Tribuna Ribeirão
Cidades & Construções

Os desafios de Bonatto na Saerp

Foto: Alfredo RIsk

O engenheiro civil José Rui Infante Bonatto, secretário municipal de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Saerp), ressalta que sua atuação na administração do prefeito Ricardo Silva tem caráter essencialmente técnico — tanto que prefere ser chamado de Engenheiro Bonatto. Especialista em direção de empresas, já comandou o programa de fomento habitacional da Cohab/SP e foi secretário-adjunto de Gestão nos estados de Alagoas e Amapá. 

Em entrevista ao Tribuna Ribeirão, Bonatto falou sobre os principais desafios à frente da pasta, como as recorrentes falhas no abastecimento em diferentes bairros da cidade. O secretário destacou ainda que os avanços dependem do trabalho coletivo, realizado pelos 680 servidores que compõem a Saerp. 

 

Tribuna Ribeirão – O senhor está completando nove meses à frente da Saerp. Quais foram os principais problemas e desafios que o senhor encontrou? 

Engenheiro Bonatto – Quando assumi a Saerp, no início de 2025, encontrei um cenário muito aquém do que Ribeirão Preto merece. A cidade convivia com redes de água e esgoto antigas, poços sem manutenção adequada, além de servidores desmotivados e sem liderança. O prefeito Ricardo Silva me confiou a missão de reverter esse quadro e garantir que a água chegue com qualidade a toda a população, seja na região Central, Norte, Leste, Oeste ou Sul, sem distinção. Já iniciamos esse trabalho com troca de redes e reforço na manutenção dos equipamentos, mas temos um longo caminho pela frente para transformar o abastecimento de Ribeirão Preto em um serviço de qualidade e excelência.  

 

Tribuna Ribeirão – Uma das queixas da população de várias regiões da cidade é a constante falta de água que enfrentam. O que tem sido feito para resolver estes problemas? 

Engenheiro Bonatto – O abastecimento de água é um desafio comum em praticamente todos os municípios do Brasil e não se resolve de forma imediata. Diversos fatores podem provocar a interrupção, como vazamentos não visíveis, falhas em bombas e reservatórios, poços com vida útil ultrapassada, falta de energia elétrica e até mesmo o aumento do consumo durante os períodos de estiagem, como o que enfrentamos atualmente. Ribeirão Preto sofreu ao longo dos anos com a falta de investimentos no setor, mas estamos mudando esse cenário. 

Desde o início da gestão, reorganizamos a Saerp em três linhas de atuação. Em curto prazo intensificamos as ações emergenciais, com reparos, trocas de bombas, manutenções preventivas e corretivas rápidas para evitar a falta de água. No médio prazo estruturamos equipes dedicadas à gestão eficiente dos recursos já conquistados. E a longo prazo fortalecemos o setor de engenharia, responsável por elaborar projetos e buscar novos recursos para ampliar a quantidade de poços, reservatórios e redes. 

 

Tribuna Ribeirão – Em Ribeirão Preto a água captada, regra geral, vai direto para o consumidor. Investir em construção de reservatórios é prioridade de sua gestão? 

Engenheiro Bonatto – Sem dúvida, contudo, mais importante do que investir na construção de novos reservatórios é corrigir o sistema com redes adutoras e inverter o fluxo de água utilizando os reservatórios já existentes. Nesse modelo, eles deixam de ser apenas estruturas de reservação e passam a cumprir também a função de regular a pressão da água, o que garante um abastecimento mais seguro e eficiente.

 

Ribeirão Preto historicamente sempre utilizou o sistema em “marcha” em que a água captada pelo poço vai diretamente para a rede, gerando pressão excessiva, rompimentos e desperdícios. Estamos implantando gradualmente o sistema por gravidade, em que a água é direcionada primeiro para o reservatório, de onde é distribuída de forma mais equilibrada. Isso reduz perdas, vazamentos e traz muito mais estabilidade. Todos os novos projetos já contemplam essa configuração. 

