O desempenho recente do setor de serviços confirma seu papel central na economia brasileira — e, ao mesmo tempo, expõe limites estruturais que exigem atenção. A projeção de crescimento de 3,5% em 2025, acima da média da economia, indica vigor sustentado principalmente pelo mercado interno, pelo nível de emprego ainda elevado e pela recuperação da renda real. Trata-se de um contraste relevante com a indústria e a agropecuária, mais expostas a choques externos e à volatilidade de preços internacionais.
Dados oficiais do IBGE reforçam essa leitura. A Pesquisa Mensal de Serviços mostra que o setor opera cerca de 20% acima do patamar pré-pandemia, resultado que reflete capacidade de adaptação, digitalização acelerada e mudanças no padrão de consumo das famílias. Serviços de transporte, turismo, tecnologia da informação e atividades empresariais concentram grande parte desse avanço, acompanhando a retomada da mobilidade, o crescimento do comércio eletrônico e a demanda por soluções digitais.
Há, porém, um ponto crítico: o crescimento dos serviços tem ocorrido em um ambiente de juros elevados e crédito restrito. Informações do Banco Central indicam que o custo do crédito para pessoas físicas e jurídicas segue alto, o que limita investimentos, especialmente entre micro e pequenas empresas — maioria absoluta do setor. Além disso, o próprio arrefecimento projetado para 2026, com expansão estimada em 1,7%, sinaliza que a resiliência tem limites e depende de condições macroeconômicas mais favoráveis.
Outro aspecto estrutural é o perfil do emprego. Embora os serviços sejam o maior gerador de postos de trabalho no país, dados da PNAD Contínua mostram que uma parcela significativa dessas vagas ainda apresenta baixa produtividade e remuneração média inferior à de setores mais intensivos em capital. Isso ajuda a explicar por que o crescimento do setor nem sempre se traduz em ganhos robustos de renda ou em redução consistente das desigualdades.
Ao mesmo tempo, o avanço dos serviços de informação, comunicação e tecnologia evidencia um caminho possível: qualificação profissional, inovação e digitalização elevam produtividade e competitividade. Relatórios do Ipea e do próprio IBGE apontam que segmentos intensivos em conhecimento são os que mais crescem e melhor remuneram, indicando onde políticas públicas e investimentos privados deveriam se concentrar.
O setor de serviços continuará sendo o motor da economia brasileira nos curto e médio prazos. Mas depender exclusivamente de sua expansão, sem enfrentar gargalos como juros elevados, baixa produtividade e desigualdades no mercado de trabalho, pode transformar um ciclo positivo em crescimento limitado. O desafio não é apenas crescer, mas qualificar esse crescimento para que ele seja sustentável, mais produtivo e socialmente inclusivo.

