Número de mortos na Operação Contenção supera os 111 do “Massacre do Carandiru”, em 2 de outubro de 1992, em São Paulo
Balanço da Operação Contenção – feita pelas polícias Civil e Militar (PM) do Rio na noite da terça-feira, 28 de outubro, nos complexos do Alemão e da Penha contra o crime organizado – indica que o número de mortos subiu para deixou 121 mortos, sendo 1187 civis e quatro policiais. A Defensoria Pública estadual diz que são 132 vítimas da megaoperação contra o Comando Vermelho. O número de mortos supera os 111 do “Massacre do Carandiru”, em 2 de outubro de 1992, em São Paulo.
As informações foram atualizadas pelo secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, que participou de uma entrevista coletiva à imprensa concedida nesta quarta-feira (29). No total, foram feitas 113 prisões, sendo que 33 eram pessoas de outros estados que atuavam no Rio de Janeiro.

Além disso, dez adolescentes foram encaminhados a unidades socioeducativas. O objetivo da operação era conter o avanço do Comando Vermelho e cumprir 180 mandados de busca e apreensão e 100 de prisão, sendo 30 expedidos pelo estado do Pará, parceiro na operação.
“A operação de ontem foi o maior baque que Comando Vermelho levou”, disse Curi. “Com perda tão grande de armas, de drogas e também de lideranças”, emendou. Foram apreendidas 118 armas, sendo 91 fuzis. A polícia contabiliza ainda a droga apreendida e estima que sejam toneladas.
A Operação Contenção é a a mais letal na história do estado do Rio de Janeiro, superando o número de fatalidades no Jacarezinho, considerada uma chacina, que deixou 28 mortos, em 2021. Em dois dias, 64 corpos foram retirados de uma área de mata do Complexo da Penha por moradores, após a operação.
Nos cadáveres foram reunidos na Praça São Lucas, no centro da comunidade, e de acordo com os moradores, não fazem parte da contagem oficial. Para o secretário de Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro, Victor dos Santos, a Operação Contenção deixou apenas oito vítimas:
“As vítimas dessa operação são quatro inocentes feridos sem gravidade e quatro policiais que infelizmente faleceram”, disse. Na versão do secretário, as pessoas que morreram eram criminosas que optaram por não se entregar à polícia.
“A alta letalidade que se verificou era previsível, mas obviamente não era desejada”, disse. O ativista Raul Santiago, morador do complexo, fez uma transmissão ao vivo e denunciou a “chacina que entra para a história do Rio de Janeiro, do Brasil e marca com muita tristeza a realidade do país.

Na terça-feira, mais de 200 linhas de ônibus tiveram seus itinerários interrompidos e alterados e 71 coletivos foram usados como barricadas
” “Essa é a face da cidade maravilhosa, que é capital na América Latina quando a gente pensa em turismo. E eu amo a minha cidade, o meu estado, a minha favela, mas há esses momentos em que a desigualdade grita, o poder direciona o seu ódio e traz na prática mais brutal possível o seu recado para quem vive em comunidades como a nossa”, lamentou .
Ativistas que acompanharam a retirada dos mais de 60 corpos de área de mata no Complexo do Penha classificam o evento como uma “chacina” e um “massacre” promovidos por forças de segurança.
O presidente da organização não governamental Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, também acompanhou a retirada dos corpos e pediu responsabilização do governador Cláudio Castro pela tragédia. Ele lembrou, entretanto, que esse episódio se assemelha a muitos outros já ocorridos no estado.
A Defensoria Pública da União (DPU) e 29 entidades repudiaram, em nota, o aumento da violência e da letalidade policial no estado do Rio de Janeiro. A instituição de proteção aos direitos humanos e assistência jurídica criticou a chamada Operação Contenção, que as forças de segurança pública do estado deflagraram anteontem.

