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O rock’n’roll com sotaque caipira

O rock’n’roll com sotaque caipira

 

Lúcio Mendes

 

O rock ribeirão-pretano vai muito além da programação do festival João Rock. Nos bastidores do som pesado, uma cena underground vigorosa mantiveram acesa a chama da contracultura. É nesse território que bares como o lendário Paulistânia Rock Bar, o Porão e antigas casas como o já saudoso Goa Lounge se tornaram templos alternativos, não apenas para shows, mas para o encontro de tribos, ensaios de banda e discussões sobre o futuro do gênero.

 

 

Neste 13 de julho, Dia Mundial do Rock, Ribeirão Preto crava os dois pés no palco e reafirma seu título informal, mas cada vez mais incontestável, de Capital do Rock do Interior do Brasil. Não é só pelo peso do Festival João Rock, que há mais de duas décadas atrai multidões, artistas consagrados e holofotes nacionais. É porque a cidade respira guitarra, reverbera atitude e mantém vivo um movimento que une gerações em torno da rebeldia e da celebração musical.

 

De Titãs a Pitty -,  passando por Planet Hemp, CPM 22, Charlie Brown Jr. e os Novos Baianos, todos já pisaram no palco principal do João Rock, um festival 100% brasileiro e 100% rockeiro que acontece em Ribeirão Preto desde 2002. O evento nasceu para preencher uma lacuna e acabou criando um marco.

 

Segundo Marcelo Rocci, um dos organizadores do João Rock, o impacto do festival vai muito além da música: “A gente queria mostrar que era possível fazer um festival com identidade própria, valorizando a música nacional e criando uma experiência única. Hoje, o João Rock é uma plataforma de cultura, comportamento, liberdade e diversidade. Ribeirão Preto abraçou esse conceito e se transformou em uma referência. É muito mais que um evento, é um movimento que fortalece a cena e cria conexões reais com o público”.

Rita Lee, ícone do rock nacional, no João Rock (Divulgação João Rock)

Rocci também reforça que a força do João Rock vem da escolha de permanecer fiel às raízes brasileiras: “Temos orgulho de ser o maior festival do país dedicado à música nacional. E isso acontece em Ribeirão Preto, no interior paulista. A cidade entendeu seu papel e se transformou na capital simbólica desse movimento. Aqui, o rock tem endereço, sotaque e história”.

 

Mas o rock ribeirão-pretano vai muito além da programação do festival. Nos bastidores do som pesado, uma cena underground vigorosa mantiveram acesa a chama da contracultura. É nesse território que bares como o lendário Paulistânia Rock Bar, o Porão e antigas casas como o já saudoso Goa Lounge se tornaram templos alternativos, não apenas para shows, mas para o encontro de tribos, ensaios de banda e discussões sobre o futuro do gênero.

 

“Ser roqueiro em Ribeirão é resistir com poesia e distorção”, – define o músico Tiago Adorno, que viu a cena se reinventar ao longo dos anos. Em 2022, ele subiu ao palco do João Rock como integrante de uma das bandas mais icônicas do país, um momento que ele descreve como marcante não apenas pela dimensão do festival, mas pelo simbolismo de estar ali representando a continuidade e a renovação do rock nacional. “Falar sobre o Dia do Rock é revisitar essa caminhada. É entender o rock como linguagem, como atitude, como história e como futuro também”, afirma.

“Ser roqueiro em Ribeirão é resistir com poesia e distorção”, – define o músico Tiago Adorno (Arquivo pessoal)

Entre 2020 e 2024, Adorno atuou como diretor musical da maior rede de escolas de música do mundo, com foco em performance e vivência real de palco. Hoje, lidera projetos que unem criação artística e articulação política, como a proposta do Dia Municipal do Rock em Ribeirão Preto, já protocolada na Câmara Municipal e aguardando aprovação. “Queremos valorizar os artistas locais, reconhecer a relevância histórica da cidade e criar um marco anual de fortalecimento da cena”, completa.

 

Nos anos 1980, – um empresário local teve uma visão que parecia utopia para muitos, mas que hoje soa como prenúncio. Márcio Motta, à frente do icônico Pub 130, sonhava em criar a “Cidade do Rock”, um complexo temático dedicado ao estilo, com bares, estúdios, lojas e uma arena para shows. O projeto, embora nunca tenha saído do papel como planejado, virou lenda na cena cultural da cidade. O Pub 130 não era apenas um bar. Era um ponto de encontro de sonhadores, com uma ambientação inspirada no universo do rock, atendimento personalizado e palco para artistas autorais, um embrião do que poderia ter se tornado uma referência nacional. A ideia ousada de Márcio plantou sementes que ainda ecoam na cena cultural ribeirão-pretana.

 

Essa teia invisível que une as iniciativas consagradas com a energia do underground é o que transforma Ribeirão em algo maior do que uma simples cidade interiorana com um festival famoso. É uma usina cultural de longa duração. É onde adolescentes ainda montam bandas em garagens, onde veteranos resistem em palcos improvisados e onde o rock não se limita a um som, mas a um modo de pensar, livre, crítico e intenso.

 

Além disso, Ribeirão Preto sintoniza o rock até no dial: duas emissoras com programação exclusivamente voltada ao gênero, a 89 FM A Rádio Rock, e a Kiss FM, mantêm repetidoras na cidade, ajudando a espalhar o som pesado pelas avenidas e reforçando a presença do rock no cotidiano dos ribeirão-pretanos.

Nando Reis e Pitty no João Rock (Divulgação João Rock)

Há algo de profundamente autêntico em ouvir uma banda local reinterpretar Raul Seixas com sotaque do interior, entre uma cerveja artesanal e um slam de poesia. Ribeirão Preto, com suas tardes quentes e noites vibrantes, não apenas toca rock. Ela vive o rock.

 

E se todo título precisa de provas, a cidade entrega: gerações de bandas formadas em escolas, shows semanais em espaços alternativos, selos independentes em atividade, gravações autorais rolando em home estúdios, fãs organizando coletivos, e um dos festivais mais importantes do país cravado no seu coração. Poucas cidades no Brasil podem dizer o mesmo com tamanha propriedade. Eventos recentes, na área do Estádio Santa Cruz, o público presenciou shows com bandas lendárias do rock mundial, como Deep Purple, Guns N´ Roses, Iron Maiden e Scorpions.

 

Neste Dia Mundial do Rock, o convite está feito: que tal ampliar a tradicional tríade “sexo, drogas e rock’n’roll” por “chopp, sol e diversão”? Porque aqui, no meio do sertão paulista, o rock não apenas sobrevive. Ele canta alto. E, sim, com sotaque caipira.

 

E a região também merece destaque com o Caipiro Rock, quase trintão, na vizinha Serrana.

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