José Moacir Marin *
A utilização de vacinas é a maneira mais efetiva da humanidade prevenir a disseminação de doenças infecciosas. Uma história que se inicia no século XVIII e prossegue até os dias atuais. Para percorrer este caminho diversas metodologias de produção de vacinas foram utilizadas, sendo a mais recente a utilização de Ácidos nucleicos, mais especificamente o mRNA (RNA mensageiro, uma molécula intermediária na síntese de proteína).
Após a SARS (SevereAcuteRespiratorySyndrome) em 2002 e depois da identificação do Coronavírus SARS-CoV como o seu agente infeccioso, chegou a ser analisada a utilização de partes das proteínas do envelope e da membrana do vírus como possíveis antígenos a serem utilizados em uma vacina. Já nesta época também era conhecido o papel da proteínaspike, localizada no envelope viral como a principal arma de ataque do vírus, sendo a responsável pela fusão do vírus ao receptor da célula humana, apresentando grande antigenicidade (capacidade de induzir a formação de anticorpos) e capacidade de produzir inflamação em tecidos humanos, provocando alterações no sistema sanguíneo.
Com o advento da COVID 19 e a identificação do Coronavírus SARS-CoV2 como seu agente infeccioso, duas vacinas a Spikevax(Modena) e a Corminaty (Pfizer/BioNTech) utilizaram o mRNA da proteínaspike(mRNA-spike) como antígeno, não partes da proteína e sim a informação completa de síntese da proteínaspikee, o mais estranho, uma cópia aperfeiçoada do mRNA-spikeagora denominado mod mRNA-spike.
O mod mRNA-spike foi “humanizado” com a adição ao mRNA de um cap 3’-5’ de 7 metil guanosina(que normalmente é encontrado em um mRNA humano), com a adição de uma longa cauda de poli A 3’ (poliadenosina) (que identifica o mRNA como humano e possui um importante papel para estabilizar a ligação do mRNA no ribossomo, o que permite a síntese da proteínaspike), e com a adição de regiões não transcritas (UTR) do gene da globina humana (o que potencializa a tradução do mod mRNA-spike). Resumindo, estas alterações escondem o mod mRNA-spike das defesas celulares, promovem uma meia vida biológica aumentada para este mod mRNA (dias ou meses ao invés das poucas horas de vida do mRNA-spike do vírus no corpo humano) e aumentam acentuadamente a produção da proteínaspike dentro da célula humana.
O mod mRNA-spike foi envolvido em nanopartículas lipídicas contendo colesterol e fosfolipídeos para proteger o mRNA da degradação por enzimas de defesa que destroem o RNA, as RNAses. Originalmente os fabricantes das vacinas afirmaram que estas nanopartículas lipídicas permaneceriam no musculo deltoide após a injeção, entretanto estudos de biodistribuição revelaram disseminação das nanopartículas por todo o corpo humano, levando a uma produção sistemática de proteínaspike que pode persistir por 6 a 8 meses segundo Patterson e colaboradores, 2024. Lembrando que a proteinaspikepode promover inflamação no fígado ,no rim, no coração, ovários e sistema nervoso. De acordo com Parry e colaboradores, 2023 cada injeção da vacina pode introduzir de 13 a 40 trilhões de moléculas de mod mRNA-spike no corpo humano e cada uma dessas moléculas pode produzir de 10 a 100 moléculas de proteínaspike.
O número e a identidade das células transfectadas após uma injeção são desconhecidos e não existe um método para quantificar a produção da proteinaspike in vivo. Os estudos dos eventos adversos provocados pelas vacinas de mod mRNA-spike estão apenas começando e vai ser um longo caminho a ser percorrido.
* Professor aposentado de Genética e Biologia Molecular da USP/ Campus Ribeirão Preto.

