Tribuna Ribeirão
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O sabiá

Rui Flávio Chúfalo Guião

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Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá,
 As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá”.

 Inspirado nos versos imortais da Canção do Exílio de Gonçalves Dias, sempre pensei que o sabiá fosse um pássaro tipicamente brasileiro. Entretanto, ao preparar esta crônica, descobri que ele ocorre no mundo todo.

Mais de 200 espécies da ave enchem os jardins de vários países com seu canto melodioso. Integrantes da família dos tordos (Turdidae), são chamados de Chiguanco, na América do Sul; rouge-gorge, na França; tordo, em Portugal e na Itália; thrust, na Inglaterra; zorzal na Espanha e robin nos Estados Unidos. No Brasil, existem 19 tipos de sabiás, sendo que um deles, o sabíá-laranjeira (Turdus Rufiventris) é a nossa ave nacional.

A ave nacional existe para representar os valores, a cultura e a biodiversidade de um país, sendo um símbolo de identificação e orgulho nacional, além de um meio para promover a preservação da espécie e do meio ambiente. A escolha pode ser baseada em fatores como a presença da ave em todo o território, sua relevância cultural ou folclórica, suas características que simbolizam qualidades nacionais (como força e liberdade) ou sua ligação com a história e religião do país.

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Curiosamente, várias espécies do pássaro nos visitam, mas, nunca aqui vi um sabiá-laranjeira, que se destaca por seu peito cor de laranja, embora o mesmo seja visto em outros locais da cidade. O sabiá-poca ou sabiá-do-campo, com seu canto altivo, algumas vezes dolente, é o que mais encontramos em nosso jardim, algumas vezes caminhando com seu grande rabo levantado, mostrando galhardia e coragem.

 Como o sabiá habita também as cidades, à medida que o barulho urbano se intensifica, mais cedo ele começa a cantar. Em São Paulo, por exemplo, é comum ouvir seu canto no silêncio da madrugada, canto este destinado a atrair a fêmea e demarcar o seu território.

Além da sua atividade melódica, o sabiá se alimenta de pequenos insetos e espalha as sementes que come. Vivendo cerca de 10 anos, é um efetivo ajudante na preservação ambiental.

Seu nome tem origem tupi e significa “aquele que reza constantemente “, alusão a sua cantoria ininterrupta na fase de acasalamento. Os índios acreditavam que as crianças que ouvissem o seu canto nas madrugadas seriam abençoadas com amor, felicidade e paz.

No outro lado do mundo, os moradoras da Inglaterra e Irlanda consideram o sabiá uma ave sagrada, que os protegem contra energias negativas e é um símbolo de esperança.

A nidificação do sabiá ocorre, em geral, na primavera e no verão, onde a ave constrói um ninho em forma de tigela, utilizando materiais como gravetos, fibras e lama, revestindo-o internamente com materiais macios.

O ninho é construído principalmente em arbustos, árvores de folhagem densa, ou até mesmo em varandas e telhados. A fêmea choca os ovos (geralmente 2 a 4) por cerca de 12 a 14 dias, e tanto o macho quanto a fêmea se revezam na alimentação dos filhotes, que saem do ninho após aproximadamente 17 dias.

Os sabiás, em geral são monogâmicos, formando casais únicos para a vida toda.

A música brasileira tem várias canções cujo tema é o sabiá, escritas por vários autores como Luiz Gonzaga, Rick e Renner, Luiz Tatit, Miguel Marques. Mas, a peça mais famosa é de autoria da dupla Hervê Cordovil e Mário Vieira, feita em 1950, “Sabiá lá na Gaiola”, um clássico da música infantil.

* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras

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