Tribuna Ribeirão
Artigos

O custo invisível da violência doméstica

Divulgação

A nova edição da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, do DataSenado e Nexus em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), escancara uma realidade que o Brasil insiste em normalizar: 24 milhões de brasileiras tiveram a rotina alterada após sofrer violência doméstica. São 69% das vítimas — sete em cada dez — impactadas no trabalho, nos estudos e nas relações sociais.

O peso econômico é evidente: 46% afirmam que as agressões afetaram o trabalho remunerado e 42% tiveram prejuízo nos estudos. Cada interrupção nesses campos amplia desigualdades, reduz renda, dificulta a autonomia e perpetua a dependência — condições que favorecem a continuidade da violência.

A vulnerabilidade financeira aparece como um eixo central. A pesquisa mostra que mulheres fora da força de trabalho sofrem três vezes mais violência (12%) do que as empregadas (4%), e 66% das vítimas recebem até dois salários mínimos. A agressão, portanto, não é apenas física: ela aprisiona economicamente.

Dados de outras instituições reforçam esse quadro. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública registrou, em 2023, mais de 245 mil agressões físicas dentro de casa e 1.463 feminicídios. O CNJ aponta mais de 1,3 milhão de processos de violência doméstica em tramitação. Já o Disque 180 ultrapassou 400 mil denúncias em 2024. O Ipea estima um custo anual de pelo menos R$ 1 bilhão para o país — número subestimado pela subnotificação crônica.

Mais da metade das mulheres relata sofrer agressões há mais de um ano, evidenciando a dificuldade de romper o ciclo da violência e a fragilidade das redes de proteção.

Os dados deixam claro: a violência doméstica não é um drama privado, mas um obstáculo estrutural ao desenvolvimento, que compromete produtividade, educação e mobilidade social. O país não avançará enquanto milhões de mulheres continuarem pagando, com o corpo e com a vida, o preço da omissão coletiva.

O Brasil está diante de um espelho incômodo: até quando aceitaremos que a violência silencie projetos de vida inteiros antes mesmo de começarem?

Postagens relacionadas

Sócrates na terra de Sócrates

Redação 1

Conhecer, planejar, governar

Redação 1

A mensuração do envelhecimento (3)

Redação 1

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com