Por Felipe Frazão (AE)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira, 24 de outubro, que não espera um acordo imediato com o presidente Donald Trump, na reunião que terão neste domingo (26), na Malásia. O petista afirmou que o encontro programado para o período da tarde em Kuala Lumpur precisará de uma sequência de negociação técnica e política, entre ministros do Brasil e secretários dos EUA.
“Se eu não acreditasse que fosse possível fazer um acordo, eu não participaria da reunião. Se bem que o acordo certamente não será feito amanhã, ou depois de amanhã quando eu me reencontro com ele. O acordo será feito pelos negociadores”, disse Lula, em entrevista antes de decolar de Jacarta, na Indonésia, para Kuala Lumpur, capital malaia.
“Eu nunca participo de uma reunião que eu não acredito no sucesso da reunião. Eu só vou saber se ela é sucesso ou não se eu participar. Então eu vou participar da reunião na expectativa de que a gente tenha sucesso naquilo que o Brasil tem interesse ”
Questionado sobre o prazo que o Brasil considera razoável para um acerto, Lula afirmou que “quanto antes melhor”. “Se eu pudesse te dar uma resposta, eu te daria. Eu queria que fosse ontem, mas se for amanhã já está bom. Quanto mais rápido, melhor”, respondeu.
Lula foi questionado insistentemente sobre setores econômicos em pauta, como minerais críticos (entre eles as terras raras), mas não respondeu sobre que proposta fará aos EUA. O petista afirmou que a reunião está sendo aguardada há algum tempo e que o Brasil sempre esteve disponível para conversar.
Os negociadores do lado brasileiro são os ministros. Lula disse que houve um “certo truncamento” nas negociações, mas que depois do telefonema entre eles as coisas caminharam. O petista diz querer reconstituir uma relação civilizada com os EUA.
“Tenho todo interesse em ter essa reunião, tenho toda a disposição de defender os interesses do Brasil e mostrar que houve equívocos nas taxações ao Brasil e quero discutir um pouco as punições dadas a ministros brasileiros da Suprema Corte que não têm nenhuma explicação.”
Lula disse que fará uma reunião “sem frescura” com Trump, com objetividade e sinceridade. Ele citou como exemplos o preço da carne em alta nos EUA e a inflação sobre o café no mercado interno americano. O Brasil tem expectativa, nos bastidores, que esses produtos sejam retirados do tarifaço.
O presidente americano, Donald Trump, assinou no dia 30 de julho a ordem executiva que instituiu a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos a partir de 6 de agosto – geral de 10% e adicional de 40% direcionada apenas ao Brasil. A medida veio acompanhada de uma lista de isenções de quase 700 itens, com alívio a setores como o de suco de laranja e o de fabricação de aeronaves.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) informou na quinta-feira (23), já ter aprovado R$ 5,3 bilhões em crédito do Plano Brasil Soberano para socorro a empresas afetadas pelo tarifaço do presidente Donald Trump.
As aprovações foram destinadas a empresas da indústria de transformação, com R$ 4,38 bilhões; comércio e serviços, com R$ 468 milhões; agropecuária, com R$ 336 milhões; e indústria extrativa, com R$ 127 milhões.
Lula também disse, no encerramento da visita de Estado à Indonésia, que a reunião com Trump não terá assunto vetado. “Vai ser uma reunião livre em que a gente vai pode dizer o que quiser, como quiser, e vai ouvir o que quiser e não quiser também. Estou convencido de que vai ser boa para eles e para o Brasil essa reunião. Vamos voltar a nossa normalidade”, afirmou.
O presidente disse ainda que quer discutir sanções a ministros do Supremo Tribuna Federal (STF), como a Lei Magnistsky e a cassação de vistos, e também temas geopolíticos, como China, Venezuela e Rússia. “O Brasil tem interesse e é colocar a verdade na mesa, mostrar que os Estados Unidos não é deficitário, portanto não tem explicação à taxação feita ao Brasil”, disse.
“Não tem porque explicar a punição de ministros nossos, de personalidades públicas brasileiras nas leis americanas, não tem nenhuma explicação, porque eles não cometeram nenhum erro, eles estão cumprindo a Constituição do meu País e ao mesmo tempo a política de tributação é uma coisa que depende do Brasil, depende do Congresso Nacional”, afirmou Lula.

