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O julgamento histórico e a lição bíblica em tempos de crise política

Foto: Arquivo

No dia 11 de setembro, grande parte do Brasil acompanhou, em tempo real, a conclusão do julgamento de oito réus integrantes do chamado “Núcleo Crucial” da tentativa de golpe de Estado, conforme apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Entre eles estavam autoridades de destaque na vida pública nacional: o deputado federal Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin); o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal; o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência (réu colaborador); o ex-presidente Jair Bolsonaro; o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e o general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa.

Poucos países no mundo permitem que o cidadão comum acompanhe, de casa, pela televisão ou pelo celular, um julgamento em sua totalidade perante a mais alta corte. Essa transparência é expressão de um Estado Democrático de Direito em funcionamento. O processo revelou-se, mais uma vez, uma combinação de rigor jurídico, argumentações criativas das defesas, sustentação firme do Procurador e votos fundamentados dos ministros do Supremo Tribunal Federal — permeados, por vezes, por comentários que humanizam a solenidade.

Coincidentemente, a leitura do Evangelho do dia seguinte (Lucas 6,39-42) trouxe à memória a parábola em que Jesus advertiu sobre um cego guiando outro, com o risco de ambos caírem no buraco. E mais: alertou contra a incoerência de quem aponta o cisco no olho do próximo sem antes remover a trave do próprio. Essa passagem ressoa com o momento vivido pelo Brasil, em que paixões políticas frequentemente cegam a razão, dificultando a avaliação equilibrada dos fatos.

Desde a chegada dos portugueses ao território brasileiro, a história nacional tem sido atravessada por escândalos políticos, financeiros e tentativas de golpe. Essas práticas não surgiram por acaso, a lógica da exploração econômica e da concentração de poder, característica do período colonial, deixou marcas que atravessaram séculos e ainda influenciam o pensamento e atitude de pessoas, grupos e o funcionamento de determinadas instituições.

Esse histórico convida a refletir sobre o fenômeno dos “políticos de estimação”: líderes defendidos incondicionalmente, mesmo diante de indícios graves de conduta irregular. Essa postura alimenta a polarização e fragiliza o exercício da cidadania crítica, dando espaço para o avanço de práticas nocivas à democracia.

No caso em questão, os autos trouxeram extenso material probatório: documentos, imagens, gravações,depoimentos, delação premiada e outras evidências que desnudaram uma trama que culminou nos eventos de 8 de janeiro de 2023. O julgamento, além de responsabilizar indivíduos, reafirma a força das instituições brasileiras, que resistiram ao maior ataque já sofrido em sua história recente.

O desafio que se impõe agora é de outra natureza: não se trata apenas de discutir culpados ou inocentes, mas de compreender como evitar que episódios semelhantes voltem a ocorrer. A sociedade precisa refletir, sem paixões ou manipulações, sobre o papel de cada eleitor na preservação da ordem constitucional. É tempo de remover as traves de nossos olhos — sejam elas ideológicas, partidárias ou pessoais — para enxergar com clareza tanto os erros coletivos quanto os individuais.

A garantia da independência e da soberania nacional exige vigilância constante. Divergências políticas, sociais e ideológicas são naturais em uma democracia plural, mas devem ser superadas em nome do bem comum. O amor à pátria, a colaboração, o altruísmo e o compromisso com a justiça social devem prevalecer sobre interesses individuais ou de grupos. É somente pela valorização da Constituição, do Estado de Direito e da diversidade cultural, religiosa e política que o Brasil continuará a se afirmar como uma nação livre e democrática.

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