Lançamos recentemente também o SOS Falta d´água que é um plano para agilizar os atendimentos relacionados à falta d´água com atendimento 24 horas e equipes exclusivas para identificar e solucionar o mais rápido possível esse problema que se intensifica no período de estiagem que a cidade enfrenta.  Assim como os poços, os reservatórios estão entre as prioridades da nossa gestão, porque são decisivos para que a cidade tenha um sistema mais moderno e preparado para o futuro. 

 

Tribuna Ribeirão – Constantemente a Saerp divulga intermitência no fornecimento de água em alguma região da cidade em função da necessidade problemas nas bombas de captação. Por que elas quebram e queimam tanto? 

Engenheiro Bonatto Toda bomba possui um tempo de vida útil e, quando a manutenção preventiva não é realizada de forma adequada ao longo dos anos, o desgaste se intensifica e o risco de falha aumenta. Isso compromete a eficiência do equipamento e, em muitos casos, leva à queima, exigindo substituição emergencial. Nessas situações, é necessário paralisar o sistema temporariamente, o que provoca intermitência no fornecimento. 

Hoje, trabalhamos para que esse cenário mude. Com planejamento adequado, cronogramas de manutenção preventiva e substituições programadas, conseguimos reduzir consideravelmente a frequência dessas ocorrências. Sempre que divulgamos avisos de manutenção, isso deve ser entendido como uma demonstração de transparência e do esforço constante da Saerp em atuar de forma rápida para manter o abastecimento regular em toda a cidade. 

 

Tribuna Ribeirão – Quais são os principais investimentos feitos pela Secretaria para diminuir os problemas de vazamentos e de falta de água na cidade? 

Engenheiro Bonatto – Temos realizado investimentos significativos em várias frentes. Somente neste ano, com mão de obra própria, implantamos mais de cinco quilômetros de novas redes de distribuição, substituindo trechos antigos que constantemente apresentavam problemas.  

Estamos avançando em tecnologias modernas de gestão do sistema. Em fase de projeto e implementação estão a macromedição, a pitometria e a automação das unidades de abastecimento, que permitirão monitoramento em tempo real e mais eficiência operacional. Outro destaque é a implantação dos Distritos de Medição e Controle (DMCs), que dividem a rede de distribuição em áreas menores e mais gerenciáveis. Essa divisão facilita o controle de pressões e vazões, ajuda a identificar vazamentos rapidamente, reduz perdas de água e torna todo o sistema mais eficiente e confiável. 

Fizemos a substituição de bombas submersas em poços tubulares profundos aumentando a produção de água em regiões críticas com Alto da Boa Vista, Pq. Ribeirão, Pq. Dos Pinos e Orestes Lopes. Implantamos de distribuição de água por reservatório de montante no Palmares, Castelo Branco e Jd. Paulista. Inauguramos poços tubulares profundos nos Campos Elíseos, Lagoinha e o reservatório no parque Ribeirão. Também está em andamento a licitação para substituição do Poço Tubular Profundo CDHU que apresentou problemas estruturais e perdeu capacidade de produção. Também estão em processo licitatório a perfuração de quatro novos poços, um reservatório e ampliação de redes. O valor total foi de R$ 43 milhões que beneficiarão mais de 350 mil pessoas.  

 

Tribuna Ribeirão – Em que fase está o estudo de viabilidade da captação de água do Rio Pardo? 

Engenheiro Bonatto – Estamos na fase inicial do estudo de tratabilidade da água do manancial superficial visando definir a melhor tecnologia para a Estação de Tratamento de Água. É importante salientar que a captação de água do Pardo não é uma prioridade nesse momento, o estudo sim, para que possamos entender essa alternativa de captação. 

Mas, com o nosso projeto de inversão do sistema direcionando a água do poço ao reservatório, conseguiremos reduzir significativamente as perdas, eliminando a necessidade de construir uma ETA e, consequentemente, gerando economia para os cofres públicos. 

