambientes fechados ou com pouca ventilação, higienização frequente das mãos, evitar aglomeração em casos de sintomas gripais e procurar imediatamente atendimento médico diante de sinais de agravamento, como falta de ar, febre persistente e confusão mental.

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