A atual secretária municipal de Infraestrutura de Ribeirão Preto, Juliana Ogawa, é o que se pode chamar de especialista em zeladoria urbana. Natural de Barretos, foi a primeira mulher na história, a coordenar a Zeladoria Urbana da Cidade de São Paulo,
Convidada pelo prefeito Ricardo Silva (PSD) para comandar a pasta responsável pela zeladoria urbana da cidade, Ogawa afirma que, quando chegou em Ribeirão Preto, se surpreendeu com o mato alto em ruas, praças e avenidas, a quantidade de lixo por toda cidade e a iluminação pública deficiente que deixa a cidade escura. “Mas essa era só a parte visível dos desafios que teria que enfrentar e venho enfrentando ao longo desses meses”, destaca.
Com uma estrutura de 205 funcionários, entre servidores municipais e funcionários terceirizados, a Secretaria de Infraestrutura tem entre suas atribuições cuidar de 3 mil quilômetros de ruas e avenidas. Também é responsável pelos serviços de tapa-buracos, recapeamento asfáltico, limpezas de bocas de lobos, manutenções e reparos de galerias de águas pluviais, a zeladoria de próprios públicos e a coleta de lixo, entre outros.
Tribuna Ribeirão – A senhora completou nove meses à frente da Secretaria de Infraestrutura. Como avalia este período à frente da pasta?
Juliana Ogawa – O período foi de grande desafio. Estar à frente da Secretaria de Infraestrutura é cuidar da cidade nos seus menores detalhes, tais como cuidar das bocas de lobo, por exemplo, que intensificamos a limpeza- item que ninguém se lembra, salvo quando chove. Também é cuidar de grandes missões como a Iluminação Pública, que vem nos onerando muito, mas a alegria de cada nova rua com iluminada faz valer a pena.
Tribuna Ribeirão – Quais foram os principais problemas e desafios que encontrou em relação a zeladoria da cidade?
Juliana Ogawa – Quando cheguei em Ribeirão Preto duas coisas me chamaram a atenção: o mato alto, trazendo insegurança para as vias, quer seja pelo viés da mobilidade ou de segurança pública, e a quantidade de lixo. A cidade estava abandonada. No dia primeiro de janeiro, o Calçadão parecia cena de filme de final de mundo, sujo e malcheiroso. Mas essa era só a parte visível dos desafios que teria que enfrentar e venho enfrentando ao longo desses meses. A iluminação pública também era um desafio e continua sendo. Uma cidade escura, para além das questões estéticas, nos traz problemas de segurança pública.
Tribuna Ribeirão – A senhora foi coordenadora da Zeladoria Urbana da cidade de São Paulo. Quais as semelhanças entre os problemas detectados na capital e em Ribeirão Preto?
Juliana Ogawa – A Capital é um desafio enorme, são 12 milhões de pessoas, mais de 17 mil quilômetros de vias, uma gigante e como tal, apresenta problemas gigantes. Em Ribeirão Preto os desafios são menores, mas não menos complexos. Em São Paulo temos uma cidade já preparada para os problemas. Por exemplo, temos inúmeros sistemas que monitoram em tempo real os piscinões e túneis, o SGZ – Sistema de Gestâo de Zeladoria – e o Urano, com sistema de previsão do tempo, com seus pluviômetros próprios e estações meteorológicas para antecipação das chuvas.
Aqui, quase nada é sistematizado, realidade que estamos, aos poucos, mudando. Outra diferença é o orçamento, que é menor, além dos contratos serem subdimensionados- não atendem o quantitativo necessário. Tudo isso faz Ribeirão Preto ser um grande desafio. Equilibrar falta de recurso é sempre problema que precisa de ideias inovadoras e boa fiscalização dos contratos.
Tribuna Ribeirão – Existem projetos e ações que foram desenvolvidos lá que estão sendo ser implementados em Ribeirão Preto?
Juliana Ogawa – Sim, alguns dos projetos que toquei em São Paulo serão trazidos para Ribeirão Preto, tais como o bombeamento emergencial, que libera as ruas alagadas em dia de chuva.
Tribuna Ribeirão – Em Ribeirão Preto existem muitos locais públicos onde são depositados irregularmente detritos e lixos por parte da população. Isso é um problema comum a outros locais onde a senhora já atuou?
Juliana Ogawa – Ribeirão Preto é uma cidade muito suja, o descarte irregular de lixo é bastante comum, infelizmente. Comparativamente, Ribeirão é mais suja que São Paulo, se considerarmos somente os descartes irregulares. Até 2024 eram 48 pontos de descarte irregular em Ribeirão – consideramos locais de descartes irregulares aqueles que acumulam em um curto período, mais de 50 toneladas de lixo.
