Tribuna Ribeirão
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Mensurando Psicologia (43): Diferenças individuais

José Aparecido Da Silva*

 

Algumas diferenças genéticas podem apresentar mais benefícios, ou não, para nossas habilidades cognitivas. Isto não significa, todavia, que genética possa explicar, totalmente, o porquê de algumas pessoas serem mais inteligentes, ou brilhantes, que outras. Para entender melhor as diferenças individuais na inteligência, torna-se fundamental adentrar ao domínio da genética comportamental. Importante saber, também, que ela se apresenta com duas perspectivas: 1ª) Em que extensão os genes contribuem para as diferenças de inteligência (campo denominado genética quantitativa)? e 2ª) Quais são os genes específicos do DNA que, quando diferem entre pessoas, causam diferenças entre inteligência (campo denominado genética molecular)? Distinção sutil, diferenciar genética quantitativa de genética molecular frequentemente causa grande confusão aos interessados no estudo das habilidades cognitivas humanas. Entretanto, importa saber, sim, que podemos conhecer se há efeitos genéticos sobre a inteligência (genética quantitativa) sem conhecer qualquer gene específico (genética molecular).

Mas, como é possível conhecer sobre genética sem olhar o DNA? Pesquisadores têm tentado responder a esta questão estudando os gêmeos. E uma ideia brilhante, entre outras não menores, proposta por Francis Galton (1822-1911), defende que, há, naturalmente, dois tipos de gêmeos, os idênticos, que se desenvolvem do mesmo óvulo e têm, aproximadamente, 100% de DNA idêntico (clones um do outro, com poucas mutações genuínas), e os fraternos, que se desenvolvem de óvulos diferentes e têm, aproximadamente, 50% de seus DNAs compartilhados (indivíduos que se relacionam da mesma maneira que irmãos regulares). O que isso significa? Que um vasto conhecimento sobre genética quantitativa tem sido obtido comparando-se esses dois tipos de gêmeos. Vamos a ele.

Tome uma grande amostra de gêmeos e dê a estes um teste de inteligência (QI). Então, divida-os em tipos idênticos e fraternos, comparando, em seguida, o QI de um gêmeo com seu par, idêntico ou fraterno. O que você encontrará é que os gêmeos idênticos são muito mais similares em seus escores de QI que os gêmeos fraternos. A única razão possível para isso é a genética, certamente, pois a única coisa que difere entre os dois tipos de gêmeos, e que poderia torná-los mais similares, uma vez que cada par é criado na mesma família, é a porcentagem de genes que eles compartilham.

Genética comportamental faz uso de muitos métodos complexos para estimar o grau dos efeitos genéticos no comportamento. Esse efeito é conhecido como herdabilidade. Estima-se que, em média, a inteligência tem um coeficiente de herdabilidade de 50%. Isto significa que metade das razões pelas quais as pessoas variam em inteligência nos escores dos testes é devida à genética. Intriga, porém, o fato de ter sido demonstrado que o efeito genético sobre a inteligência é mais forte nos adultos (herdabilidade de até 80%) do que em crianças (cerca de 20%), o que sugere que nossa biologia se torna mais importante para nossa inteligência à medida que envelhecemos. Talvez, diferentes genes venham a atuar quando envelhecemos, mas, independentemente da idade, uma vez que a inteligência pode ser confiavelmente mensurada, estudos genéticos, envolvendo gêmeos, mostram que ela é, substancialmente, herdável (de herdabilidade).

Herdabilidade não significa a mesma coisa que hereditariedade, o que causa muita confusão no cotidiano. Um traço hereditário é simplesmente alguma coisa que é transmitida de pais para filhos, enquanto herdabilidade trata da variação genética daquele traço. Ademais, herdabilidade não é exclusivo para a inteligência, isto é, inúmeros outros traços, tais como, altura, personalidade, atitude política, felicidade e predisposição a doença, entre outros, são traços herdáveis, indicando que genes explicam alguma parcela da variação. Mesmo o desempenho educacional é herdável (de herdabilidade), ainda que estudos tenham mostrado que isto ocorre parcialmente porque o desempenho educacional compartilha sua base genética com aquela da inteligência. Atualmente? Parece que o pêndulo desse eterno debate (gene versus ambiente; natureza versus criação) tende mais para o lado da genética.

Professor Visitante da UnB-DF*

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