Temos também o “Projeto Sistema Aquífero Guarani Capacidade Máxima, Resiliência e Sustentabilidade para o Abastecimento Público e Privado de Ribeirão Preto”, para continuarmos utilizando o Guarani como fonte exclusiva do abastecimento de Ribeirão Preto de forma segura e sem comprometer o manancial.  

 

Tribuna Ribeirão – Como autarquia o Daerp tinha autonomia financeira. A transformação em secretaria alterou e dificultou processos internos, como a compra de material e a realização das licitações que são eminentemente técnicas? 

Engenheiro Bonatto –Transformar o Daerp em secretaria foi um grande equívoco. Nenhuma cidade do porte de Ribeirão Preto adota esse modelo para a gestão de serviços essenciais como água e esgoto. Esses serviços exigem agilidade, pois lidamos com um recurso vital para a vida das pessoas. Portanto, é crucial mantermos a gestão autônoma sobre os recursos, com plena capacidade de realizar aquisições de materiais e equipamentos de forma direta. Não podemos depender de outra secretaria para conduzir processos licitatórios ou para a compra de maquinário, por exemplo.  

Neste momento, estamos avaliando a melhor forma de tornar a Saerp mais independente, e acreditamos que o modelo de empresa pública é o mais adequado para atender às necessidades de Ribeirão Preto. Essa mudança, determinada desde o início da gestão pelo Prefeito Ricardo, permitirá que a Saerp continue com sua autonomia, preserve os direitos dos servidores e tenha mais condições de captar recursos, o que é fundamental para os investimentos necessários na ampliação e melhoria do abastecimento de água e da coleta de esgoto. Contudo, essa transformação precisa ser feita com cuidado, por meio de um processo de diálogo aberto e profundo estudo, para garantir que a decisão seja a mais acertada para a cidade. 

 

Tribuna Ribeirão – Qual o total de inadimplência no pagamento das contas de água e esgoto atualmente? 

Engenheiro Bonatto – A inadimplência está em torno de 17%, mas estamos com a gestão direcionada para reduzir esse percentual, uma vez que a Saerp necessita de recursos para manter o bom funcionamento do sistema.  

 

Tribuna Ribeirão – O que tem sido feito para diminuir os roubos de fios nos postos e poços da Secretaria? 

Engenheiro Bonatto – Esse era um problema recorrente que causava prejuízos e até interrupções no abastecimento, mas conseguimos avançar bastante. Readequamos a quantidade de vigias armados e implantamos sistemas modernos de monitoramento, com câmeras e sensores, em todas as unidades da Saerp, incluindo poços, estações e reservatórios. Essas medidas já têm surtido efeito positivo, inibindo furtos, vandalismo e outros atos criminosos. Com isso, garantimos mais segurança para o patrimônio público e maior continuidade no fornecimento de água à população. 

 

Tribuna Ribeirão – O que o levou a aceitar o convite do prefeito Ricardo Silva para comandar o Saerp?  

Engenheiro Bonatto – Já trabalhei, em todas as regiões do país, em todas as áreas da engenharia, e tenho experiência com grandes obras e grandes equipes. Quando recebi o convite do prefeito Ricardo, esse chamado veio com uma missão: garantir que todas as casas de todas as regiões da cidade tenham água. Essa missão virou meu propósito. Concretizar essa determinação será uma realização não só profissional como pessoal também. Agradeço ao Prefeito Ricardo por me confiar esse trabalho para que eu possa exercê-lo com todo o meu afinco, de da forma que eu acredito que é o certo. Não estou fazendo isso sozinho, temos excelentes profissionais atuando em todas as áreas da Saerp, desde aquele que desentope uma rede ou o que projeta um poço.  

Quando assumi não imaginava encontrar uma equipe tão competente na área de saneamento básico e com tanta vontade de que as coisas deem certo. Eu não trouxe nenhum profissional para compor minha equipe, o que fiz, foi reorganizar as pessoas, identificando em cada servidor seu potencial de trabalho.  

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