Infelizmente, o lixo descartado é, quase que na sua totalidade, lixo doméstico. O que não se justifica, já que nessa gestão a coleta porta a porta atingiu 100% de cobertura na cidade. Isso significa dizer que se as pessoas observarem o dia da coleta para colocar o lixo, não há necessidade de jogá-lo em pontos inadequados, que não são as lixeiras ou os ecopontos.
Esse ano conseguimos, com muito esforço, acabar com um ponto de descarte no Jardim Branca Sales, na rotatória da Avenida Patriarca. Foi um esforço conjunto da Secretaria de Infraestrutura, Fiscalização Geral, Secretaria do Meio Ambiente e Guarda Civil Metropolitana. Foram retiradas mais de 180 toneladas de lixo daquele local.
Contudo, mesmo com esse trabalho de combater o descarte irregular de lixo, que é apenas um dos fatores para mitigar essa prática, tem outro fato que não pode ser deixado de lado: o problema não pode ser resolvido sem a colaboração da população. No primeiro semestre foram gastos mais de R$ 41 milhões de reais com o lixo.
Tribuna Ribeirão – Como mudar essa cultura de infrações?
Juliana Ogawa – Esse desafio só pode ser vencido se fortalecermos dois pilares: educação ambiental e fiscalização intensiva. Ambas as atitudes estão sendo implementadas neste governo, a fim de coibir a prática de descarte irregular de lixo, que é crime ambiental. De janeiro a junho de 2025 foram realizadas 140 autuações no município. Em 2024, durante o ano todo, apenas 61. A população precisa se conscientizar que os recursos públicos gastos com o lixo poderiam ser investidos em outros lugares.
Tribuna Ribeirão – Existe uma região específica da cidade com mais incidência de detritos depositados irregularmente?
Juliana Ogawa – A região Norte é recordista em descarte irregular, mas a cidade é suja como um todo. Da região mais rica à região menos favorecida, há descarte irregular de lixo, de todos os tipos de materiais.
Tribuna Ribeirão – Como está a implantação de novos ecopontos?
Juliana Ogawa – Temos previsão de implantação de dois novos ecopontos, que devem acontecer já em 2026, para reforçar a política de tolerância zero, imposta por nosso prefeito Ricardo Silva. Os dois novos ecopontos somar-se-ão aos 8 já existentes pela cidade.
Tribuna Ribeirão – Quais foram as principais ações implementadas nestes dez meses de secretaria?
Juliana Ogawa – Posso destacar duas grandes ações na minha gestão: a regularização dos fios soltos de telecomunicações, que é um problema para a cidade, não apenas visualmente, que é o menos importante, mas por representar riscos para pedestres e motoristas. Iniciamos nesse ano as regularizações, algo que não saia do papel, e até agora já retiramos mais de 14 toneladas de fios inutilizados da região Central. O novo cronograma de limpezas de fios será iniciado em outubro no Parque Ribeirão Preto e posteriormente, no Adão do Carmo Leonel, Vila Albertina e Ipiranga.
Outro feito é o mutirão de zeladoria, um programa que prevê a execução de todos os serviços da Secretaria de Infraestrutura, como podas de árvores, limpezas de bocas de lobo, recolhas de galhos, recolha de lixos, varrições, roçadas e tapa-buracos, tudo de uma única vez. Já realizamos em mais de 15 pontos da cidade, em grandes avenidas, ruas, praças e áreas públicas. O objetivo é levar esse projeto para todos os bairros, nos locais mais necessitados, para melhorar a zeladoria do município.
Nessas ações foram retiradas mais de 104 toneladas de Lixo e roçado mais de 318.000 m² de áreas, por exemplo. Além disso, a limpeza de boca de lobo passou a ser constante, de forma organizada e limpando os principais pontos de alagamentos.
Tribuna Ribeirão – O que a levou a aceitar o convite do prefeito Ricardo Silva para ser secretária de Infraestrutura?
Juliana Ogawa – Quando me chamou para fazer o convite, o prefeito Ricardo Silva disse uma frase que me convenceu: “Quero ser o melhor prefeito que Ribeirão já teve. Se eu tentar e não conseguir, terei conseguido ser um bom prefeito”.
Gosto de desafios e de cuidar das pessoas e quem trabalha comigo sabe que eu costumo dizer que o sorriso no rosto das pessoas é parte importante do pagamento. Tenho recebido muitas mensagens, a maioria de agradecimento, isso é algo precioso. As pessoas precisam ter prazer e alegria nos lugares onde moram. Quando recuperamos uma praça e a entregamos para a população, o sorriso das crianças é algo inacreditável.
Além disso, o prefeito Ricardo Silva buscava alguém com experiência e que aceitasse o desafio de resgatar a cidade, e é isso que me propus a fazer. Estar à frente da Infraestrutura é ter possibilidade de mudar, de fato, a vida das pessoas.