“Para a DPU, ações estatais de segurança pública não podem resultar em execuções sumárias, desaparecimentos ou violações de direitos humanos, sobretudo em comunidades historicamente marcadas por desigualdade, ausência de políticas sociais e exclusão institucional”, sustenta a instituição. O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, tem defendido a megaoperação.
Segundo ele, a ação foi planejada ao longo de seis meses, como resultado de mais de um ano de investigações, contou com o aval do Poder Judiciário e foi acompanhada pelo Ministério Público do estado. Em retaliação á ação policial, os criminosos interditaram 35 ruas em diversos pontos da cidade, com veículos atravessados, latões de lixo, barricadas e pilhas de materiais em chamas.
Por ficar perto dos complexos da Penha e do Alemão, o Hospital Getúlio Vargas recebeu todos os mortos e feridos. Também à noite, moradores iniciaram um protesto na entrada do hospital, informando que outros corpos foram deixados na área de mata.
Em seguida, a PM reforçou o policiamento na entrada principal do hospital para garantir a ordem. Durante a divulgação do balanço da operação, o secretário de Segurança Pública, Victor dos Santos, defendeu a atuação policial.
Dez vagas – Após receber um relatório de Inteligência da Polícia Civil, em parceria com a Secretaria de Administração Penitenciária, o governador Cláudio Castro solicitou ao governo federal dez vagas para a transferência imediata de lideranças criminosas para presídios federais de segurança máxima. A ação mobilizou 2,5 mil policiais civis e militares.
Durante a ação, houve intenso tiroteio e quatro policiais foram mortos, sendo dois civis e dois militares do Bope, a tropa de elite da PM. Pelo menos quatro universidades e 55 escolas do Rio de Janeiro continuam sem aulas presenciais nesta quarta-feira.
A cidade do Rio de Janeiro amanheceu nesta quarta-feira (29) em situação de normalidade, após o caos vivido no dia anterior. Às seis horas, o Centro de Operações e Resiliência (COR) da prefeitura anunciou que a cidade retornou ao estágio 1, o menor em uma escala de 5, que “significa que não há ocorrências de grande impacto”.
O estágio 2 havia sido acionado às 13h48 de anteontem, por causa das interdições em diversas ruas e dos problemas nos modais de transporte. Durante a madrugada, todas as ruas que ainda estavam bloqueadas por barricadas foram liberadas.
Os transportes também funcionam sem problemas nesta manhã. De acordo com o COR, as operações dos ônibus, VLT, BRT, metrô, trens e barcas ocorrem sem alterações desde ontem. Na terça, por causa das interdições, mais de 200 linhas tiveram seus itinerários interrompidos e alterados. Além disso, 71 coletivos foram usados pelos criminosos como barricadas. Segundo pesquisa divulgada no ano passado pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF) e pelo Instituto Fogo Cruzado, o Comando Vermelho foi a única facção criminosa a expandir seu controle territorial de 2022 para 2023, no Grande Rio.
Com o aumento de 8,4%, a organização ultrapassou as milícias e passou a responder por 51,9% das áreas controladas por criminosos na região. A pesquisa mostrou que o Comando Vermelho retomou a liderança de 242 km² que tinham sido perdidos para as milícias em 2021.
Naquele ano, 46,5% das áreas sob controle criminoso pertenciam às milícias e 42,9% ao Comando Vermelho.
Comitiva – A comitiva do governo federal que foi ao Rio de Janeiro inclui os ministros da Justiça, Ricardo Lewandowski, da Igualdade Racial, Anielle Franco, e dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, além do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, que estava previsto para liderar a comitiva, não vai. O objetivo da comitiva designada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva é colher informações sobre a megaoperação da polícia do Rio de Janeiro e avaliar eventuais pedidos por parte da gestão de Cláudio Castro. A comitiva deixou o Palácio da Alvorada após a reunião presidencial por volta das 13h30. De lá, seguiram para a capital fluminense. Um escritório de emergência foi criado.

