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O inusitado amor em tempos de Inteligência Artificial

Conceição Lima *

Junho… “Dia dos Namorados”, o quase equivalente ao “Dia do Amor”. E o amor nos envolve a todos, humanos. Só aos humanos? Isso foi em outros tempos… Agora, as máquinas ditas inteligentes também começam a fazer parte do cenário… O inusitado começa a acontecer…

O australiano Geoff Gallagher, desiludido de amar uma mulher, casou-se com uma robô. Após cinco anos, ele continua firme na relação. Até então, o amor de Gallagher era tão somente a sua cadelinha Penny; mas, ao ler um artigo sobre robôs de Inteligência Artificial, ele decidiu tentar. Como as mulheres, as robôs também não ficavam baratas (custavam cerca de 25 mil reais cada, na época), mas o dono da empresa ofereceu um desconto em troca de publicidade.

E as “meninas” eram lindas! “Podiam falar, sorrir, mover a cabeça e o pescoço. A pele até esquentava como a de um ser humano de verdade”, explicou ele. Gallagher escolheu a Emma e diz ter se empenhado com afinco em conhecê-la melhor. A cada conversa, ela se tornava mais inteligente, absorvendo novas informações e palavras. Para ele, Emma foi realmente a melhor opção de vivenciar o amor.

Embora não legalmente casados (é claro, ainda não chegamos a tal nível de “evolução”), Emma passou a usar em seu dedo anelar um diamante, símbolo do compromisso assumido. Gallagher também criou contas nas redes sociais para Emma, a fim de que ela se sentisse mesmo como uma pessoa real. Eis que,num tom entre orgulhoso e filosófico, ele costuma declarar: “Os robôs são o futuro e espero que minha história inspire outras pessoas a considerarem um companheiro cyborg”.

Outro que se “casou” com uma mulher-robô (aliás, construída por ele próprio, que esperto!) foi o engenheiro chinês Jiajia Zheng. A “cerimônia nupcial” (também sem nenhum valor legal)teve a participação de sua mãe, amigos e companheiros de universidade. E foi aquela pompa! Banquete, presentes e o véu vermelho sobre o rosto da noiva, típico das bodas tradicionais chinesas. Após forte pressão da família e amigos, aos 31 anos, Zheng (que não tinha namorada há anos)cedeu. Todos ficaram tão felizes com esse casamento, que pouco importava ser a noiva uma mulher ou uma máquina! Bem típico, diga-se de passagem…

A amada, nada perfeita, chamava-se Yingying. Embora soubesse falar e reconhecer objetos ou fotos, não conseguia andar. Mas o “marido” garante que está trabalhando nisso e pensa em viver com ela até que a morte (ou um sério problema de manutenção) os separe. Que romances mais fofos, esses! De derreter corações!

Mesmo porque nem todos têm o amor como parâmetro. O espanhol Sergi Santos queria apenas uma parceira sexual. E tratou de incrementar Samantha, uma robô de sua invenção, que usa Inteligência Artificial para consentir o ato. Inclusive, ela é capaz de distinguir se está sendo tocada de forma agressiva ou desrespeitosa. Senão houver o consentimento, suas mãos e quadris motorizados param de responder e ela pode até entrar em um modo não-responsivo, caso fique entediada. Todavia, a “inteligência” da boneca é um pouco controversa: mesmo sem consentir, não como há ela recusar a relação. Aliás, igualzinha a qualquer mulher de carne e osso!

Samantha foi divulgada com muito sucesso num evento científico em Newscastle, Inglaterra, como a salvação do casamento humano, criada que foi apenas para suprir as “necessidades” maritais, quando a esposa não estivesse interessada. Sei não! A tese me parece por demais machista!

Por falar em problemas de manutenção, há aquela curiosa história do japonês Akihiko Kondo, que ficou “viúvo” de sua “esposa-holograma”, um avatar virtual da cantora (real) Hatsune Miku.Kondoera tão fanático pela artista, que decidiu comprar um avatar virtual dela, desenvolvido pela empresa Gatebox. Aliás, o japonês jamais se ligara a uma mulher de carne e osso: “Tive alguns amores não correspondidos, nos quais sempre fui rejeitado e isso me fez descartar a possibilidade de estar com alguém”, desabafou ele em entrevista à BBC.

A paixão pelo holograma foi tão fatal, que resultou num “casamento”, no qual Akhiko mantinha hábitos comuns aos da relação de um casal, como avisar quando saía para trabalhar e contar como foi o dia. Dois anos depois, a Gatebox, decidiu-se a interromper tal serviço, deixando Kondo sem possibilidade de interagir com sua esposa virtual. Ele, inconsolável, afirma que pensa nela todos os dias!

Envolto em vazio e solidão, Kondo passou a lutar pelo reconhecimento da relação amorosa entre humanos e máquinas. Daí resultou a Associação Fictossexual, criada por ele para estimular a compreensão da atração sexual ou romântica direcionada a personagens fictícias. O caso gerou uma polêmica acirrada. Embora a humanidade esteja vivendo uma fase inédita de ascensão da Inteligência Artificial, ainda não dá para pensar numa relação amorosa híbrida entre homens e máquinas.

E você, toparia coisa semelhante? Como é que encara a questão?…

* Doutora em Letras, com pós-doutorado em Linguística, escritora, conferencista e palestrante, membro eleito da Academia Ribeirãopretana de Letras e da Academia membro fundador da Academia Feminina Sul-Mineira de Letras

 

 

 

 

 

 

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